SóProvas


ID
2596834
Banca
CONSULPLAN
Órgão
Câmara de Nova Friburgo - RJ
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                          Fazer nada

             Como a visita de um pássaro nos fez pensar no tempo.


       Conseguimos uns dias de folga e fomos passar um tempo cuidando um do outro. No hotel, em Itatiba, deram-nos o quarto 37, que se abre para um mar de morros verdes, com plantações, pastos, florestas. Fica no piso superior, tem pé-direito alto e uma varanda abraçada por árvores repletas de pássaros. À noite, entrou pela janela um passarinho. Minúsculo, branco no peito e na parte inferior da face, preto no dorso e na metade de cima da cabeça. Entrou pelo quarto, acelerado. Voava junto ao teto e não conseguia baixar até a altura da porta por onde havia entrado. Temíamos que se machucasse. Apagamos as luzes. Ele se acalmou e parou para descansar no toucador. Pulou em pé, no chão. Caminhou um pouco, ofegante. Usamos um chapéu para levá-lo à varanda, onde ficou ainda um tempo, refazendo-se.

      Depois, vimos que deixou de lembrança um cocozinho na nossa cama. De onde teria vindo essa ave? Qual o significado do carimbo de passarinho sobre o lençol? Resisti à ideia de lembrar que excremento de pássaro é sinal de boa fortuna em antigas tradições. Augúrio? Sinal? Ali não havia mistério. Era apenas um bichinho assustado, acelerado demais. Talvez apenas apavorado por haver entrado em um lugar de onde parecia impossível sair. Mais do que um significado oculto, sua visita pode é nos inspirar, quem sabe, uma analogia. Quantas vezes o homem não se debate, na ilusão de que está acuado? Quantas vezes sofre sem perceber que está saturado por estímulos que ele próprio foi buscar? A sensação de que seu tempo é estrangulado, sem se dar conta de que é ele quem cultiva desassossego para si. Um amigo, sobrinho de um sábio do interior, costuma usar a imagem da trajetória errática e vã das formigas para ilustrar a ilusão que acomete o homem em movimentos inócuos e sem sentido, o esforço inútil. Não é à toa que se fale tanto na necessidade de ir com mais calma.

       Afinal, nós nunca aceleramos tanto. Na ilusão de anteciparmos o futuro, roubamos o momento seguinte e deixamos de vivê-lo. Convivemos sem prestar atenção no outro, respiramos com sofreguidão, comemos sem sentir o sabor. Fugimos do presente, o único tempo que existe e sobre o qual criamos a referência para um passado reconstruído na memória e um futuro sonhado. Como parar e fazer nada? Como apenas ser, sem se debater por ter entrado em uma porta estranha? Há quem não consiga relaxar e, simplesmente, fazer nada. Alguém já disse que fazer nada não é a completa falta de ação, mas a ação feita com desapego, sem visar resultado para si mesmo. Há algo de bom em atingir esse momento em que só se é parte da paisagem e não um observador separado. Se ainda quiséssemos procurar um significado para a visita da pequena ave, poderíamos dizer que ela veio trazer o tema para estas linhas que você lê agora. Como se nos dissesse: que bom que vocês conseguiram uns dias de folga e vieram aqui, cuidar um do outro. Sejam bem-vindos a este momento e esqueçam o resto. Fui.

(NOGUEIRA, Paulo. Vida Simples, ed. 37. São Paulo: Abril, 2006. Disponível em http://mdemulher.abril.com.br/revistas/vidasimples/. Edições/037/caminho/conteúdo_237474.shtml.)

Dentre as variantes para o segmento: “Ali não havia mistério.”, assinale a que está de acordo com a correção gramatical caso o vocábulo “mistério” seja substituído por “mistérios”.

Alternativas
Comentários
  • Me corrijam caso esteja errada, mas a B também estaria certa tendo em vista que existia substitui havia, uma vez que o enunciado só se atentou ao fato da correção gramtical se manter e não falou sobre alteração de sentido.

  • "2Concurseira:Foco, fé" o verbo existir é pessoal e deve concordar com o seu sujeito (no caso, mistérios).

    Na ordem direta fica: Mistérios não existiam ali.

  • O verbo haver no sentido de "existir" é verbo impessoal e fica no singular por não ter sujeito. 
    O verbo existir é verbo pessoal, logo, se há sujeito tem que fazer a concordância. "mistérios existem"

  • Enfim, gab: a)

  • O verbo haver no sentido de existir , tempo transcorrido so pode ficar no singular , ele ali esta com sentido de existir entao nao sofreria alteraçoes 

    gabartio A

     

  • Verbo haver é impessoal, não se flexiona.

  • Em: "Ali não havia mistério" o verbo "haver" é impessoal e caso ocorresse a substituição por "mistérios" o verbo permaneceria impessoal, sendo proibido sua flexão. 
    "Ali não existiam/poderia haver/havia mistérios." 
    CORRETA letra A.

  • Verbo Haver no sentido de existir ou tempo transcorrido nao Se flexiona 

    Gabarito A 

  • TER e HAVER no sentido de EXISTIR não tem plural !

  • VERBO "HAVER" NO SENTIDO DE EXISTIR OU ACONTECER, SÃO INVARIÁVEIS.

     a) Ali não havia (EXISTIA) mistérios.        RESPOSTA CERTA.

    JUSTIFICATIVA: O VERBO HAVER ESTÁ NO SENTIDO DE EXISTIR, LOGO MORRE NO SINGULAR.

     

     b) Ali não existia (EXISTIAM) mistérios. 

    JUSTIFICATIVA: O VERBO EXISTIR FLEXIONA PARA CONCORDA COM O SUJEITO.

     

     c) Ali não haviam (EXISTIR) mistérios.    

    JUSTIFICATIVA: O VERBO HAVER ESTÁ NO SENTIDO DE EXISTIR, MORRE NO SINGULAR.

     

     d) Ali não poderiam(PODERIA) haver mistérios. 

    JUSTIFICATIVA: QUANDO HA UMA LOCUÇÃO VERBAL (VERBO AUXILIAR E VERBO PRINCIPAL), O VERBO AUXILIAR FLEXIONA EM NÚMERO COM O VERBO PRINCIPAL, COMO O VERBO HAVER ESTÁ NO SINGULAR O VERBO AUXILIAR DEVERIA FLEXIONAR E FICAR NO SINGULAR.

    ALTERNATIVA "A"

    BONS ESTUDOS!!!

     

     

     

  • OBS: quando o verbo HAVER (impessoal, com sentido de existir) for o verbo principal da uma locução verbal, ele faz com que o verbo auxiliar também fique no singular. EX: "Deve haver aí motivos adicionais, além do desrespeito ao local coletivo."  Logo, a Letra D está incorreta.

  • Ali não havia mistérios. 

  • Ponhamos isso na cabeça:

    O mundo pode virar de cabeça pra baixo, mas o verbo haver no sentido de tempo e de existir, SEMPRE vai ser empregado no SINGULAR

  • GABARITO: LETRA  A

    ACRESCENTANDO:

    verbo HAVER nos sentidos de existiracontecer ou de tempo decorrido é impessoal, ou seja, não possui sujeito. Dessa forma, o verbo HAVER não deve ser flexionado quanto ao número (plural). Isso significa que a flexão do verbo HAVER no pretérito perfeito plural (“houveram”) não existe na nossa língua.

    Veja os exemplos:

    Houve diversas ameaças contra o atual diretor.

    No mês de janeiro houve mais roubos de veículos em Natal do que em todo o semestre passado.

    Houve mais desistências este ano do que no ano passado.

    Dica:

    Da mesma forma que o verbo HAVER, o verbo FAZER no sentido de tempo decorrido ou de fenômenos atmosféricos também é impessoal, ou seja, não tem sujeito e não deve ser flexionado quanto ao número, permanecendo no singular.

    Veja os exemplos:

    Faz oito anos que não ando de bicicleta.

    Agora faz nove graus em São Joaquim.


    FONTE: Por Ma. Luciana Kuchenbecker Araújo https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/houve-ou-houveram.htm

  • Haver, no sentido de existir, é impessoal; não sofre flexão no plural.

    Gabarito A