Suelen,
"O conceito de defesa maníaca, o que inclui os movimentos psíquicos (fantasias) de reparação e também os de destruição maníaca foi proposto por Klein em um texto apresentado de forma resumida no XIII Congresso Internacional da IPA de 1934, em Lucerna. No início do ano seguinte, foi reapresentado em Londres e, no mesmo ano, publicado no IJPa. O trabalho Uma Contribuição à Psicogênese dos Estados Maníaco Depressivos veio a ser datado como de 35, mas as ideias são de um ano antes, o que será relevante na exposição que se segue.
As fantasias ou condutas a que se aplica o qualificativo “maníaco” implicam sempre e essencialmente processos de negação e de onipotência. Por exemplo, há uma negação onipotente da dependência de bons objetos e, ainda, negação dos danos, em fantasia, a eles causados em função de formas intensamente vorazes e predatórias (sádicas) de amor; indo além, negação dos danos causados em função das raivas geradas pelas decepções e frustrações vividas com estes objetos.
No fundamental, há a negação de fragilidades e carências, defeitos e inadequações do próprio sujeito, e ainda a negação das perdas sofridas e dos estragos e destruições causados por ele; negação, portanto, de suas falhas, de suas faltas e de suas culpas reais ou imaginárias. "
(Há, portanto, defesas maníacas que facilitam e propiciam trabalhos psíquicos, aliviando provisoriamente o psiquismo de um excesso de angústias e desalentos: são defesas que fazem parte dos processos de saúde. Mas há formas da defesa maníaca que realmente os obstruem. Por exemplo, por ocasião de uma morte, a emergência da defesa maníaca pode ajudar na preparação do sujeito para um posterior trabalho de luto. A permanência desta defesa, contudo, impede o luto, interrompe este importante trabalho de restauração psíquica e amadurecimento emocional. Ou seja, uma modalidade de defesa maníaca faz parte dos processos de saúde, a outra dos processos de adoecimento. )
Fonte: A Psicanálise e o sofrimento psíquico na atualidade: uma contribuição a partir de Melanie Klein e D. Winnicott, Cadernos de Psicanálise – SPCRJ, v. 33, n. 1, p. 25-36, 2017