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ID
2712856
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
TRT - 1ª REGIÃO (RJ)
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                   Texto I


            Nossa imaginação precisa da literatura mais do que nunca

                                                                LIGIA G. DINIZ – 22 FEV 2018 - 18:44


Vamos partir de uma situação que grande parte de nós já vivenciou. Estamos saindo do cinema, depois de termos visto uma adaptação de um livro do qual gostamos muito. Na verdade, até que gostamos do filme também: o sentido foi mantido, a escolha do elenco foi adequada, e a trilha sonora reforçou a camada afetiva da narrativa. Por que então sentimos que algo está fora do lugar? [...]

      O que sempre falta em um filme sou eu. Parto dessa ideia simples e poderosa, sugerida pelo teórico Wolfgang Iser em um de seus livros, para afirmar que nunca precisamos tanto ler ficção e poesia quanto hoje, porque nunca precisamos tanto de faíscas que ponham em movimento o mecanismo livre da nossa imaginação. Nenhuma forma de arte ou objeto cultural guarda a potência escondida por aquele monte de palavras impressas na página.

      Essa potência vem, entre outros aspectos, do tanto que a literatura exige de nós, leitores. Não falo do esforço de compreender um texto, nem da atenção que as histórias e poemas exigem de nós – embora sejam incontornáveis também. Penso no tanto que precisamos investir de nós, como sujeitos afetivos e como corpos sensíveis, para que as palavras se tornem um mundo no qual penetramos. [...]

      Somos bombardeados todo dia, o dia inteiro, por informações. Estamos saturados de dados e de interpretações. A literatura – para além do prazer intelectual, inegável – oferece algo diferente. Trata-se de uma energia que o teórico Hans Ulrich Gumbrecht chama de “presença” e que remete a um contato com o mundo que afeta o corpo do indivíduo para além e para aquém do pensamento racional.

      Muitos eventos produzem presença, é claro: jogos e exercícios esportivos, shows de música, encontros com amigos, cerimônias religiosas e relações amorosas e sexuais são exemplos óbvios. Por que, então, defender uma prática eminentemente intelectual, como a experiência literária, com o objetivo de “produzir presença”, isto é, de despertar sensações corpóreas e afetos? A resposta está, como já evoquei mais acima, na potência guardada pela ficção e a poesia para disparar a imaginação. [...]

      A leitura de textos literários [...] exige que nosso corpo esteja ele próprio presente no espaço ficcional com que nos deparamos, sob pena de não existir espaço ficcional algum.

      Mais ainda, a experiência literária nos dá a chance de vivenciarmos possibilidades que, no cotidiano, estão fechadas a nós: de explorarmos essas possibilidades como se estivéssemos, de fato, presentes. E a imaginação é o palco em que a vivência dessas possibilidades é encenada, por meio do jogo entre identificações e rejeições. [...]

(Adaptado de:<https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/22/opinion/1519332813_987510.html> . Acesso em: 27 mar. 2018)

Em relação ao texto I, é correto afirmar que

Alternativas
Comentários
  • A literatura – para além do prazer intelectual, inegável – oferece algo diferente. Trata-se de uma energia que o teórico Hans Ulrich Gumbrecht chama de “presença” e que remete a um contato com o mundo que afeta o corpo do indivíduo para além e para aquém do pensamento racional.

  • E) O espaço ficcional dos textos literários é construído a partir da "presença" do leitor.

    O 6° parágrafo do texto comprova que a assertiva é verdadeira.

    "A leitura de textos literários [...] exige que nosso corpo esteja ele próprio presente no espaço ficcional com que nos deparamos, sob pena de não existir espaço ficcional algum." 

     

  •  a) a autora defende que não deve haver adaptações cinematográficas de livros, uma vez que elas fazem com que o espectador sinta que "algo está fora do lugar".

    Errado o que faz nos sentir que algo está fora do lugar é a falta de faíscas que ponham em movimento o mecanismo livre da nossa imaginação.

    _______________________________________________________

     b) ao ressaltar a potência das palavras impressas na página, a autora considera que livros digitais não colocam em movimento o “mecanismo livre da nossa imaginação".

    O texto não fala nada sobre livros digitais

    ______________________________________________________

     c) a literatura oferece dados e interpretações verdadeiros sobre o mundo.

    Errado o que a leitura de textos literários [...] exige que nosso corpo esteja ele próprio presente no espaço ficcional com que nos deparamos

    _______________________________________________________

     d) a literatura não proporciona prazer intelectual, apenas o que a autora chama de "presença".

     Errado a literatura – para além do prazer intelectual, inegável 

    ______________________________________________________________

    GABARITO e) o espaço ficcional dos textos literários é construído a partir da "presença" do leitor.

    "A leitura de textos literários [...] exige que nosso corpo esteja ele próprio presente no espaço ficcional com que nos deparamos, sob pena de não existir espaço ficcional algum." 

  • Que texto gostoso!

    Nenhuma forma de arte ou objeto cultural guarda a potência escondida por aquele monte de palavras impressas na página :) a justificativa é a melhor parte, show!

     

    Enfim, gab letra E: o espaço ficcional dos textos literários é construído a partir da "presença" do leitor.

  • Já testei alguns metódos para acertar esse tipo de questão. Então vou compartilhar o método que eu mais me identifico, qual seja: ELIMINE PALAVRAS.

     

    a)  autora defende que não deve haver adaptações cinematográficas de livros, uma vez que elas fazem com que o espectador sinta que "algo está fora do lugar". (em momento algum a autora falou disso no texto - logo essa alternativa está errada).

     

     b)ao ressaltar a potência das palavras impressas na página, a autora considera que livros digitais não colocam em movimento o “mecanismo livre da nossa imaginação". (em nenhum momento a autora citou livros digitais no texto - logo essa alternativa está errada)

     

     c) a literatura oferece dados e interpretações verdadeiros sobre o mundo. (esse não foi o aspecto tratado no texto, em quase todos os parágrafos a autora tratou de afirmar que a literatura "impulsiona a imaginação", vejamos: " (...)  porque nunca precisamos tanto de faíscas que ponham em movimento o mecanismo livre da nossa imaginação").

     

     d) a literatura não proporciona prazer intelectual, apenas o que a autora chama de "presença". (a autora defende o contrário).

     

     e) o espaço ficcional dos textos literários é construído a partir da "presença" do leitor. (em vários trechos do texto a autora fala dessa "presença", logo essa é a nossa resposta.)

     

    OBS: Esse texto, assim como as alternativas, era mais simples, porém este método funciona também em alternativas mais elaboradas quando ficamos em dúvida entre 2 alternativas. Espero ter ajudado, bons estudos, rumo à posse. 

  • a) ERRADA - a autora jamais diz ou sequer infere que é contra adaptações cinematográficas de livros

    b) ERRADA - a autora nem sequer cita livros digitais, ou especifica livros físicos em sua argumentação

    c) ERRADA - quando a autora fala em "impulsionar a imaginação" infere-se um afastamento da realidade, logo, não há que se falar em "dados" e "interpretações verdadeiras sobre o mundo"

    d) ERRADA -  "A literatura – para além do prazer intelectual", a autora claramente vê prazer na literatura

    e) CERTA - de acordo com Hans Ulrich Gumbrecht, a "presença" é o que remete o indivíduo para um mundo além do pensamento racional