SóProvas


ID
2712880
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
TRT - 1ª REGIÃO (RJ)
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                      Texto II


      “Eu era piloto…

      Quando ainda estava no sétimo ano, um avião chegou à nossa cidade. Isso naqueles anos, imagine, em 1936. Na época, era uma coisa rara. E então veio um chamado: ‘Meninas e meninos, entrem no avião!’. Eu, como era komsomolka*, estava nas primeiras filas, claro. Na mesma hora me inscrevi no aeroclube. Só que meu pai era categoricamente contra. Até então, todos em nossa família eram metalúrgicos, várias gerações de metalúrgicos e operadores de altos-fornos. E meu pai achava que metalurgia era um trabalho de mulher, mas piloto não. O chefe do aeroclube ficou sabendo disso e me autorizou a dar uma volta de avião com meu pai. Fiz isso. Eu e meu pai decolamos, e, desde aquele dia, ele parou de falar nisso. Gostou. Terminei o aeroclube com as melhores notas, saltava bem de paraquedas. Antes da guerra, ainda tive tempo de me casar e ter uma filha.

      Desde os primeiros dias da guerra, começaram a reestruturar nosso aeroclube: os homens foram enviados para combater; no lugar deles, ficamos nós, as mulheres. Ensinávamos os alunos. Havia muito trabalho, da manhã à noite. Meu marido foi um dos primeiros a ir para o front. Só me restou uma fotografia: eu e ele de pé ao lado de um avião, com capacete de aviador… Agora vivia junto com minha filha, passamos quase o tempo todo em acampamentos. E como vivíamos? Eu a trancava, deixava mingau para ela, e, às quatro da manhã, já estávamos voando. Voltava de tarde, e se ela comia eu não sei, mas estava sempre coberta daquele mingau. Já nem chorava, só olhava para mim. Os olhos dela são grandes como os do meu marido…

      No fim de 1941, me mandaram uma notificação de óbito: meu marido tinha morrido perto de Moscou. Era comandante de voo. Eu amava minha filha, mas a mandei para ficar com os parentes dele. E comecei a pedir para ir para o front

      Na última noite… Passei a noite inteira de joelhos ao lado do berço…”

                         Antonina Grigórievna Bondareva, tenente da guarda, piloto


* komsomolka: a jovem que fazia parte do Komsomol, Juventude do Partido Comunista da União Soviética.

(Disponível em: ALEKSIÉVITCH, Svetlana. A guerra não tem rosto de mulher. Tradução de Cecília Rosas. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.)

Referente ao texto II, é correto afirmar que

Alternativas
Comentários
  • Gabarito : Letra B

     

    Fundamento : E meu pai achava que metalurgia era um trabalho de mulher, mas piloto não. O chefe do aeroclube ficou sabendo disso e me autorizou a dar uma volta de avião com meu pai. Fiz isso. Eu e meu pai decolamos, e, desde aquele dia, ele parou de falar nisso. ​

  • A questão de interpretação mais simples/fácil da prova! 

  • Que texto bonito :)

  • Texto muito bonito quase caiu um suor masculino

  • Esse livro e fantástico

  • Trecho retirado do livro A guerra não tem rosto de mulher - Livro por Svetlana Alexijevich.

     

    A história das guerras costuma ser contada sob o ponto de vista masculino: soldados e generais, algozes e libertadores. Trata-se, porém, de um equívoco e de uma injustiça. Se em muitos conflitos as mulheres ficaram na retaguarda, em outros estiveram na linha de frente. É esse capítulo de bravura feminina que Svetlana Aleksiévitch reconstrói neste livro absolutamente apaixonante e forte. Qease um milhão de mulheres lutaram no Exército vermelho durante a Segunda Guerra Mundial, mas a sua história nunca foi contada. Svetlana Aleksiévitch deixa que as vozes dessas mulheres ressoem de forma angustiante e arrebatadora, em memórias que evocam frio, fome, violência sexual e a sombra onipresente da morte.

     

    a) segundo a narradora, em 1936, “era uma coisa rara” uma mulher estar no sétimo ano da escola - extrapolação textual

    b) o chefe do aeroclube autorizou a narradora a dar uma volta de avião com seu pai porque soube que este era contra sua filha tornar-se piloto, pois “metalurgia era um trabalho de mulher, mas piloto não”.

    c) quando o marido da narradora foi para o front, a filha do casal tinha 6 anos de idade - extrapolação textual

    d) a filha da narradora chorava muito quando esta a deixava para ir trabalhar de madrugada - extrapolação textual

    e) na última noite, a narradora ficou ao lado do berço de sua filha porque esta estava doente - extrapolação textual

  • Vai riscando as questões absudas ao quadrado como a Alternativa 'C' e 'E' e analisa as demais.

    "Era coisa rara" o AVIÃO - alternativa A

    "O texto não fala que a filha chorava demais quando a mãe saia para trabalhar" - alternativa D

    Gab. B

  • Que texto lindo *-*

  • Texto lindo. <3

  • Lindo? Texto triste pra caramba. Difícil é seguir adiante na prova após ler isso.

  • GABARITO: B

    ...no aeroclube. Só que meu pai era categoricamente contra. Até então, todos em nossa família eram metalúrgicos, várias gerações de metalúrgicos e operadores de altos-fornos. E meu pai achava que metalurgia era um trabalho de mulher, mas piloto não. O chefe do aeroclube ficou sabendo disso e me autorizou a dar uma volta de avião com meu pai. Fiz isso. Eu e meu pai decolamos, e, desde aquele dia, ele parou de falar nisso.

  • A questão exige conhecimento de interpretação textual.

    a) Segundo a narradora, em 1936, “era uma coisa rara” um mulher está no sexto ano de gestação.

    IncorretaO que era raro é o avião e não a mulher no sétimo ano.Extrapolação .

    b) O chefe do aeroclube autorizou a narradora a dar uma volta de avião com seu pai porque soube que este era contra sua filha tornar-se piloto, pois “metalurgia era um trabalho de mulher, mas piloto não”

    Correta. No quarto período está a parte que justifica esse gabarito. "Só que meu pai era categoricamente contra. Até então, todos em nossa família eram metalúrgicos, várias gerações de metalúrgicos e operadores de altos-fornos. E meu pai achava que metalurgia era um trabalho de mulher, mas piloto não. O chefe do aeroclube ficou sabendo disso e me autorizou a dar uma volta de avião com meu pai. Fiz isso. Eu e meu pai decolamos, e, desde aquele dia, ele parou de falar nisso. Gostou."

    c) Quando o marido da narradora foi para o front, a filha do casal tinha 6 anos de idade

    Incorreta. O texto além de não falar nada da idade da menina ,se pegar de 1936 ate 1941 só se passaram 5 anos.(desnecessário fazer essa conta,mas fiz por curiosidade).

    d) A filha da narradora chorava muito quando esta a deixava para ir trabalhar de madrugada.Extrapolação.

    Incorreta." já nem chorava, só olhava para mim. Os olhos dela são grandes como os do meu marido…"

    e) Na última noite, a narradora ficou ao lado do berço de sua filha porque estava doente. Extrapolação.

    Incorreta. Nada fala de doença no texto.

    GABARITO B

  • Que texto...