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ID
279745
Banca
CONSULPLAN
Órgão
Prefeitura de Resende - RJ
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO III: 

                                            O cajueiro


      O cajueiro já devia ser velho quando nasci. Ele vive nas mais antigas recordações de minha infância, belo, imenso, no  alto do morro, atrás de casa. Agora vem uma carta dizendo que ele caiu.
      Eu me lembro de outro cajueiro que era menor e morreu há muito mais tempo. Eu me lembro dos pés de pinha, do  cajá-manga, da pequena touceira de espadas-de-são-jorge e da alta saboneteira que era nossa alegria e a cobiça de toda a  meninada do bairro porque fornecia centenas de bolas pretas para o jogo de gude. Lembro-me da tamareira, e de tantos  arbustos e folhagens coloridas, lembro-me da parreira que cobria o caramanchão, e dos canteiros de flores humildes,  beijos, violetas. Tudo sumira, mas o grande pé de fruta-pão ao lado da casa e o imenso cajueiro lá no alto eram como
árvores sagradas protegendo a família. Cada menino que ia crescendo ia aprendendo o jeito de seu tronco, a cica de seu  fruto, o lugar melhor para apoiar o pé e subir pelo cajueiro acima, ver de lá o telhado das casas do outro lado e os morros  além, sentir o leve balanceio na brisa da tarde.
      No último verão ainda o vi; estava como sempre carregado de frutos amarelos, trêmulo de sanhaços. Chovera; mas  assim mesmo fiz questão de que Caribé subisse o morro para vê-lo de perto, como quem apresenta a um amigo de outras  terras um parente muito querido.
      A carta de minha irmã mais moça diz que ele caiu numa tarde de ventania, num fragor tremendo pela ribanceira  abaixo, e caiu meio de lado, como se não quisesse quebrar o telhado de nossa velha casa. Diz que passou o dia abatida,  pensando em nossa mãe, em nosso pai, em nossos irmãos que já morreram. Diz que seus filhos pequenos se assustaram;  mas depois foram brincar nos galhos tombados.
      Foi agora, em setembro. Estava carregado de flores.

                                      (Rubem Braga, Cem crônicas escolhidas, Rio, José Olímpio, 1956, pp. 320-22)

Quanto à situação dos fatos narrados no texto, o tempo é apresentado da seguinte forma:

Alternativas
Comentários
  • DOIS PLANOS TEMPORAIS:

    1 - A QUEDA DO CAJUEIRO - ATUAL;
    2 - 
    A INFÂNCIA - O PASSADO REMOTO  
  • Letra (B): o atual que narra a queda do cajueiro; e o remoto ou passado que envolve suas ''boas'' lembranças de infância do local que vivera.

  • A queda do cajueiro não é nem atual, nem remota.

    Para mim, a alternativa correta é a letra C.

  • é uma crônica, assim a tipologia textual é NARRATIVA.na Narração o TEMPO EVOLUI, não é parado igual na descrição. 

    fica nítido que o autor falou do cajueiro:

    1- ( NO PASSADO ou remoto, no  tempo de CRIANÇA DO AUTOR) " Eu me lembro de outro cajueiro que era menor e morreu há muito mais tempo. Eu me lembro dos pés de pinha, do  cajá-manga, da pequena touceira de espadas-de-são-jorge e da alta saboneteira que era nossa alegria e a cobiça de toda a  meninada do bairro porque fornecia centenas de bolas pretas para o jogo de gude. "

    2- PRESENTE/ATUAL ( cajueiro caiu e o autor já é adulto, sendo que no texto fala q seus pais já morreram): " Diz que passou o dia abatida,  pensando em nossa mãe, em nosso pai, em nossos irmãos que já morreram. 

  • Dentro do plano presente há uma carta com a narrativa de um passado recente - e não remoto - da queda do Cajueiro. Questão difícil porque precisamos intuir se o examinador percebeu isso ou não. Pelo visto, não.

  • "A carta diz", tempo verbal no presente. "Passou o dia", "caiu meio de lado", "filhos se assustaram", tempo verbal no passado.