Pode-se caracterizar a psicologia do trabalho e das organizações em uma perspectiva evolutiva em que cada face se agrega às demais (Sampaio, 1995, 1998; Silva, 1992). A primeira face seria a de uma psicologia aplicada ao trabalho, preocupada com a busca da eficiência e a aplicação dos conhecimentos psicológicos à lógica da produção industrial e da racionalidade instrumental. Seu foco estaria no desenvolvimento de medidas psicológicas e ergonômicas para oferecer condições apropriadas de trabalho que evitem problemas de maladaptação com repercussões na saúde e qualidade de vida do trabalhador.
A segunda face emergiu quando a estrutura das organizações se tornou um ponto importante na compreensão do comportamento humano no trabalho e, portanto, os olhares se voltaram para analisar as contribuições da psicologia. A valorização do comportamento humano no trabalho também teve um papel decisivo no aparecimento desta segunda face, a da psicologia das organizações, quando ajudou a demarcar a temática de comportamento organizacional. Desenvolvimento organizacional e gerencial e mudanças organizacionais passaram a ocupar um lugar de destaque.
A terceira face coincide com a abordagem do trabalho como um fenômeno psicossocial não circunscrito somente às organizações de trabalho. Esta face também adota uma postura crítica em relação à psicologia organizacional, vendo-a como amortecedora das contradições da divisão do trabalho arrefecidas pelo processo de industrialização e do empobrecimento das tarefas (Chanlat, 1993). A eficácia, o desempenho e a produtividade se tornam alvo de críticas. Assume-se uma postura menos prescritiva sobre qual seria o melhor ser humano, o melhor trabalho e o melhor resultado, e passa-se a descrever como é o trabalho, como este se insere no mundo do trabalho, como produz e em que condições. Por essas razões, compreender em profundidade a complexidade que cerca o modo como o indivíduo trabalha se tornou imperativo. Os significados e sentidos do trabalho adquirem importância: por que se trabalha, como se trabalha e para quem se trabalha. A organização é pensada como uma modalidade de inserção da pessoa no mundo do trabalho. Vertentes teóricas diversificadas se aproximam do tema trabalho e fundamentam o estudo deste objeto. A psicanálise, a psicodinâmica do trabalho e as correntes teóricas que discutem a qualidade de vida no trabalho, o bem estar e a saúde foram as mais frequentemente utilizadas como quadros de referências para estes estudos.