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ID
2815084
Banca
VUNESP
Órgão
MPE-SP
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                 O cansaço democrático


      Quem disse que a democracia era eterna? Ninguém. Mas palpita ainda no coração do homem civilizado a crença de que essa forma de governo estará entre nós até ao fim dos tempos.

      Uma ideia tão otimista seria risível à luz da história do pensamento político. Platão é o exemplo mais extremo: a democracia faz parte de um movimento cíclico de regimes – e, para ele, é uma forma degenerada de governo.

      Depois da democracia, haverá um tirano para pôr ordem no pardieiro; e, depois do tirano, haverá novamente uma aristocracia, que será suplantada por uma timocracia, que será suplantada por uma oligarquia, até a democracia regressar. Nada perdura.

      É precisamente esse pensamento lúgubre que percorre uma moda editorial recente – livros sobre o fim, real ou imaginário, da democracia liberal.

      Em seu recente “How Democracy Ends”, David Runciman lida com os contornos desse hipotético fim: se a democracia chegar ao seu termo, não teremos uma repetição da década de 1930, defende. Não teremos violência de massas, movimentos armados, tanques nas ruas. Vivemos em sociedades radicalmente diferentes – mais afluentes, envelhecidas, conectadas. E, além disso, conhecemos o preço da brutalidade autoritária e totalitária. As nostalgias reacionárias são coisa de jovens: eles desejam o que ignoram e ignoram o que desejam.

      Mas se os “golpes tradicionais” são improváveis, há formas invisíveis de conseguir o mesmo objetivo: pela gradual suspensão da ordem legal; pelo recurso a eleições fraudulentas; pela marginalização dos freios e contrapesos do regime.

      A democracia só sobrevive porque somos capazes de gerir as nossas frustrações quando os resultados nos são desfavoráveis. Essa tolerância diminui de ano para ano.

      E diminui sob o chicote das redes sociais. Runciman acredita que o principal problema do mundo virtual está no poder praticamente ilimitado que os gigantes tecnológicos exercem sobre os usuários.

      Pessoalmente, o meu temor é outro: o poder praticamente ilimitado que os usuários exercem sobre os poderes Executivo, Legislativo e até Judiciário. A democracia representativa, como a expressão sugere, sempre foi um compromisso feliz entre a vontade do povo e a capacidade dos mais preparados de filtrar as irracionalidades do povo.

      O filtro perdeu-se com essa espécie de “democracia direta” que é exercida pela multidão sobre os agentes políticos.

      Para que não restem dúvidas: não acredito em formas de governo eternas. Mas, até prova em contrário, a democracia liberal é o único regime que garante a liberdade política e a dignidade pessoal dos indivíduos, bem como a prosperidade sustentada das suas sociedades. A história ilustra a tese.

      Mas a história do presente também nos mostra que cresce no Ocidente um certo “cansaço democrático”. E que partes crescentes do eleitorado, por ignorância ou desespero, estão dispostas a trocar a liberdade e a dignidade da democracia por expedientes mais radicais e securitários. Por quê?

      Devolvo a palavra a David Runciman. Para o autor, a democracia disseminou-se nos últimos dois séculos porque havia uma narrativa aspiracional a cumprir.

      Era necessário dar voz política a todos os cidadãos (pobres, mulheres, negros etc.) e integrá-los na mesma rede de direitos e deveres (a grande tarefa do pós-Segunda Guerra). Os Estados tinham ainda recursos materiais e institucionais para cumprir com razoável êxito esse programa. Eis a ironia: o cansaço democrático explica-se pelo sucesso da própria experiência democrática.

      Ninguém sabe como será o futuro dessa experiência – para Runciman, a democracia vive a crise da meia-idade. Resta saber se essa crise destrói o casamento ou o torna mais forte.

      É uma boa metáfora. Que convida a outra: o casamento só irá sobreviver se a maioria conseguir redescobrir, com novos olhos, as virtudes que permanecem no lar.

(João Pereira Coutinho. Disponível em:<https://www1.folha.uol.com.br/> . Acesso em: 24 jul 2018. Adaptado)

No contexto dos dois últimos parágrafos, o autor faz referência a “uma boa metáfora”, figura de linguagem que se caracteriza por

Alternativas
Comentários
  • Como sua própria etimologia já indica, a metáfora é a figura de linguagem que transporta a palavra (ou expressão) do seu sentido literal para o sentido figurado. Trata-se de uma comparação que é expressa sem os termos que caracterizam uma comparação. Na metáfora, utiliza-se uma palavra com a intenção de que um sentido implícito nela se destaque e conduza a interpretação do que está sendo dito.

     

    Funciona assim: a comparação “o motorista é lento como uma lesma” torna-se uma metáfora se retirarmos o termo comparativo “lento como”. A frase fica “o motorista é uma lesma”. A palavra “lesma”, que no sentido literal designa o molusco, empresta à frase o sentido figurado de lentidão. Sabemos que não é uma lesma que está ao volante, é uma pessoa, mas ela dirige tão devagar quanto uma lesma se move, e isso permite a criação da metáfora.

     

    Exemplos de metáfora:

     

    Esse problema é só a ponta do iceberg.

    Não existe iceberg algum. Na realidade, o que essa frase quer dizer é que o problema em questão é muito pequeno se comparado aos outros problemas realmente grandes que não estão sendo vistos ou discutidos no momento. É como um iceberg, que sempre tem a maior parte do seu volume submerso, deixando para fora da água um pedaço mínimo.

     

    Esse programa de TV é um ralo de tempo.

    O programa de TV está sendo comparado a um ralo por onde o tempo escoa. Ou seja, o tempo passa sem que a pessoa que assiste a ele se dê conta disso, passa rápido como se fosse água indo embora por um ralo.

     

    Eu não recuso doces, sou uma formiga.

    A pessoa gosta tanto de doces que compara seu paladar ao de uma formiga, e faz isso dizendo que ela é o inseto.

     

    FONTE: https://www.figurasdelinguagem.com/metafora/

  • a) associar, em uma só unidade, expressões que designam sensações relativas a diferentes órgãos dos sentidos. (sinestesia)


    b)aproximar termos contrários entre si, que coexistem e se associam numa mesma expressão.(antítese)


    c) estabelecer relações de similaridade entre termos, com base no compartilhamento de traços comuns de sentido.(metáfora)


    d) atribuir qualificações e ações próprias do ser humano a seres não-humanos, transferindo a estes traços daqueles.(prosopopeia ou personificação)


    e) empregar expressões atenuadas para fazer referências que seriam consideradas chocantes ou grosseiras. (eufemismo)

  • Que baita texto! Bem o que vivemos na democracia brasileira, impressionante.

  • Metáfora é uma figura de linguagem onde se usa uma palavra ou uma expressão em um sentido que não é muito comum, revelando uma relação de semelhança entre dois termos.

    Metáfora é um termo que no latim, "meta" significa “algo” e “phora” significa "sem sentido". Esta palavra foi trazida do grego onde metaphorá significa "mudança" e "transposição".

     

    https://www.significados.com.br/metafora/

  • Letra A - É uma definição de uma figura de linguagem chamada SINESTESIA.

    Ex.:  A noite estava calma e doce.             Sensção do paladar

    Letra B - Aproximar termos contrários entre si é uma ANTÍTESE.

    Ex.: Morte e vida dividem espaço em um hospital.            Ideias contrárias andando juntas em um contexto.

    Letra C - CORRETA

    Letra D -  É uma definição de PROSOPOPÉIA.

    Ex.:  As ondas do mar lamberam minhas pernas.            Lamber é uma comportamento HUMANO.

    Letra E - É uma definição de EUFIMISMO.

    Ex.: Ao invés de falarmos para uma criança que alguém de que ela gosta morreu, podemos usar o eufimismo da seguinte forma:

           Seu papai fez uma viagem e vai demorar muito para voltar.

     

    Espero ter ajudado vocês!!!!

     

  • Letra C

  • Letra - C

    A metáfora consiste em utilizar uma palavra ou uma expressão em lugar de outra, sem que haja uma relação real, mas em virtude da circunstância de que o nosso espírito as associa e depreende entre elas certas semelhanças.

    É importante notar que a metáfora tem um caráter subjetivo momentâneo; se a metáfora se cristalizar, deixará de ser metáfora e passará a ser catacrese (é o que ocorre, por exemplo, com "pé de alface", "perna da mesa", "braço da cadeira").

    Obs.: toda metáfora é uma espécie de comparação implícita, em que o elemento comparativo não aparece.

    Observe a gradação no processo metafórico abaixo:

    Seus olhos são como luzes brilhantes.

    O exemplo acima mostra uma comparação evidente, através do emprego da palavra como.

    Observe agora:

    Seus olhos são luzes brilhantes.

    Nesse exemplo não há mais uma comparação (note a ausência da partícula comparativa), e sim um símile, ou seja, qualidade do que é semelhante.

    Por fim, no exemplo:

    As luzes brilhantes olhavam-me.

    Há substituição da palavra olhos por luzes brilhantes. Essa  é a verdadeira metáfora.

    Observe outros exemplos:

    1) "Meu pensamento é um rio subterrâneo." (Fernando Pessoa)

    Nesse caso, a metáfora é possível na medida em que o poeta estabelece relações de semelhança entre um rio subterrâneo e seu pensamento (pode estar relacionando a fluidez, a profundidade, a inatingibilidade, etc.).

    2) Minha alma é uma estrada de terra que leva a lugar algum.

    Uma estrada de terra que leva a lugar algum é, na frase acima, uma metáfora. Por trás do uso dessa expressão que indica uma alma rústica e abandonada (e angustiadamente inútil), há uma comparação subentendida: Minha alma é tão rústica, abandonada (e inútil) quanto uma estrada de terra que leva a lugar algum.

     

    Fonte: https://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil2_2.php

  • Gabarito: C

    Questão comentada: https://youtu.be/AFDDgORIBu0

    Dicas e Materiais https://detonandoquestoes.blogspot.com

  • a) sinestesia

    b) antítese

    c) metáfora

    d) prosopopeia

    e) eufemismo

  • GAB. C)

    estabelecer relações de similaridade entre termos, com base no compartilhamento de traços comuns de sentido.

  • gab c! metáfora. (ps. comparação sem conectivos)

    c)

    estabelecer relações de similaridade entre termos, com base no compartilhamento de traços comuns de sentido.