SóProvas


ID
2654203
Banca
FCC
Órgão
METRÔ-SP
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A questão abaixo refere-se ao texto seguinte.


    Levante a mão quem nunca teve o azar de ser amado pelas razões erradas. Eis uma experiência capaz de produzir a angústia de quem se depara com um duplo de si mesmo: o espelho do olhar do outro te devolve uma imagem que parece sua, mas na qual você não se reconhece. Claro que ninguém ama com objetividade. O que o amante vê no ser amado é sempre contaminado pela fantasia. Não me refiro, então, à impossibilidade fundamental de complementaridade entre os casais, mas aos encontros que se dão na base do puro mal-entendido. Sentir-se amado por qualidades que o outro imagina, mas não têm nada a ver com você, pode ser muito angustiante. E sedutor. Vale lembrar que a palavra “sedução” indica o ato de desviar alguém de seu caminho: “eis que chega a roda-viva e carrega o destino pra lá”.

  Pensava essas coisas de meu lugar na plateia lotada do Credicard Hall (que nome para um teatro, caramba!), onde fui ver o show de uma de minhas cantoras favoritas no momento: Maria Gadú. Com jeito de moleque, encarapitada no banquinho, de onde não desceu para rebolar nenhuma vez, composições muito pessoais que escapam ao clichê romântico e uma rara sofisticação musical, Maria Gadú parecia não se reconhecer diante do público que – vibrava? Não, vibrar seria compreensível. Delirava? Sim; mas o entusiasmo foi muito além disso. O público ululava desde os primeiros acordes de cada canção, que todos sabiam de cor, mas não conseguiam escutar. A energia com que aplaudiam mais parecia uma fúria, que a timidez da artista só fazia excitar mais e mais. Pareciam todos sedentos por uma experiência musical autêntica, promovida por alguém que não vendesse sensualidade barata, e ao mesmo tempo não se conformavam de não conseguir puxar a cantora para o terreno familiar da vulgaridade e do sex appeal.

   Mas estava espantada com a dimensão do sucesso. Como responderá ao apelo de um público que talvez esteja apaixonado por ela pelas razões erradas? Como não se espelhar na imagem banal de pop star que lhe oferecem? O que é mais difícil de enfrentar, na vida artística: a resistência do público para quem sua obra se dirige ou a fama vertiginosa que alavanca (ops) a carreira de alguns artistas iniciantes para o topo do mercado em algumas semanas?

   Ela diz ter com a música uma aliança impossível de desfazer. Sua intuição musical parece capaz de levá-la muito além da próxima esquina, e a sutil entonação dolorida na voz talvez não permita que ela vire uma espécie de Ivete Sangalo paulistana. O CD de estreia é dedicado à avó Cila. A terceira faixa é uma homenagem fúnebre tocante, uma toada em feitio de oração. Como outro grande compositor negro, Gilberto Gil, Gadú se mostra capaz de reverenciar a força de seus ancestrais. “Se queres partir, ir embora / me olhe de onde estiver”, pede para a avó, contando com a ajuda dos orixás. Quem sabe a forte conexão com sua origem a proteja de se transformar em fast food para a voracidade dos consumidores.

(Adaptado de: KEHL, Maria Rita. 18 crônicas e mais algumas. São Paulo: Boitempo, 2011)

Claro que ninguém ama com objetividade. O que o amante vê no ser amado é sempre contaminado pela fantasia. (1o parágrafo)

Mantendo a correção e a coerência, as frases acima podem ser articuladas em um único período, com as devidas alterações entre maiúsculas e minúsculas, acrescentando imediatamente após “objetividade” o termo

Alternativas
Comentários
  • A questão requer conhecimentos sobre conjunções. A conjunção adequada para o caso seria uma conjunção explicativa que, neste caso, é a conjunção pois. Portanto a alternativa (A) é a correta.
  • Claro que ninguém ama com objetividade. O que o amante vê no ser amado é sempre contaminado pela fantasia.

     

    (o segundo período é a justificativa do primeiro período, o porque que o amante não ama com objetividade)

     

     a) pois, precedido de vírgula. -  Conj. coord. explicativa

     

     b) embora, precedido de vírgula. - Conj. Sub. Adv. concessiva

     

     c) à medida que, seguido de vírgula. - Conj. Sub. Adv de proporcionalidade

     

     d) enquanto, seguido de vírgula. - Conj. Sub. Adv Temporal

     

     e) porém, precedido de vírgula. Conj. Coord. Adiversativa 

     

  • Pois-explicativa

    Gab.A

  • Inicialmente tinha marcado E, pois fiquei com a sensação de oposição entre ambas as frases. No entanto, vale a pena observar a sequência do texto.

     

    Claro que ninguém ama com objetividade. O que o amante vê no ser amado é sempre contaminado pela fantasia. Não me refiro, então, à impossibilidade fundamental de complementaridade entre os casais, mas aos encontros que se dão na base do puro mal-entendido.


    A frase posterior é um comentário à CONCLUSÃO anteriormente exposta. Portanto, alternativa A, correta.

  • Gabarito: A

    As orações "Claro que ninguém ama com objetividade" e "O que o amante vê no ser amado é sempre contaminado pela fantasia" apresentam, entre si, uma relação explicativa/justificativa. Por esse motivo, tal relação seria evidenciada com o emprego de um conector que exprimisse tal valoração. 

    Na opção (A). A  conjunção "pois", precedida de vírgula, mantém a relação inicialmente apresentada entre as orações, validando a seguinte redação: Claro que ninguém ama com objetividade, POIS o que o amante vê no ser amado é sempre contaminado pela fantasia. Portanto, eis o gabarito: letra (A).

     

    Nas demais opções:

    b) a conjunção "embora" expressa matiz semântico concessivo, alterando a relação entre as frases.

    c) a locução conjuntiva "à medida que" expressa ideia de proporcionalidade, assim como o nexo textual "à proporção que".

    d) o conector "enquanto" expressa ideia de temporalidade.

    e) o conector "porém" expressa ideia de adversidade, oposição, e seu emprego prejudicaria a coerência entre as orações.

     

    Fonte: Prof Fabiano Sales (http://professorfabianosales.blogspot.com)

  • Lembrando que orações explicativas são também precedidas por orações imperativas, como na parte: 'Claro que ninguém ama' e depois vem a explicação.

    Só coloquei o comentário porque da facilmente para confundir explicativas e causais.

  • Letra A: O segundo segmento tem uma relação direta de explicação em relação ao primeiro. Assim, o uso de “pois” nesse contexto seria fortuito, antecedido por vírgula, como reza a gramática normativa em casos em que o “pois” tenha essa função.

    Letra B: Os dois segmentos não têm ideias opostas ou que poderiam entrar em confronto, por isso o “embora” não constitui um uso adequado. Alternativa inadequada.

    Letra C: “À medida que” expressa uma proporção, ideia não presente entre os segmentos. Item incorreto.

    Letra D: “Enquanto” pode ter uma ideia temporal ou proporcional dependendo do contexto do período. Entretanto, o excerto apresentado não dá margem para essas significações entre os períodos. Item incorreto.

    Letra E: “Ninguém ama com objetividade” não pode ser objeto de contradição em relação a “ser contaminado com fantasia”, pois os dois segmentos expressam a mesma ideia. Assim, não se poderia utilizar o “porém”.

  • Letra A: O segundo segmento tem uma relação direta de explicação em relação ao primeiro. Assim, o uso de “pois” nesse contexto seria fortuito, antecedido por vírgula, como reza a gramática normativa em casos em que o “pois” tenha essa função.

    Letra B: Os dois segmentos não têm ideias opostas ou que poderiam entrar em confronto, por isso o “embora” não constitui um uso adequado. Alternativa inadequada.

    Letra C: “À medida que” expressa uma proporção, ideia não presente entre os segmentos. Item incorreto.

    Letra D: “Enquanto” pode ter uma ideia temporal ou proporcional dependendo do contexto do período. Entretanto, o excerto apresentado não dá margem para essas significações entre os períodos. Item incorreto.

    Letra E: “Ninguém ama com objetividade” não pode ser objeto de contradição em relação a “ser contaminado com fantasia”, pois os dois segmentos expressam a mesma ideia. Assim, não se poderia utilizar o “porém”.