- ID
- 2696899
- Banca
- Nosso Rumo
- Órgão
- MGS
- Ano
- 2017
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Leia o texto abaixo para responder a questão.
As margens da alegria
Esta é a estória. Ia um menino, com os Tios, passar dias
no lugar onde se construía a grande cidade. Era uma viagem
inventada no feliz; para ele, produzia-se em caso de sonho.
Saíam ainda com o escuro, o ar fino de cheiros desconhecidos.
A Mãe e o Pai vinham trazê-lo ao aeroporto. A Tia e o Tio
tomavam conta dele, justinhamente. Sorria-se, saudava-se,
todos se ouviam e falavam. O avião era da Companhia,
especial, de quatro lugares. Respondiam-lhe a todas as
perguntas, até o piloto conversou com ele. O voo ia ser pouco
mais de duas horas. O menino fremia no acorçoo, alegre de se
rir para si, confortavelzinho, com um jeito de folha a cair. A vida
podia às vezes raiar numa verdade extraordinária. Mesmo o
afivelarem-lhe o cinto de segurança virava forte afago, de
proteção, e logo novo senso de esperança: ao não sabido, ao
mais. Assim um crescer e desconter-se — certo como o ato de
respirar — o de fugir para o espaço em branco. O Menino.
E as coisas vinham docemente de repente, seguindo
harmonia prévia, benfazeja, em movimentos concordantes: as
satisfações antes da consciência das necessidades. Davam-lhe
balas, chicles, à escolha. Solícito de bem-humorado, o Tio ensinava-lhe como era reclinável o assento — bastando a gente
premer manivela. Seu lugar era o da janelinha, para o móvel
mundo. Entregavam-lhe revistas, de folhear, quantas quisesse,
até um mapa, nele mostravam os pontos em que ora e ora se
estava, por cima de onde. O Menino deixava-as, fartamente,
sobre os joelhos, e espiava: as nuvens de amontoada
amabilidade, o azul de só ar, aquela claridade à larga, o chão
plano em visão cartográfica, repartido de roças e campos, o
verde que se ia a amarelos e vermelhos e a pardo e a verde; e,
além, baixa, a montanha. Se homens, meninos, cavalos e bois
— assim insetos? Voavam supremamente. O Menino, agora,
vivia; sua alegria despedindo todos os raios. Sentava-se, inteiro,
dentro do macio rumor do avião: o bom brinquedo trabalhoso.
Ainda nem notara que, de fato, teria vontade de comer, quando
a Tia já lhe oferecia sanduíches. E prometia-lhe o Tio as muitas
coisas que ia brincar e ver, e fazer e passear, tanto que
chegassem. O Menino tinha tudo de uma vez, e nada, ante a
mente. A luz e a longa-longa-longa nuvem. Chegavam. [...]
ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2001
Assinale a alternativa em que TODAS as palavras estão grafadas corretamente.