Julgamento de utilidade - utilidade econômica, social ou técnica da contribuição dada pelo sujeito à organização do trabalho. O julgamento de utilidade é importante para o sujeito porque lhe confere um status na organização para a qual ele trabalha e, além disso, um status na sociedade (Castel, 1995). O reconhecimento de sua atividade como um trabalho e não simplesmente como um hobby, um passatempo ou um lazer é a condição para obter não somente um salário, mas também para alcançar direitos sociais. O julgamento de utilidade é condição para afiliação à sociedade.
O julgamento estético: o segundo julgamento é proferido pelos pares. Ele não recai apenas sobre a utilidade, mas sobre a beleza do trabalho realizado por um trabalhador. Ele é enunciado sempre em termos estéticos: é um belo trabalho, é uma demonstração elegante, é uma bonita forma de fazer. O julgamento estético conota, primeiro, a conformidade do trabalho realizado às regras da arte, às regras do ofício. É julgamento dos pares, mais severo certamente, o mais valorizado. Seu impacto na identidade é considerável. Reconhecido pelos pares, um trabalhador tem acesso ao pertencimento de uma equipe, de um coletivo, de uma comunidade profissional. O pertencimento é aquilo que pelo trabalho permite conjurar a solidão.
"A busca de reconhecimento encontra nas resistências
hierárquicas sua principal barreira, pois implica
na constatação das falhas do trabalho prescrito e das
imperfeições inerentes à organização do trabalho,
que leva a receios e temores dos dirigentes. Dejours
(2004) adverte que a falta de reconhecimento, que é
tão verbalizada pelo trabalhador, não é considerada
com a devida seriedade e ocupa posição periférica
nas discussões sobre gestão. Entretanto, seu estudo
é fundamental para a cooperação que, por sua vez, é
essencial à produção e produtividade. O autor relaciona
duas formas de reconhecimento: o reconhecimento
baseado em um julgamento de utilidade, proferido
pelos superiores hierárquicos e subordinados e, ainda,
eventualmente, pelos clientes; e o reconhecimento
advindo de um julgamento de estética, proferido
especificamente pelos pares, colegas, membros da
equipe ou da comunidade.
Assim, depende do reconhecimento, o sentido do
sofrimento no trabalho, ou seja, a partir do momento
em que a qualidade do trabalho é reconhecida, o trabalhador
constata que suas dúvidas, decepções e desânimos
têm sentido, o que faz dele um sujeito diferente
daquele que era antes do reconhecimento. Assim, este
irá desempenhar “papel fundamental (...) no destino do
sofrimento no trabalho e na possibilidade de transformar
o sofrimento em prazer” (Dejours, 2001, p. 34)."