SóProvas


ID
2613658
Banca
IBADE
Órgão
SEE -PB
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto para responder à questão.


São Paulo 10 de Novembro, 1924

Meu caro Carlos Drummond


[...] Eu sempre gostei muito de viver, de maneira que nenhuma manifestação da vida me é indiferente. Eu tanto aprecio uma boa caminhada a pé até o alto da Lapa como uma tocata de Bach e ponho tanto entusiasmo e carinho no escrever um dístico que vai figurar nas paredes dum bailarico e morrer no lixo depois como um romance a que darei a impassível eternidade da impressão. Eu acho, Drummond, pensando bem, que o que falta pra certos moços de tendência modernista brasileiros é isso: gostarem de verdade da vida. Como não atinaram com o verdadeiro jeito de gostar da vida, cansam-se, ficam tristes ou então fingem alegria o que ainda é mais idiota do que ser sinceramente triste. Eu não posso compreender um homem de gabinete e vocês todos, do Rio, de Minas, do Norte me parecem um pouco de gabinete demais. Meu Deus! se eu estivesse nessas terras admiráveis em que vocês vivem, com que gosto, com que religião eu caminharia sempre pelo mesmo caminho (não há mesmo caminho pros amantes da Terra) em longas caminhadas! Que diabo! estudar é bom e eu também estudo. Mas depois do estudo do livro e do gozo do livro, ou antes vem o estudo e gozo da ação corporal. [...] E então parar e puxar conversa com gente chamada baixa e ignorante! Como é gostoso! Fique sabendo duma coisa, se não sabe ainda: é com essa gente que se aprende a sentir e não com a inteligência e a erudição livresca. Eles é que conservam o espírito religioso da vida e fazem tudo sublimemente num ritual esclarecido de religião. Eu conto no meu “Carnaval carioca” um fato a que assisti em plena Avenida Rio Branco. Uns negros dançando o samba. Mas havia uma negra moça que dançava melhor que os outros. Os jeitos eram os mesmos, mesma habilidade, mesma sensualidade mas ela era melhor. Só porque os outros faziam aquilo um pouco decorado, maquinizado, olhando o povo em volta deles, um automóvel que passava. Ela, não. Dançava com religião. Não olhava pra lado nenhum. Vivia a dança. E era sublime. Este é um caso em que tenho pensado muitas vezes. Aquela negra me ensinou o que milhões, milhões é exagero, muitos livros não me ensinaram. Ela me ensinou a felicidade.

ANDRADE, Mário de. A lição do amigo: cartas de Mário de Andrade a Carlos Drummond de Andrade. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1982, pp. 3-5.

“Mas havia uma negra moça que dançava melhor que os outros.”

A respeito do trecho acima, quanto aos aspectos gramatical, sintático e semântico, analise as afirmativas a seguir.


I. A forma verbal HAVIA, mesmo que a oração a que pertence fosse flexionada no plural, permaneceria no singular.

II. A segunda ocorrência do QUE é uma conjunção integrante.

III. A conjunção MAS poderia ser substituída, sem alteração do sentido original, por CONTUDO.


Está correto apenas o que se afirma em:

Alternativas
Comentários
  • Resposta D

    I - HAVER no sentido de EXISTIR não se flexona no plural.

    II - No caso, o QUE é um pronome relativo. É só substituir por O QUAL, que não perde o sentido.

    III - O MAS é uma conjunção adversativa, como CONTUDO, ENTRETANTO, NO ENTANTO, PORÉM.

    FÉ EM DEUS QUE ELE É JUSTO!

  • Na verdade a segunda ocorrência do 'que' é conjunção comparativa. A primeira ocorrência que é pronome relativo.

  • "Mas havia uma negra moça que dançava melhor que os outros."

    Mas: conjunção coordenativa adversativa;

    Havia: o verbo haver no sentido de existir é impessoal. O verbo está no pretérito imperfeito do indicativo;

    Uma: artigo indefinido;

    Negra: adjetivo;

    Moça: substantivo;

    Que: pronome relativo que se refere à moça;

    Dançava: verbo no pretérito imperfeito do indicativo;

    Melhor: advérbio;

    Que: conjunção subordinativa adverbial comparativa;

    Os: artigo definido;

    Outros: pronome indefinido, mas aqui está fazendo papel de substantivo.

     

    I. A forma verbal HAVIA, mesmo que a oração a que pertence fosse flexionada no plural, permaneceria no singular.

    II. A segunda ocorrência do QUE é uma conjunção integrante.

    III. A conjunção MAS poderia ser substituída, sem alteração do sentido original, por CONTUDO. (CONTUDO TAMBÉM É UMA CONJUNÇÃO ADVERSATIVA)

     

    GAB D

  • I e III.

  • Sobre a frase “Mas havia uma negra moça que dançava melhor que os outros.”, temos as seguintes afirmações:

    I. A forma verbal HAVIA, mesmo que a oração a que pertence fosse flexionada no plural, permaneceria no singular.

    Certo.

    O verbo “haver” é impessoal e por não possuir sujeito ele deve ficar na 3ª pessoa do singular. 

    II. A segunda ocorrência do QUE é uma conjunção integrante.

    Errado. Neste caso, "que" é conjunção subordinativa comparativa.

    Conjunções subordinativas comparativas: têm valor semântico de comparação, analogia, paralelo... 

    São elas: como, assim como, mais... (do)que, menos... (do) que, tão... como (ou quanto), tanto... quanto..., qual ou como (precedidos de tal)... 

    Ex.: Ele come como um leão. (come) 

    "QUE" pronome relativo equivale a O(A) (S) QUAL (IS) Ex.: O livro que eu li é ruim. (que = O QUAL) 

    "QUE" conjunção integrante equivale a ISSO / ESSE (A) Ex.: Estou certo de que você passará nas provas. (= Estou certo DISSO) 

    III. A conjunção MAS poderia ser substituída, sem alteração do sentido original, por CONTUDO.

    Certo.

    Conjunções coordenativas adversativas: têm valor semântico de oposição, contraste, adversidade, ressalva ... 

    São elas: mas, porém, entretanto, todavia, contudo, no entanto, não obstante, inobstante, senão (= mas sim)... 

    Ex.: Não estudou muito, mas passou nas provas. 

    Gabarito: Letra D