SóProvas


ID
2887552
Banca
COVEST-COPSET
Órgão
UFPE
Ano
2017
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO 1 


                             Os camelos do Islã

Por Reinaldo José Lopes


      Quando a gente pensa em eventos históricos, precisa sempre levar em conta um termo meio técnico, meio filosófico, sem o qual é muito fácil cometer escorregadas feias. O termo é contingência. Em outras palavras, o papel do que poderíamos chamar de coincidência ou acaso em mover as engrenagens da história, e o fato de que os eventos históricos são caóticos, quase que no sentido físico do termo: alterações minúsculas podem conduzir a efeitos gigantes.

      Por que estou me saindo com essa conversa mole? Bem, porque escrevi não faz muito tempo uma reportagem para esta Folha contando como uma série de alterações climáticas ligadas a erupções de vulcões a partir do século 6º d.C. parecem ter contribuído para acabar com o mundo antigo e “criar” a Idade Média.

      No texto original, acabou não cabendo um detalhe absolutamente fascinante: segundo os modelos computacionais climáticos usados pelos pesquisadores suíços que assinam o estudo, um dos efeitos do frio intenso trazido pela erupção vulcânica pode ter sido um considerável aumento da umidade — chuva, portanto — na Arábia. E daí, perguntará você?

      Bom, mais chuva = mais grama para os camelos e cavalos comerem. Mais camelos e cavalos = mais poderio militar para as tribos árabes. As quais, no período de que estamos falando, tinham acabado de adotar uma nova e empolgante ideologia religiosa trazida por um certo profeta chamado Maomé — uma ideologia que estava “pronta para exportação”, digamos assim.

      Aí a gente cai de novo na tal da contingência. A expansão árabe certamente não teria acontecido sem o surgimento do Islã — mas talvez não fosse viável sem aquele monte de camelos e cavalos que só nasceram graças a algumas erupções vulcânicas. Fatores assim interagem o tempo todo, e dificilmente a gente tem clareza suficiente para entendê-los na hora em que estão ocorrendo, ou mesmo muitos séculos depois.

In: http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2016/03/08/os-camelos-do-isla/ Acesso em: 30 set. 2016

Reconhecer os recursos de coesão de um texto é fundamental para compreender os sentidos veiculados. Acerca do emprego de tais recursos no Texto 1, analise as afirmativas a seguir.


1) A expressão: “Em outras palavras” (1º parágrafo) anuncia que, na sequência, o autor vai incluir uma informação nova.

2) O pronome relativo “o qual” (1º parágrafo) retoma o segmento “um termo meio técnico, meio filosófico” (1º parágrafo).

3) No trecho: “Por que estou me saindo com essa conversa mole?” (2º parágrafo), o segmento destacado, articulando-se ao parágrafo anterior, promove, também, a continuidade temática.

4) No trecho: “mais chuva = mais grama para os camelos e cavalos comerem.” (4º parágrafo), a substituição do sinal de igualdade manteria os sentidos originais de causa/consequência em: “Como houve mais chuva, houve mais grama para os camelos e cavalos comerem”.


Estão corretas:

Alternativas
Comentários
  • A expressão "Em outras palavras" leva o autor a expressar a mesma informação de maneira que facilite o entendimento do leitor e não uma informação nova. Por isso, a afirmativa (1) é falsa.

  • Interpretação de Textos - Coesão e coerência

    Coesão e coerência caminham juntas, ou seja, a ideia é que um texto coeso gere coerência, embora isso não necessariamente ocorra.

    Coesão é “sinônimo” de ligação: ligação entre as partes. A que mais aparece em concursos diz respeito à referencial: consiste no emprego de pronomes (e equivalentes) para evitar a maciça repetição de termos num texto. Veja só:

    Comprei um celular, mas ele veio com defeito.

    (coesão pronominal: o pronome “ele” retoma “um celular”)

    Comprei um celular, mas o aparelho veio com defeito.

    (coesão nominal: o nome “ele” retoma “um celular”)

    Comprei um celular, mas veio com defeito.

    (coesão por elipse: na segunda oração, subentende-se o termo “celular”)

    A coerência envolve o campo das ideias: o uso de conectivos, por exemplo, está diretamente relacionado à coerência. Veja só:

    Apesar de eu ter estudado muito, passei no concurso. (Frase incoerente).

    Apesar de eu não ter estudado muito, passei no concurso. (Frase coerente).

  • Apenas 2 e 3

  • Troll abaixo. Meio óbvio que a afirmativa 4 está correta.

  • Gabarito: Letra D

  • Para identificarmos quais das afirmativas acima estão corretas, com relação ao uso dos recursos de coesão empregados no texto, analisaremos uma a uma:

    1. Essa afirmativa está errada, pois, na verdade, a expressão "em outras palavras" anuncia que o autor vai expor a mesma ideia anterior, mas de outra maneira, utilizando outros vocábulos.

    2. Essa afirmativa está correta, já que, de fato, o pronome "o qual" está retomando o segmento destacado.

    3. Essa afirmativa está correta, pois o segmento "essa conversa mole" promove, sim, a continuidade temática, significa que o autor vai continuar falando da "conversa mole" que estava falando anteriormente.

    4. Essa afirmativa está correta, já que o sinal de igualdade demonstra, de fato, uma situação de causa e consequência neste caso, sendo a chuva a causa e a grama a consequência.

    Desta maneira, verificamos que as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras. Logo, concluímos que a resposta para essa questão é letra D.

    Gabarito dado pela banca: letra D.

    Gabarito do professor: letra D.

  • Como a questão já foi bem explicada por alguns colegas, vai uma dica:

    Conforme percebemos, a afirmativa 1 está errada. Com isso já eliminaríamos as alternativas "a", "b" e "e". Sobrariam apenas as alternativas "c" e "d" que já mostravam as afirmativas 1 e 3 como corretas, então, diante de uma situação dessas, para dar mais celeridade, iríamos direto para a afirmativa 4 pra definir qual letra marcar. Celeridade com responsabilidade pode te trazer ótimas vantagens numa prova.

  • Mas se retirasse sinal de igualdade na frase 4 ficaria no mínimo estranha se não colocasse uma outra pontuação adequada entre os termos ou uma conjunção proporcional antes deles...

    Bom, mais chuva mais grama para os camelos e cavalos comerem.

    Bem estranha a leitura assim.