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ID
2842999
Banca
UFTM
Órgão
UFTM
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                  O racismo é sempre dos outros

                                                                                           Alexandra Loras


      Antes que barulhentos defensores do jornalista William Waack me acusem — como fizeram com muitos críticos — de agredir direitos individuais ou de promover ato de covardia ressentida, é preciso dizer com clareza: o que está em questão não é só se Waack é racista ou se cometeu atos racistas em sua bem-sucedida e respeitada carreira jornalística. É, sim, se seu gesto vazado em vídeo constitui atitude racista.

   Este me parece ter sido seu erro fundamental: o comentário foi desrespeitoso e claramente racista. Waack pode até ser brilhante, mas cometeu mais do que um deslize numa conversa privada, sem saber que se tornaria pública.

    O fato é que ele fez piada racista e se referiu a pessoas negras de forma pejorativa. Repetiu uma frase com que nós, negros, nos deparamos cotidianamente: “Coisa de preto”. Um insulto com ar de leveza e humor, mas acima de qualquer coisa um insulto racial.

    “Coisa de preto”, no sentido usado pelo jornalista, equivale às pequenas violências simbólicas enfrentadas no dia a dia pelos negros. Passamos a vida ouvindo piadas e brincadeiras de mau gosto, por exemplo, sobre ter cabelo crespo como sendo “duro” ou “ruim”.

    O mais importante nessa polêmica é o quanto o racismo na fala de Waack representa o racismo estrutural brasileiro. Com um agravante: aqui no Brasil há uma tradição que sempre põe o ‘mal’ no outro.

  O pecado corrente é o do vizinho, jamais o nosso; agressores são os outros, nunca nós mesmos; apontamos o dedo e atacamos atos e gestos racistas como o do jornalista, mas ignoramos práticas igualmente racistas ao nosso redor, até dentro de nós mesmos. São mais sutis, porém tão ou mais violentas e danosas quanto a de Waack.

   O episódio diz muito sobre a forma brasileira de expressar o racismo. É como se o Brasil não fosse racista, mas um país onde existe racismo. Esse tipo de visão acaba reforçando a ideia de que o racismo só aparece em atitudes como a de Waack, e no riso conivente do jornalista que aparece no vídeo ao seu lado. Nenhum jornalista comentou isso. Ignora-se, assim, um complexo sistema de opressão, que nega direitos essenciais aos negros.

   Como afirmou Djamila Ribeiro, ex-secretária-adjunta de Direitos Humanos de São Paulo, basta ligar a TV e contar: quantas pessoas negras são apresentadoras? Nas universidades, quantos professores são negros? Quantos negros há em cargos de chefia? Nada disso é “coisa de preto”?

    A indignação não pode se resumir à reação ao comportamento de Waack, sob pena de transformarmos o debate sobre o racismo brasileiro numa discussão cosmética a respeito de gestos isolados.

    Chama a atenção que só colegas brancos tenham reagido em defesa do jornalista. E mais: o privilégio do homem branco é tamanho que, nos EUA ou em países da Europa, ele teria sido demitido e processado diante do racismo exposto em sua atitude.

   Só produziremos um debate real quando brancos perceberem que gestos isolados dizem respeito a um problema estrutural, do qual fazem parte seus privilégios e o seu racismo não revelado. É preciso mostrar que “coisa de preto” não é fazer o barulho que tanto incomodou Waack, muito menos tem a ver com a malemolência tão tristemente retratada pela historiografia nacional como um traço do negro.

   “Coisa de preto”, isto sim, diz respeito à sua enorme riqueza cultural, ao trabalho árduo de quem ajudou a construir este país como Oscar Freire, André Rebouças, Teodoro Sampaio, Machado de Assis. Que alguém me mostre uma igreja, uma estrada ou um edifício que não foi construído por negros no Brasil. É nosso dever mudar a narrativa preconceituosa de nossa época.


(Folha de São Paulo, 19/11/2017)

Volte ao texto, e releia os trechos a seguir e assinale a única alternativa cujo referente indicado entre parênteses corresponde à expressão em negrito na frase:

Alternativas
Comentários
  • Não concordo com o gabarito (D). Tô esperando alguém comentar.

  • Não seria a alternativa A?

  • Sua? homem branco?

    Bom.. não concordo!


    Para mim a correta é letra A.

    Se alguém puder esclarecer, pode me chamar no privado.

  • Não concordo com o gabarito D

    O correto seria a letra A

  • Também não concordo.


  • Não concordo com o gabarito D.

    Também assinalei a alternativa A.

    Isso porque a palavra carreira está se referindo ao pronome possessivo "sua" da alternativa A.

    Basta fazer a seguinte pergunta: Sua bem sucedida e respeitada o quê?



    Caso haja algum erro avisem :D

  • Certamente haverá uma mudança de gabarito... Claramente o gabarito é letra A.

  • Na minha opinião, só pode ser a letra A.

  • letra a com certeza

  • Também acredito que seja A!

  • Questão mal formulada.

    Os pronomes possessivos referem-se a um possuidor e uma coisa possuída.

    Acredito que o examinador tentou perguntar sobre o "possuidor", mesmo o pronome concordando sempre com a coisa possuída, levando a acreditar que é o único referente do pronome.


    Na letra A, que pra mim, devido a formulação da questão tbm seria a correta, sua concorda [e, para mim, portanto, refere-se] com carreira (coisa possuída)

    Na letra D, dada como gabarito, a questão interpretou como o referente homem branco (possuidor)

  • No gabarito oficial esta letra D, por gentileza alguém solicite explicação ao professor.

  • na letra a) sua se refere a Waack, assim como na letra d) sua se refere a homem branco

    gabarito d

  • UFTM, eu te amo tanto, mas não me passa vergonha com esse gabarito não, please! Claramente A, gente

  • A banca não alterou o gabarito para letra A?


  • Pessoal, também marquei letra "a". Porém...


    Pronome Possessivo, assim como o Relativo, "retoma" seu referente. Ele diz "de quem é", não "o que é de quem".


    Exemplo: Felipe, a culpa é sua!

    O pronome "sua" concorda em gênero e número com "culpa", mas REFERE-SE a "Felipe", atribuindo a culpa este.


  • A-A-A-A-A-A- MARCARIA A UM MILHÃO DE VEZES.

  • Alguém sabe se mudaram o gabarito? Porque, claramente, a resposta correta é a letra A! A letra D não faz sentido algum!

  • comenta pra nois ai professor arenildo.

    t

  • eu não entendi essa questão, se alguém poder explicar
  • Marquei letra A,to confusa.