SóProvas


ID
2723530
Banca
CONSULPLAN
Órgão
SEDUC-PA
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                     O verbo for


      Vestibular de verdade era no meu tempo. Já estou chegando, ou já cheguei, à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo; meu e dos outros coroas (…)

      O vestibular de Direito a que me submeti, na velha Faculdade de Direito da Bahia, tinha só quatro matérias: português, latim, francês ou inglês, e sociologia, sendo que esta não constava dos currículos do curso secundário e a gente tinha que se virar por fora. Nada de cruzinhas, múltipla escolha ou matérias que não interessassem diretamente à carreira. Tudo escrito ruibarbosianamente quando possível, com citações decoradas, preferivelmente (…)

      Quis o irônico destino, uns anos mais tarde, que eu fosse professor da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia e me designassem para a banca de português, com prova oral e tudo. Eu tinha fama de professor carrasco, que até hoje considero injustíssima, e ficava muito incomodado com aqueles rapazes e moças pálidos e trêmulos diante de mim. Uma certa vez, chegou um sem o menor sinal de nervosismo, muito elegante, paletó, gravata e abotoaduras vistosas. A prova oral era bestíssima. Mandava o candidato ler umas dez linhas em voz alta (sim, porque alguns não sabiam ler) e depois se perguntava o que queria dizer uma palavra trivial ou outra, qual era o plural de outra e assim por diante.

      Esse mal sabia ler, mas não perdia a pose. Não acertou a responder nada. Então, eu, carrasco fictício, peguei no texto uma frase em que a palavra “for” tanto podia ser do verbo “ser” quanto do verbo “ir”. Pronto, pensei. Se ele distinguir qual é o verbo, considero-o um gênio, dou quatro, ele passa e seja o que Deus quiser.

      – Esse “for” aí, que verbo é esse?

      Ele considerou a frase longamente, como se eu estivesse pedindo que resolvesse a quadratura do círculo, depois ajeitou as abotoaduras e me encarou sorridente.

      – Verbo for.

      – Verbo o quê?

      – Verbo for.

      – Conjugue aí o presente do indicativo desse verbo.

      – Eu fonho, tu fões, ele fõe – recitou ele impávido. – Nós fomos, vós fondes, eles fõem.

      Não, dessa vez ele não passou. Mas, se perseverou, deve ter acabado passando e hoje há de estar num posto qualquer do Ministério da Administração ou na equipe econômica, ou ainda aposentado como marajá, ou as três coisas. Vestibular, no meu tempo, era muito mais divertido do que hoje e, nos dias que correm, devidamente diplomado, ele deve estar fondo para quebrar. Fões tu? Com quase toda a certeza, não. Eu tampouco fonho. Mas ele fõe.

(João Ubaldo Ribeiro. Publicado no jornal O Estado de São Paulo, em 23/09/1998.)

Os termos “injustíssima” e “bestíssima” são empregados no discurso expressando um posicionamento definido do autor em relação a situações a que estão relacionados. Morfologicamente, pode-se afirmar em relação a tais termos:

Alternativas
Comentários
  • GAB: A

     

    Trata-se do grau superlativo absoluto: ocorre quando a qualidade de um ser é intensificada, sem relação com outros seres. Apresenta-se nas formas:

     

    Analítica: a intensificação se faz com o auxílio de palavras que dão ideia de intensidade (advérbios). Por exemplo:

    O secretário é muito inteligente.

     

    Sintética: a intensificação se faz por meio do acréscimo de sufixos. Por exemplo:

    O secretário é inteligentíssimo.

  • oi

     

  • Substituir "injustíssima" por "muito justa" não entendi.

  • A letra D remete à flexão de grau do superlativo absoluto, em sua espécie analítica. Nessa, existe a presença de advérbio. Ex: Ele é muito inteligente

     

    A substituição de “injustíssima” por “muito justa” provocaria alteração em relação ao tipo de linguagem empregada no discurso, passando a demonstrar um tipo informal.

     

    Ou seja, é um tipo formal da linguagem.

    A substituição mencionada somente alteraria a compreensão sobre o texto.

  • a) O acréscimo do sufixo “-íssima” à forma do adjetivo está ligado ao uso da variedade formal da língua.  GABARITO

     b) As variantes “-érrimo “-imo” poderiam substituir o sufixo “-íssimo” demonstrando o emprego ultraformal da língua. Só pode usar -érrimo em algumas palavras em latim

     

     c)  A língua coloquial faz uso do sufixo “-íssimo” (variante “-íssima”) com o propósito exclusivo de demonstrar ironia e crítica no discurso apresentado. Errado. Ter este sufixo no adjetivo é formal e não coloquial. O propósito é intensificar e nao a crítica. 

     

     d)  A substituição de “injustíssima” por “muito justa” provocaria alteração em relação ao tipo de linguagem empregada no discurso, passando a demonstrar um tipo informal.

    Errado. Demonstraria um linguagem ainda formal.

     

     

    João ferez, esta forma é adjetivo de grau superlativo absoluto sintético. 

  • João Ferez, acho que a letra D também está correta nesse sentido que você mencionou.

  • Comentário específico sobre a assertiva "B":

    b) As variantes “-érrimo” e “-imo” poderiam substituir o sufixo “-íssimo” demonstrando o emprego ultraformal da língua.

     

    Comentário da assertiva "B": "Érrimo" até poderia substituir "-íssimo" do injustíssimo (ficando injustérrimo), pois injustíssimo concorda com "fama" e fama não está especificada com um artigo, então a concordância pode se dar no masculino, todavia, "bestíssima" deve obrigatóriamente concordar no feminino pois o termo com quem "bestíssima" faz relação está especificado veja: "A prova era bestíssima"

     

    A questão afirma que com essas alterações demonstaria o emprego ultaformal da lingua, se eu colocar "Bestíssimo" não está no emprego formal da lingua, pois fere a regra de concordância, por conseguinte a questão está incorreta.


    Perseverança, concurseiro!!!!!

  • Essa questão aponta para os adjetivos superlativos que classificam-se em : ABSOLUTOS E RELATIVOS.

    ABSOLUTOS dividem-se em:

    ANALÍTICOS: Quando precisam de um advérbio para intensificar um adjetivo.

    Ex: Lucas é muito inteligente.

    SINTÉTICOS: Quando fazemos uso de sufixos.

    Ex: Lucas é inteligentíssimo

    Portanto, temos uma variedade na linguagem formal.

  • TÁ LIGADO!

  • Meu Deus...

  • O sufíxo -íssimo tem função de formar os aumentativos superlativos dos adjetivos: barato: baratíssimo, pobre: pobríssimo... Contudo, o sufíxo: -érrimo tem o mesmo significado: pobre: pobríssimo ou paupérrimo, magro: macérrimo, magríssimo, magérrimo. Viram só? Se eu posso usar tanto o -érrimo quanto o -íssimo, não há mistério, estamos diante de uma variação da língua! Sem papagaiada é a letra A. Qualquer erro, favor me comunique via mensagem, pois dificilmente volto para reler comentários.   

       A nossa hora tá chegando, preparem suas armas, que na hora da batalha até serrote servirá de espada!!! 

  • Sei que não é o foco, mas esse texto é engraçado..kk

  • Acertei porque lembrei dos meritíssimos e digníssimos da vida no direito. Indicativo de que trata-se de uso formal da língua.