SóProvas


ID
2888404
Banca
INAZ do Pará
Órgão
CREFITO 12º Região
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                       O HOMEM CUJA ORELHA CRESCEU

                                                                         Ignácio de Loyola Brandão


      Estava escrevendo, sentiu a orelha pesada. Pensou que fosse cansaço, eram 11 da noite, estava fazendo hora-extra. Escriturário de uma firma de tecidos, solteiro, 35 anos, ganhava pouco, reforçava com extras. Mas o peso foi aumentando e ele percebeu que as orelhas cresciam. Apavorado, passou a mão. Deviam ter uns dez centímetros. Eram moles, como de cachorro. Correu ao banheiro. As orelhas estavam na altura do ombro e continuavam crescendo. Ficou só olhando. Elas cresciam, chegavam à cintura. Finas, compridas, como fitas de carne, enrugadas. Procurou uma tesoura, ia cortar a orelha, não importava que doesse. Mas não encontrou, as gavetas das moças estavam fechadas. O armário de material também. O melhor era correr para a pensão, se fechar, antes que não pudesse mais andar na rua. Se tivesse um amigo, ou namorada, iria mostrar o que estava acontecendo. Mas o escriturário não conhecia ninguém a não ser os colegas de escritório. Colegas, não amigos. Ele abriu a camisa, enfiou as orelhas para dentro. Enrolou uma toalha na cabeça, como se estivesse machucado.

Quando chegou na pensão, a orelha saia pela perna da calça. O escriturário tirou a roupa. Deitou-se, louco para dormir e esquecer. E se fosse ao médico? Um otorrinolaringologista. A esta hora da noite? Olhava o forro branco. Incapaz de pensar, dormiu de desespero.

      Ao acordar, viu aos pés da cama o monte de uns trinta centímetros de altura. A orelha crescera e se enrolara como cobra. Tentou se levantar. Difícil. Precisava segurar as orelhas enroladas. Pesavam. Ficou na cama. E sentia a orelha crescendo, com uma cosquinha. O sangue correndo para lá, os nervos, músculos, a pele se formando, rápido. Às quatro da tarde, toda a cama tinha sido tomada pela orelha. O escriturário sentia fome, sede. Às dez da noite, sua barriga roncava. A orelha tinha caído para fora da cama. Dormiu.

      Acordou no meio da noite com o barulhinho da orelha crescendo. Dormiu de novo e quando acordou na manhã seguinte, o quarto se enchera com a orelha. Ela estava em cima do guarda-roupa, embaixo da cama, na pia. E forçava a porta. Ao meio-dia, a orelha derrubou a porta, saiu pelo corredor. Duas horas mais tarde, encheu o corredor. Inundou a casa. Os hospedes fugiram para a rua. Chamaram a polícia, o corpo de bombeiros. A orelha saiu para o quintal. Para a rua. Vieram os açougueiros com facas, machados, serrotes. Os açougueiros trabalharam o dia inteiro cortando e amontoando. O prefeito mandou dar a carne aos pobres.

      Vieram os favelados, as organizações de assistência social, irmandades religiosas, donos de restaurantes, vendedores de churrasquinho na porta do estádio, donas-de-casa. Vinham com cestas, carrinhos, carroças, camionetas. Toda a população apanhou carne de orelha. Apareceu um administrador, trouxe sacos de plástico, higiênicos, organizou filas, fez uma distribuição racional.

      E quando todos tinham levado carne para aquele dia e para os outros, começaram a estocar. Encheram frigoríficos, geladeiras. Quando não havia mais onde estocar a carne de orelha, chamaram outras cidades. Vieram novos açougueiros. E a orelha crescia, era cortada e crescia, e os açougueiros trabalhavam. E vinham outros açougueiros. E os outros se cansavam. E a cidade não suportava mais carne de orelha. O povo pediu uma providência ao prefeito. E o prefeito ao governador. E o governador ao presidente.

      E quando não havia solução, um menino, diante da rua cheia de carne de orelha, disse a um policial: "Por que o senhor não mata o dono da orelha?"

Disponível em <http://www.casadobruxo.com.br> . Acesso em 12 Out. 2016.

Assinale dentre as alternativas abaixo aquela em que o emprego do hífen segue a mesma regra de ortografia presente no termo destacado em “[...] Ela estava em cima do guarda-roupa”.

Alternativas
Comentários
  • d)marca-passo.

    Segue a mesma regra de guarda-roupa.

  • Galerinha, APENAS UMA DÚVIDA: segundo o meu conhecimento, o certo não seria guardarroupa? Não teria que dobrar o 'R' quando o prefixo termina em vogal e a segunda palavra começa com S ou R?

    Exemplo: supra + renal = suprarrenal / contra + regra = contrarregra.

  • Aoo que segue a mesma regra porque o primeiro termo é um verbo.

  • Ariel Oliveira, se escreve "guarda-roupa" com hífen, pois a primeira palavra é um verbo. Mesmo caso para "porta-bandeiras", por exemplo.

  •   Nos compostos de justaposição, sem elementos de ligação, cria-se uma terceira palavra sem mexer nas

    palavras primitivas , quando o primeiro termo tá representado pela forma substantiva, adjetiva,

    numeral ou verbal.

    Ex. marca-passo e guarda-roupa

  • guarda-roupa = verbo + substantivo

    marca-passo = verbo + substantivo

  • Ariel Oliveira, essa regra vale para PREFIXO terminado em vogal + radical com vogal distinta.

    Guarda NÃO é PREFIXO, logo não entra nessa regra.

    PREFIXOS são partículas sem sentido completo. Exemplo: anti, contra, pré, infra, sub, sob etc.

  • Ariel Oliveira, essa regra vale para PREFIXO terminado em vogal + radical com vogal distinta.

    Guarda NÃO é PREFIXO, logo não entra nessa regra.

    PREFIXOS são partículas sem sentido completo. Exemplo: anti, contra, pré, infra, sub, sob etc.

  •  Nos compostos por justaposição, sem elemento de

    ligação, quando o primeiro termo está representado por

    forma substantiva, adjetiva, numeral ou verbal.

    Ex.: amor-perfeito / decreto-lei / boa-fé / azul-escuro /

    primeiro-ministro / guarda-noturno.

    a mesma regra para marca-passo (pois o primeiro termo é um verbo).

    GABARITO:D

  • No caso de PREFIXO + RADICAL INICIADO EM S OU R - Deve o R ou S ser DUPLICADO, exemplos:

    Regra válida apenas se a palavra for formada por PREFIXO+ RADICAL; o que não é o caso de GUARDA-ROUPA, uma vez que GUARDA não é um prefixo.

    Outra explicação para complementar:

    Em formação de palavras vemos que se dois ou mais elementos se unem formando UMA SÓ PALAVRA, mas conservam AUTONOMIA DE FORMA E ACENTUAÇÃO PRÓPRIA, da-se o nome de COMPOSIÇÃO POR JUSTAPOSIÇÃO,exemplos:

    amor-perfeito

    girassol

    guarda-chuva

    navio-escola

    malmequer

    Outras explicações já foram dadas pelos colegas nos comentários anteriores.

  • GUARDA-ROUPA (verbo primeiro elemento)

    Nos compostos por justaposição, sem elemento de ligação, quando o primeiro termo está representado por forma substantiva, adjetiva, numeral ou verbal.

    A) mal-habituado

    B) bem-te-vi

    C) afro-asiático (substantivo primeiro elemento)

    D) marca-passo (verbo primeiro elemento)

    E) cor-de-rosa

  • Elementos como afro-, anglo-, euro-, franco-, indo-, luso-, quando compõem adjetivos pátrios (também chamados de gentílicos), apresentam hífen.

    Exemplos:

    Afro-americano, afro-brasileiro, anglo-saxão, euro-asiático, franco-canadense, etc.

    Se, no entanto esses elementos não estiverem somando duas identidades para a formação de adjetivos pátrios, não haverá o uso do hífen.

    Exemplos:Afrodescendente, anglofalante, etc.

    https://www.soportugues.com.br/secoes/FAQresposta.php?id=97

  • A regra para uso desse hífen é: palavras compostas com elementos que têm acentuação tônica própria e formam uma unidade significativa. Temos outros exemplos, como arco-íris, segunda-feira, mesa-redonda, beija-flor...

  • Então o termo CHOQUE DE MONSTRO não tem hífen, entendeu meu bem?