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Alguém sabe explicar essa?
Pra mim a "a" e a "b" estão corretas também.
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Alice, apesar de verossímeis, as alternativas A e B não correspondem aos transtornos indicados. Você pode checar isso por duas vias:
1 - DSM: tanto a mania quanto o transtorno borderline se caracterizam por uma série sintomas omitidos nas afirmativas (p ex: mania se caracteriza por humor elevado, aumento da energia, autoestima inflada, etc./ já borderline se caracteriza por uma narrativa de abandono, padrões intensos de relacionamento, impulsividades e compulsões, etc). Além disso, é um pouco estranho incluir estados delirantes no transtorno borderline pois o máximo de alusão que existe a isso no DSM é a ideação paranoide, o que não é necessariamente um delírio (pois o delírio tem como característica a incorrigibilidade, sendo que o borderline é capaz de aceitar uma opinião contrária).
2 - A fonte usada pela banca: depois de um pouco de pesquisa notei que as características foram extraídas de outros transtornos e "embaralhadas" para causar confusão nas alternativas, o que é um péssimo hábito dessa banca, gera muita dubiedade sobre seus métodos e a eficácia na seleção dos candidatos. Mas assim consta na fonte, no capítulo 17, Afetividade.
"Mania. Na mania, observa-se uma alegria (euforia, ou melhor, hiperforia) ou irritabilidade patológicas (exaltação afetiva). Tipicamente, há labilidade ou incontinência afetiva."
"Transtorno de personalidade borderline. O transtorno de personalidade borderline caracteriza-se, entre outras coisas, por dificuldade de controle sobre a raiva, havendo com frequência exaltação afetiva, além de labilidade ou incontinência afetiva."
Já as outras características citadas são encontradas em transtornos como "retardo mental" e o TEPT.
A afirmativa C foi construída embaralhando duas seções do capítulo, "contribuições da psicanálise" e "comunicação não-verbal do afeto".
"Comunicação não verbal do afeto. Não é necessário que o paciente nos conte como está se sentindo para podermos avaliar a sua afetividade: o afeto é expresso através da mímica, do olhar, dos gestos, da postura e do tom de voz."
Por fim, a última alternativa é um resumo da seção "Teoria do apego" desse mesmo capítulo.
Fonte: Cheniaux, E. Manual de Psicopatologia. 5ªed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogang, 2015. Pág. 121.
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Gustavo, concordo contigo a respeito de sua crítica ao "embaralhamento" promovido pela banca em diversos casos. Também agradeço por você ter pesquisado a fonte e compartilhado conosco. Entretanto, apesar da (b) e da (c) não condizerem com as respectivas descrições fornecidas pelo livro que você gentilmente nos apresentou, não vejo motivo para a letra (a) ser considerada errada, vamos comparar o que diz a assertiva com a descrição apresentada no manual de Cheniaux:
a) Na mania ocorre, entre outras coisas, dificuldade do controle da raiva, labilidade e incontinência afetiva.
"Na mania, observa-se uma alegria (euforia, ou melhor, hiperforia) ou irritabilidade patológicas (exaltação afetiva). Tipicamente, há labilidade ou incontinência afetiva."
Utilizei as mesmas cores no sintomas correlatos para que possamos visualizar a compatibilidade das afirmações. Forçando um pouco a barra, o único erro que a banca poderia considerar seria uma interpretação quanto ao uso do "e" na assertiva em contraposição ao "ou" no manual. Desta forma, a banca poderia estar indicando que a assertiva erra ao indicar que labilidade e incontinência afetiva seriam duas coisas distintas, quando são sinônimos (como indicado pelo uso do "ou" no manual de referência).
Enfim, foram minhas impressões, mas estou aberto a outras possíveis soluções.
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Hugo, sua crítica é pertinente. Eu iria inclusive além ao destacar a "exaltação afetiva", que é descrita nos dois transtornos, e por isso a confusão é quase inevitável. Essas questões terminológicas são um terreno espinhoso e creio que isso passou ao largo na elaboração da questão, assim como a diferença entre "e/ou" talvez não tenha sido tão seriamente levada em consideração. Mas apesar disso é complicado afirmar que irritabilidade e raiva são a mesma coisa. Não é raro encontrar manuais que diferenciam essas duas construções semânticas, assim como a psicologia sócio-histórica, que faz um trabalho minucioso de diferenciações terminológicas desse tipo. Por exemplo, a diferença entre humores, emoções e sentimentos, assim como irritabilidade, raiva e ódio, são termos que podem ser adequados para determinados tipos de situação, e não para outros. Ambas (irritabilidade, raiva e ódio) estariam no espectro da agressividade, mas se constituem diferentemente. Irritabilidade é uma resposta de indisposição, caracterizada geralmente como um estado de humor, enquanto a raiva seria uma emoção (isto é, algo sentido com algum nível de permanência pelo sujeito, não apenas como resposta, mas algo que "está lá", independente do ambiente, porém menos perene que o sentimento), e já o ódio seria um sentimento (aí temos, além da permanência, um objeto, mais ou menos definido, depositário de tais afetos [inclusive na sócio-histórica todo sentimento é além de tudo uma construção de linguagem, portanto "conta uma história" por assim dizer; desse modo diz-se que o amor é um exemplo de sentimento, diferente da paixão que é uma emoção] e também capaz de "despertar emoções"). Por essa razão você pode dizer que a sintomatologia depressiva inclui irritabilidade, mas não raiva. O depressivo pode responder de maneira agressiva a uma estimulação "invasiva", digamos assim, como alguém que o convida o tempo todo a sair do quarto e fazer algo, mas quase nunca um depressivo sozinho, fechado no quarto, vai sair quebrando a mobília e socando as paredes - um bom indicativo da emocionalidade da raiva (notável no borderline, por exemplo). É claro que o sujeito que foi expulso do quarto pelo depressivo "irritado" pode compreensivelmente interpretar isso como raiva. E a maioria das correntes em psicologia faz pouco caso desse tipo de diferenciação, mas ela é considerada por outras. Sei que provavelmente estou extrapolando o universo simbólico da questão, mas só quero chamar a atenção para essas bobeirinhas úteis, pois nunca se sabe a posição teórica desses examinadores. Perdoe a enorme digressão.