Aprimorar, sempre. Catástrofe, jamais
Sérgio Pardellas
Em tempos de fake news, da efervescência dos debates nas redes sociais e do alcance quase infinito do whatsapp, uma
idiossincrasia deletéria ao processo democrático se estabeleceu: as pessoas em geral, agrupadas em bolhas, não querem mais se
informar. Estão interessadas em ler e ouvir apenas aquilo que se ajusta ao que elas acreditam.
E ponto final. Da esquerda à direita, passeando pelo que se convencionou chamar de centro do espectro político, quase ninguém
escapa incólume. Cara de um, focinho do outro. Se a notícia é contra o político do meu coração, é “fake news”. O repórter, logo, é
tachado de “golpista”, “coxinha”, “direitista”, “esquerdopata” ou “comunista”. Se a reportagem atinge em cheio a reputação do adversário,
a ordem é disseminá-la sem dó, com pitadas de crueldade se necessário for. Como pau que dá na esquerda, logo dá na direita ou no
“centro”, um inimigo comum foi eleito: a mídia. Ou “a grande mídia”.
Assim, o whatsapp virou a principal fonte de informação de oito em cada dez brasileiros. Deu no “zap”, pronto. O incauto vai lá e
crava: é real. Alguém ouviu o galo cantar, ninguém sabe onde, mas “assim é, se lhe parece”, como a peça de Luigi Pirandello. Não
importa o transmissor, se a gramática foi maltratada, se guarda verossimilhança com a realidade ou não. A pessoa dispara para os
seus, formando uma espécie de corrente interminável de beócios que se retroalimentam. Muitas vezes não faz qualquer sentido, não
junta lé com cré.
O pior é quando o texto embute uma _______ bem empacotada. É onde mora o perigo. O segredo do sucesso é a mensagem
e, se ela soa como música aos ouvidos do freguês, vira verdade.
A pena do jornalista já foi mais respeitada. É uma pena, mas não só. Querer sufocar a imprensa, editorial ou economicamente,
constitui prejuízo inegável à democracia. Do lado de cá, _______ é fundamental. A mídia exagera, beatifica e _______ na mesma
velocidade, _______ e também comete erros – contra o seu político preferido, mas contra quem você odeia também. Mas não aposte
no contrário: sempre houve muito mais acertos e jornalista que é jornalista gosta mesmo é de notícia. Ou de análise, sem torcida,
embora imparcialidade total não exista. Cabe ao leitor filtrar. Ou ao veículo, se for o caso, admitir um lado. É um bom debate. O fato
insofismável é que o processo de apuração e divulgação da notícia pode até ser falho, nem sempre justo, mas ainda não inventaram
modelo mais eficaz.
O filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard escreveu, nos estertores da vida, que ensinaria às pessoas como produzir uma
catástrofe. Embora tivesse sido um crítico do periódico satírico-iluminista O Corsário e da mídia durante alguns momentos de sua
existência, Kierkegaard criou, no fim do século XIX, O Instante, semanário pelo qual alertava o cidadão sobre os problemas da cultura
de sua época. A ruína da imprensa, sabia bem ele, poderia representar o primeiro passo rumo à catástrofe.
(Disponível em:https://istoe.com.br/aprimorar-sempre-catastrofe-jamais/>.)
O sentido da palavra “idiossincrasia” no texto é o de: