ERRADO.
A primeira parte da assertiva está correta. Dentre os temas "permanentes" da política externa indiana, estão:
1) a promoção da governança mulilateral (como se vê na edição de 2017 do Raisina Dialogues, organizado pelo MRE indiano e promovido com o título "the new normal: multilateralism with multipolarity");
2) segurança alimentar, sendo este o tema mais sensível à política externa indiana nas negociações multilaterais de comércio;
3) segurança energética: diante do crescente consumo energético, estimulado pela expansão da economia indiana, o país vem buscando consolidar relações com a Ásia Central e o Oriente Médio.
O problema está na relação com a China. De fato, há pontos de convergência entre os governos indiano e chinês, como se vê na cooperação dos BRICS e na adesão indiana, como membro fundador, ao Banco Asiático de Investimento de Infraestrutura em 2016 (no qual possui 8.7% do capital subscrito). No entanto, no plano bilateral, as relações sino-indianas passam por momentos de tensão, que envolvem ao menos quatro temas:
1) Disputas fronteiriças, herdadas do período colonial indiano e que já haviam levado a uma guerra sino-indiana, em 1962, além de incidentes menores e escaramuças em 1967 e 1987. Em 2017, houve confronto militar entre tropas chinesas e indianas na fronteira tríplice de Doklam (ou Donglang), que divide Índia, China e Butão;
2) A expansão marítima chinesa sobre o Mar do Sul da China, que coloca em risco a política indiana de aproximação com o Oceano Índico, bem como a segurança energética do país;
3) A intenção de adesão indiana ao Grupo de Supridores Nucleares, que já recebeu apoio de países como EUA, Rússia e Alemanha, mas que vem sendo negada pela China, sob o argumento de que a Índia não é signatária do TNP;
4) A projeção econômica da China sobre o continente asiático, principalmente por meio da Inciativa Cinturão e Rota.
Desde o lançamento da iniciativa, também conhecida como Nova Rota da Seda, a Índia vem obstando a expansão regional chinesa. O projeto da construção de um Corredor Econômico China-Paquistão, lançado no marco da C&R, foi duramente criticado pelo governo Narendra Modi por colocar em risco a soberania indiana. Na recente reunião da Organização para a Cooperação de Xangai (OCX), em junho de 2018, a Índia foi o único dos oito países a recusar-se a endossar a iniciativa C&R na declaração final.
Portanto, a respeito do relacionamento com a China, a “articulação da infraestrutura da Nova Roda da Seda” não é elemento de união entre os dois países. Pelo contrário, a Índia tem se recusado a apoiar a proposta, criticando-a pelo desrespeito à soberania e à integridade territorial.
(Profs. Guilherme Casarões e Bruno Rezende).