SóProvas


ID
2592799
Banca
CONSULPLAN
Órgão
Prefeitura de Sabará - MG
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                            Dona Valentina e sua dor


      Dona Valentina conseguiu cochilar um pouquinho. O relógio marcava quase cinco da manhã quando ela abriu os olhos. Estava ligeiramente feliz. Sonhou com as goiabeiras de sua casa na roça; ela, menina, correndo de pés no chão e brincando com os irmãos que apanhavam goiabas maduras no pé. Goiabas vermelhas, suculentas, sem bichos. O sonho foi tão real que ela acordou com gostinho de goiaba na boca.

      Fazia um pouco de frio porque chovera à noite, chuvinha fina, boba. Porém, dona Valentina era prevenida: levara na sacola a capa e a sombrinha desmilinguida – mas que ainda serviam. A fila crescera durante a madrugada, e o falatório dos que acordaram cedo, como ela, misturava-se com o ronco de dois ou três que ainda dormiam.

      Fila de hospital até que era divertida – pensava ela. O povo conversava pra passar o tempo; cada um contava suas doenças; falavam sobre médicos e remédios; a conversa esticava, e aí vinham os assuntos de família, casos de filhos, maridos, noras e genros. Valia a distração. Mas ruim mesmo era aquela dor nos quadris. Bastou dona Valentina virar-se na almofada que lhe servia de apoio no muro para a fincada voltar. Ui! De novo!

      Dona Valentina já estava acostumada. Afinal, ela e sua dor nas cadeiras já tinham ido e voltado e esperado e retornado e remarcado naquela fila há quase um ano. O hospital ficava longe; precisava pegar o primeiro ônibus, descer no centro; andar até o ponto do segundo ônibus; viajar mais meia hora nele; e andar mais quatro quarteirões. Por isso, no último mês passou a dormir na fila, era mais fácil e mais barato. Ela e sua dor. A almofada velha ajudava; aprendera a encaixá-la de um jeito sob a coxa e a esticar a perna. Nesta posição meio torta e esquisita, a dor também dormia, dava um alívio.

      O funcionário, sonolento, abriu a porta de vidro; deu um “bom dia” quase inaudível e pediu ordem na calçada:

      – Pessoal, respeitem quem chegou primeiro. A fila é deste lado, vamos lá.

      Não demorou muito, e a mocinha sorridente, de uniforme branco, passou distribuindo as senhas. Todos gostavam dela. Alegre, animada, até cumprimentava alguns pelo nome, de tanta convivência. Dona Valentina recebeu a ficha 03, seria uma das primeiras no atendimento. Quem sabe a coisa resolveria desta vez?

      – Senha número três!

      Dona Valentina ergueu-se da cadeira com a ajuda de um rapaz e caminhou até a sala. O doutor – jovem, simpático – cumprimentou-a e pediu que ela se sentasse. Em seguida, correu os olhos pela ficha, fez algumas perguntas sobre a evolução da dor e os remédios que ela tomava. Daí, preencheu uma nova receita, carimbou e assinou:

      – Olha, dona Valentina, vamos mudar a medicação, essa aqui é mais forte. Mas seu caso é mesmo cirúrgico. O problema é que o hospital não tem condições de fazer a cirurgia de imediato. A senhora sabe: muitos pacientes, falta verba, equipamento, dinheiro curto...

      Ela sentiu um aperto no coração. E um pouco de raiva, raivinha, coisa passageira. Mas o doutor era tão simpático, de olheiras, de uniforme amarrotado, que ela sorriu, decepcionada:

      – Posso marcar meu retorno?

      – Claro, claro, fala com a moça da portaria.

      Dona Valentina e sua dor pegaram os dois ônibus de volta. Pelo menos a chuva havia parado, um sol gostoso aquecia seus ombros através da janela. Fazer o quê? – pensava ela. Esperar mais, claro. Quem sabe um dia os poderosos, os políticos, os engravatados davam um jeito no hospital? E agendavam a cirurgia? E ela se livrava da dor? E poderia brincar com os netos, carregá-los no colo, sem a maldita fincada nas costas?

      De noite, dona Valentina se acomodou no velho sofá esburacado para ver a novela – sua distração favorita que a fazia se esquecer da dor. No intervalo, veio a propaganda: crianças sorrindo, jovens se abraçando, pessoas felizes de todo tipo. A voz poderosa do locutor disse à dona Valentina que tudo ia muito bem, que a vida era boa, que o governo era bonzinho, que trabalhava pelo povo acima de tudo. E que a saúde das pessoas, dos mais pobres, era o mais importante! E que para todo mundo ficar sabendo, o governo preferiu usar a dinheirama nas propagandas em vez de comprar remédios ou equipamentos que faltavam no hospital, por exemplo. Questão de prioridade estratégica da área da Comunicação. O resto poderia esperar – como esperavam, dóceis e conformadas, dona Valentina e sua dor.

(FABBRINI, Fernando. Disponível em: http://www.otempo.com.br/opini%C3%A3o/fernando-fabbrini/dona-valentina-e-sua-dor-1.1412175. Acesso em: 16/12/2016.)

Afinal, ela e sua dor nas cadeiras já tinham ido e voltado e esperado e retornado e remarcado naquela fila há quase um ano. O hospital ficava longe; precisava pegar o primeiro ônibus, descer no centro; andar até o ponto do segundo ônibus; viajar mais meia hora nele; e andar mais quatro quarteirões.” (4º§) De acordo com a classe de palavras, os termos sublinhados se classificam, respectivamente, como:

Alternativas
Comentários
  • Não entendi a parte de "O" primeiro não ser substantivo se o artigo substantiva a palavra...

  • Alguém poderia falara as palavras que estão sublinhadas, não consigo ver.

  • As palavras sublinhadas são: Afinal,; (...); precisa pegar o primeiro ônibus, (...); viajar mais meia hora nele; (...)

    Afinal; primeiro; mais.

     

     

  • Questão ridícula

  • Questão passível de anulação. No caso acima, o "mais" não é conjunção, mas sim pronome indefinido. O "mais" é conjunção quando desempenha o papel da conjunção "e", como na frase: "Comprei maçãs mais bananas", que equivale a "Comprei maçãs e bananas". Contudo, não é este o caso da oração "viajar mais meia hora nele".

  • Afinal--> Adverbio de Tempo 

    Mais --> Conjunções Coordenativas Aditivas

  • A palavra MAIS pode ser CONJUNÇÃO COORDENADA ADITIVA quando expressa a ideia de ADIÇÃO, sendo, assim, o oposto de MENOS:

    Ex: dez mais (pode ser tocado por "menos") quinze são vinte e cinco.

     

    Será PREPOSIÇÃO quando for no sentido de JUNTO COM:

    Ex: Maria saiu mais (junto com) o irmão.

     

    Será ADVÉRBIO quando trasmitir um sentido de maior intensidade ou quantidade:

    Ex: João é o mais alto da escola.

     

    Será pronome indefinido com o sentido de OS OUTROS:

    Ex: Não falarei nada, os mais (os outros) que falem.

     

    Fonte: https://www.normaculta.com.br/mas-ou-mais/

  • acertei por saber que afina l(apesar de ser palavra denotativa) está fazendo o papel de advérbio deslocado. e o primeiro  está fazendo  o papel de adjunto adnominal (numeral, adjetivos e pronomes) de ônibus, no entanto, mais com i conjunção? que eu saiba é mas sem o i que é conjunção coordenativa adversativa quando ela tiver valor de e pode ser considerada aditiva. 

  • Ranulpho Cesare,

    A questão pediu pra responder MORFOLOGICAMENTE, ou seja, falar no seco a classe q aquelas palavras pertencem.

    Se pedisse sintaticamente, seu raciocínio está certo.

  • Afinal,primeiro,mais são as sublinhadas.

  • meu raciocinio foi o seguinte:

    a questao nao esta pedindo a classificaçao das palavras  no contexto dado,e sim a classe gramatical a qual  cada palavra pertence.

  • Uma dica para saber identificar a classe da palavra é trocá-la por outra palavra da mesma classe, vejamos:
     

    -> Afinal pode ser trocado por finalmente, no final
    O primeiro pode ser trocado por o segundo, o terceiro
    E com relação ao mais, este não é pronome indefinido pelo fato de a expressão subsequente não ser indefinida, tendo em vista que não ha indefinição alguma na expressão mais meia hora

     
  • NÃO CONSIGO VER AS PALAVRAS QUE ESTÃO SUBLINHADAS.

  • Fiquei confusa em relação ao artigo "o". Pra mim, ele substantivou a palavra primeiro.

     

  • daniely varela, tenta usar o google chrome que dá certo.

  • O "primeiro" não pode ser substantivo pois já há o substantivo "ônibus" como núcleo da oração.


    Isso acontece pq os adjetivos, artigos, numerais e pronomes só se tornam substantivos quando eles são o núcleo da oração, e isso só ocorre se não houver um substantivo.


    No caso da oração "precisava pegar o primeiro ônibus", o núcleo já é o substantivo "ônibus", então "primeiro" não se torna um substantivo, ele continua sendo um numeral que indica a posição do ônibus.

  • Italo Augusto Martins Moura, sua colocação está correta, mas, o "mais" na oração é advérbio: "...viajar mais meia hora nele...". Perceba como modifica o termo "meia hora" dando a circunstância de intensidade. Eu acho que a banca errou.

  • Analia,você fez uma analise sintática e a questão pede uma analise morfológica,classes de palavras.

  • Quem fez ANÁLISE SINTÁTICA ERROU. A questão esta pedindo ANÁLISE MORFOLÓGICA

  • Hoje, já, afinal, logo, agora, amanhã, amiúde, antes, ontem, tarde, breve, cedo, depois, enfim, entrementes, ainda, jamais, nunca, sempre, doravante, outrora, primeiramente, imediatamente, antigamente, provisoriamente, sucessivamente, constantemente.

  • Gab. B

    Advérbio, numeral e conjunção.

  • Questão nula, o "mais" sublinhado no texto é advérbio e não uma conjunção.

  • Colocar " mais" como conjunção? Kkk ta osso

  • PRIMEIRO não pode ser advérbio por estar em condição de ser flexionado, troque ônibus por van e fica "pegar a primeira van". tbm não pode ser um substantivo pois está associado ao substantivo ônibus, por ai já resolve que o primeiro é numeral e elimina todas as demais alternativas. gabarito: B

  • Esta questão é sobre classe de palavras e deseja saber a classificação de "Afinal", "primeiro" e "mais".

    Afinal de tempo é advérbio; "primeiro" é numeral ordinal e "mais" é advérbio de intensidade.

    A Advérbio, advérbio e pronome.

    Advérbio: palavra invariável que indica circunstâncias. Modifica um adjetivo, um verbo ou outro advérbio.

    Pronome: palavra variável em gênero, número e pessoa que representa ou acompanha o substantivo, indicando-o como pessoa do discurso ou situando-o no espaço e no tempo.

    B Advérbio, numeral e conjunção.

    Numeral: palavra variável que indica uma quantidade exata de pessoas ou coisas ou o lugar que elas ocupam numa série. Refere-se ao substantivo, dando-lhe ideia de número.

    Conjunção: palavra invariável que une orações ou termos semelhantes (de mesma função sintática)

    C Conjunção, advérbio e preposição.

    Preposição: palavra invariável que une dois termos, subordinando um ao outro.

    As preposições essenciais são: a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, per, perante, por, sem, sob, sobre, trás.

    D Conjunção, substantivo e conjunção.

    Substantivo: palavra que usamos para nomear seres, coisas e ideias. Por ser variável, apresenta flexões em gênero, número e grau.

    .

    OBS.: A resposta dada pela banca examinadora foi a letra B, porém, pelo fato de "mais" não ser conjunção, a questão deveria ter sido anulada.

    Gabarito: Letra B

  • Resposta do QC:

    Conjunção: palavra invariável que une orações ou termos semelhantes (de mesma função sintática)

  • A palavra "mais" é advérbio de intensidade. Que banca horrível, esses examinadores não têm nem o 2 grau.

  • Eu fiz poe eliminação, mas não concordo o mais, como conjunção, e sim, como advérbio.