SóProvas


ID
2842993
Banca
UFTM
Órgão
UFTM
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                  O racismo é sempre dos outros

                                                                                           Alexandra Loras


      Antes que barulhentos defensores do jornalista William Waack me acusem — como fizeram com muitos críticos — de agredir direitos individuais ou de promover ato de covardia ressentida, é preciso dizer com clareza: o que está em questão não é só se Waack é racista ou se cometeu atos racistas em sua bem-sucedida e respeitada carreira jornalística. É, sim, se seu gesto vazado em vídeo constitui atitude racista.

   Este me parece ter sido seu erro fundamental: o comentário foi desrespeitoso e claramente racista. Waack pode até ser brilhante, mas cometeu mais do que um deslize numa conversa privada, sem saber que se tornaria pública.

    O fato é que ele fez piada racista e se referiu a pessoas negras de forma pejorativa. Repetiu uma frase com que nós, negros, nos deparamos cotidianamente: “Coisa de preto”. Um insulto com ar de leveza e humor, mas acima de qualquer coisa um insulto racial.

    “Coisa de preto”, no sentido usado pelo jornalista, equivale às pequenas violências simbólicas enfrentadas no dia a dia pelos negros. Passamos a vida ouvindo piadas e brincadeiras de mau gosto, por exemplo, sobre ter cabelo crespo como sendo “duro” ou “ruim”.

    O mais importante nessa polêmica é o quanto o racismo na fala de Waack representa o racismo estrutural brasileiro. Com um agravante: aqui no Brasil há uma tradição que sempre põe o ‘mal’ no outro.

  O pecado corrente é o do vizinho, jamais o nosso; agressores são os outros, nunca nós mesmos; apontamos o dedo e atacamos atos e gestos racistas como o do jornalista, mas ignoramos práticas igualmente racistas ao nosso redor, até dentro de nós mesmos. São mais sutis, porém tão ou mais violentas e danosas quanto a de Waack.

   O episódio diz muito sobre a forma brasileira de expressar o racismo. É como se o Brasil não fosse racista, mas um país onde existe racismo. Esse tipo de visão acaba reforçando a ideia de que o racismo só aparece em atitudes como a de Waack, e no riso conivente do jornalista que aparece no vídeo ao seu lado. Nenhum jornalista comentou isso. Ignora-se, assim, um complexo sistema de opressão, que nega direitos essenciais aos negros.

   Como afirmou Djamila Ribeiro, ex-secretária-adjunta de Direitos Humanos de São Paulo, basta ligar a TV e contar: quantas pessoas negras são apresentadoras? Nas universidades, quantos professores são negros? Quantos negros há em cargos de chefia? Nada disso é “coisa de preto”?

    A indignação não pode se resumir à reação ao comportamento de Waack, sob pena de transformarmos o debate sobre o racismo brasileiro numa discussão cosmética a respeito de gestos isolados.

    Chama a atenção que só colegas brancos tenham reagido em defesa do jornalista. E mais: o privilégio do homem branco é tamanho que, nos EUA ou em países da Europa, ele teria sido demitido e processado diante do racismo exposto em sua atitude.

   Só produziremos um debate real quando brancos perceberem que gestos isolados dizem respeito a um problema estrutural, do qual fazem parte seus privilégios e o seu racismo não revelado. É preciso mostrar que “coisa de preto” não é fazer o barulho que tanto incomodou Waack, muito menos tem a ver com a malemolência tão tristemente retratada pela historiografia nacional como um traço do negro.

   “Coisa de preto”, isto sim, diz respeito à sua enorme riqueza cultural, ao trabalho árduo de quem ajudou a construir este país como Oscar Freire, André Rebouças, Teodoro Sampaio, Machado de Assis. Que alguém me mostre uma igreja, uma estrada ou um edifício que não foi construído por negros no Brasil. É nosso dever mudar a narrativa preconceituosa de nossa época.


(Folha de São Paulo, 19/11/2017)

Releia o trecho “Waack pode até ser brilhante, mas cometeu mais do que um deslize numa conversa privada, sem saber que se tornaria pública...” e assinale a alternativa em que a colocação do pronome oblíquo se justifica pelo mesmo motivo, segundo a norma culta:

Alternativas
Comentários
  • Alternativa: A

    No trecho o pron. oblíquo está anteposto ao verbo sendo precedido pelo QUE( que sendo o que for) é fator atrativo de próclise e além disso o pronome oblíquo está na 3° pessoa.

  •  Mas se é para assinalar a alternativa em que a colocação do pronome oblíquo se justifica pelo mesmo motivo, não seria a letra D (Há professores que nos marcam para sempre)? Pois o pronome oblíquo também está anteposto ao verbo sendo precedido por um pronome relativo.

  • o pronome está na 3 pessoa do singular..entao nas alternativas temos que ver qual pronome está na terceira pessoa do singular ..a resposta é a letra A porque o lhe é primeira pessoa do singular assim como está no enunciado

  • Não entendi, o correto não seria letra D?

  • Não seria letra C, próclise!

  • Pessoal, o POA não está sendo atraído por uma Conjunção Subordinativa?

    "Que" Conjunção Subordinativa Integrante e "Conforme" Conjunção Subordinativa Conformativa?

  • Renata Da Silva Beyruth Borges,


    O que isso tem a ver?

  • conjunção subordinativa QUE e CONFORME

  • Sinceramente não entendi. Não seria alternativa D?

    "Waack pode até ser brilhante,mas cometeu mais do que um deslize numa CONVERSA privada, sem saber que se tornaria pública..."


    Bem, ao meu ver se trata de PRÓCLISE > PRONOME RELATIVO (que) ANTES DO VERBO.

    Por que esse 'que' é um p. relativo e não uma conjunção??

    Para saber a diferença basta trocar pelo correspondente ( o qual, a qual, as quais... )


    Então, a colocação do pronome obliquo é pelo fato do PRONOME RELATIVO!

    Outro exemplo: Identificaram-se duas pessoas que se encontravam desaparecidas.


    Agora vamos à Alternativa D:


    Há professores que nos marcam para sempre.


    Há professores [os quais] nos marcam para sempre.


    Sendo assim, 'que' também um PRONOME RELATIVO, ou seja, é a alternativa em que a colocação do pronome obliquo se justifica pelo mesmo motivo.



    A alternativa C está incorreta, pois a colocação do pronome relativo foi pelo fato de ter uma palavra com SENTIDO NEGATIVO ANTES DO VERBO (NADA).

    Outro exemplo: Não se esqueça de mim.


    Só não sei explicar a B e a A. rss.. Se eu estiver viajando, me corrijam por gentileza!


    vlw!




  • Não entendi e concordo com a Yasmin Cunha, PRÓCLISE PRONOME RELATIVO (que) ANTES DO VERBO.

    Vou fazer questóes da FCC e Cespe,cansei de me estressar!

  • Pessoal!

    Vamos observar o comentário do Concurseiro Goiano!, pois ele está certo em sua análise.

    Vejamos:

    A questão pede a colocação do pronome oblíquo que se justifica pelo mesmo motivo em "Waack pode até ser brilhante, mas cometeu mais do que um deslize numa conversa privada, sem saber que se tornaria pública...".

    Sem saber o quê?

    RESPOSTA: ISSO = Isso se tornaria pública...

    Na alternativa A "Vamos estabelecer critérios, conforme lhe avisaram", o Pronome Oblíquo Átono está sendo atraído por uma Conjunção Subordinativa.

    Resumindo...

    Em "Que" Conjunção Subordinativa Integrante.

    Em "Conforme" Conjunção Subordinativa Conformativa.

    Forte abraço!

  • Aaaaaaah "mizeravi" acho que entendi!!!


    Vou diminuir essa frase um pouquinho, fica melhor.


    "Waack cometeu mais do que um deslize numa CONVERSA privada, SEM SABER que se tornaria pública..."

    ( sem saber oq?? Que se tornaria pública ( que isso se tornaria pública) , ou seja, vc consegue substituir por um pronome.


    Outro exemplo que vi na aula da professora aqui do QC:


    Quero (que) me traga de presente um relógio. (Quer oq?? (quero ISTO)

    Percebam que a oração substantiva pode ser substituída por um pronome.


    Eu tinha colocado um outro exemplo no meu comentário anterior para mostrar o 'que' como pron. relativo. Percebam a diferença do exemplo que dei para esses.



    Identificaram-se duas pessoas que se encontravam desaparecidas.

    Tem como eu perguntar: "Identificaram-se oq??" Não, né! Fica bizarro, então nada a ver eu ter colocado essa frase como exemplo. Sendo assim, obviamente o 'que' nessa frase é um pron. relativo e não uma conjunção. Com isso,

    a colocação do pronome obliquo no enunciado é pela CONJUNÇÃO SUBORDINATIVA, sendo uma integrante e outra conformativa.


    #taquipariu... treinar essa benção até chorar sangue. Confunde real! ¬¬'


    Obrigada, Antonio da Silva!

  • Aaaaaaah "mizeravi" acho que entendi!!!


    Vou diminuir essa frase um pouquinho, fica melhor.


    "Waack cometeu mais do que um deslize numa CONVERSA privada, SEM SABER que se tornaria pública..."

    ( sem saber oq?? Que se tornaria pública ( que isso se tornaria pública) , ou seja, vc consegue substituir por um pronome.


    Outro exemplo que vi na aula da professora aqui do QC:


    Quero (que) me traga de presente um relógio. (Quer oq?? (quero ISTO)

    Percebam que a oração substantiva pode ser substituída por um pronome.


    Eu tinha colocado um outro exemplo no meu comentário anterior para mostrar o 'que' como pron. relativo. Percebam a diferença do exemplo que dei para esses.



    Identificaram-se duas pessoas que se encontravam desaparecidas.

    Tem como eu perguntar: "Identificaram-se oq??" Não, né! Fica bizarro, então nada a ver eu ter colocado essa frase como exemplo. Sendo assim, obviamente o 'que' nessa frase é um pron. relativo e não uma conjunção. Com isso,

    a colocação do pronome obliquo no enunciado é pela CONJUNÇÃO SUBORDINATIVA, sendo uma integrante e outra conformativa.


    #taquipariu... treinar essa benção até chorar sangue. Confunde real! ¬¬'


    Obrigada, Antonio da Silva!

  • Letra A

  • GABARITO: A



     sem saber que se tornaria pública... ( o que pode ser trocado por ISSO, logo, é uma conjunção integrante )


    Vamos estabelecer critérios, conforme lhe avisaram... ( Conforme é uma conjunção subordinativa conformativa )


    ambos os casos temos CONJUNÇÃO que é um dos fatores de atração.

  • Neste caso a palavra "QUE" não está desempenhando papel de pronome relativo, mas sim de conjunção.

    Como diz o professor Andresan, em língua portuguesa o "quê" pode ser tudo.

    Agora vou estudar as funções do "quê" para não errar mais.

  • típica safadeza de banca fdp,aquela q premia mais alguém que chutou sem nenhuma ideia pq nao estudou,e ferra aos que estudaram coloção pronominal fazendo confusão entre conjução e pronome relativo...

  • Muito astuto do examinador.

    Ele quer a mesma alternativa que age como oração subordinada: conjunção integrante

  • conforme conjunção atrai a ploclise

  • “Waack pode até ser brilhante, mas cometeu mais do que um deslize numa conversa privada, sem saber que se tornaria pública...”

    Esse "que" é conjunção. logo a única alternativa que possui uma conjunção como atrativa é a letra A.

  • Essa daqui só faz quem estudou. Se não sabe o que é conjunção subordinativa integrante, não acerta nem no chute. É a questão que separa os homens dos meninos.

  • Trecho do enunciado da questão:

     "Que" Conjunção Subordinativa Integrante.

    Gabarito - Alternativa A:

    "Conforme" Conjunção Subordinativa Conformativa.

    Não caberia anulação dessa questão? a alternativa A não precisa ser também Conjunção Subordinativa Integrante?

  • QUESTÃO PASSÍVEL DE ANULAÇÃO, PORQUE APRESENTA DOIS GABARITOS. AINDA TENHO DE VER ALGUNS QUERENDO ACHAR EXPLICAÇÃO E JUSTIFICAR DO PORQUÊ A QUESTÃO ESTÁ CORRETA. A VERDADE É QUE A QUESTÃO FOI MUITO MAL ELABORADA.

  • Questão capciosíssima!!! Trata-se da regra de próclise devido à conjunção subordinativa. Tenso!

  • Resumindo:

    “(...) sem saber que se tornaria pública...” ------ "Sem saber isso", portanto o "QUE" é conjunção subordinativa integrante.

    a) Vamos estabelecer critérios, conforme lhe avisaram. ------ "CONFORME" = conjunção subordinativa adverbial conformativa.

    b) Quero uma cidade tranquila onde me sinta em paz. ------ "ONDE" = pronome relativo.

    c) Nada me faz querer sair dessa cama. ------- "NADA" = pronome indefinido.

    d) Há professores que nos marcam para sempre. ------- "QUE" = pronome relativo.

    A colocação do pronome oblíquo se justifica pelo mesmo motivo que o apresentado no enunciado na letra A, pois em ambos os casos a próclise ocorre por atração de uma conjunção.

    Nos demais itens, a próclise está correta, mas os motivos da atração dos pronomes são outros.

  • Gabarito do professor pfv...ainda estou com dúvida.

    Gab: A

  • No enunciado, o pronome oblíquo átono, se, é atraído pela conjunção integrante, que, a qual introduz uma oração subordinativa.

    Entre as alternativas, a letra A é a única que se assemelha.

    Nos demais casos, o pronome oblíquo átono é atraído por pronomes.

    Gabarito A