SóProvas


ID
2902606
Banca
VUNESP
Órgão
TJ-SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                     Assassinos culturais


      Sou um assassino cultural, e você também é. Sei que é romântico chorar quando uma livraria fecha as portas. Mas convém não abusar do romantismo – e da hipocrisia. Fomos nós que matamos aquela livraria e o crime não nos pesa muito na consciência.

      Falo por mim. Os livros físicos que entram lá em casa são cada vez mais ofertas – de amigos ou editoras.

      Aos 20, quando viajava por territórios estranhos, entrava nas livrarias locais como um faminto na capoeira. Comprava tanto e carregava tanto que desconfio que o meu problema de ciática é, na sua essência, um problema livresco.

      Hoje? Gosto da flânerie*. Mas depois, fotografo as capas com o meu celular antes de regressar para o psicanalista – o famoso dr. Kindle. Culpado? Um pouco. E em minha defesa só posso afirmar que pago pelos meus vícios.

      E quem fala em livrarias, fala em todo o resto. Eu também ajudei a matar a Tower Records e a Virgin Megastore. Havia lá dentro uma bizarria chamada CD – você se lembra?

      Hoje, com alguns aplicativos, tenho uma espécie de discoteca de Alexandria onde, a meu bel-prazer, escuto meus clássicos e descubro novos.

      Se juntarmos ao pacote o iTunes e a Netflix, você percebe por que eu também tenho o sangue dos cinemas e dos blockbusters nas mãos.

      Eis a realidade: vivemos a desmaterialização da cultura. Mas não é apenas a cultura que se desmaterializa e tem deixado as nossas salas e estantes mais vazias. É a nossa relação com ela. Não somos mais proprietários de “coisas”; somos apenas consumidores e, palavra importante, assinantes.

      O livro “Subscribed”, de Tien Tzuo, analisa a situação. É uma reflexão sobre a “economia de assinaturas” que conquista a economia global. Conta o autor que mais de metade das empresas da famosa lista da “Fortune” já não existiam em 2017. O que tinham em comum? O objetivo meritório de vender “coisas” – muitas coisas, para muita gente, como sempre aconteceu desde os primórdios do capitalismo.

      Já as empresas que sobreviveram e as novas que entraram na lista souberam se adaptar à economia digital, vendendo serviços (ou, de forma mais precisa, acessos).

      Claro que na mudança algo se perde. O desaparecimento das livrarias não acredito que seja total no futuro (e ainda bem). Além disso, ler no papel não é o mesmo que ler na tela. Mas o interesse do livro de Tzuo não está apenas nos números; está no retrato de uma nova geração para quem a experiência cultural é mais importante do que a mera posse de objetos.

      Há quem veja aqui um retrocesso, mas também é possível ver um avanço – ou, para sermos bem filosóficos, o triunfo do espírito sobre a matéria. E não será essa, no fim das contas, a vocação mais autêntica da cultura?

          (João Pereira Coutinho. Folha de S.Paulo, 28.08.2018. Adaptado)

* Flânerie: ato de passear, de caminhar sem compromisso.

De acordo com a norma-padrão, a expressão destacada no trecho do texto está corretamente substituída pela expressão entre parênteses na alternativa:

Alternativas
Comentários
  • qual erro da A?

  • Letra A está errada pois não existe próclise quando se têm verbos no particípio.
  • Não se usa Ênclise com verbos no particípio (erro da letra A).

  • Atenção: vender pode ser transitivo direto ou indireto. Ex: Vender o que? vender a quem?. Mais no caso da letra E temos que ter atenção ao que foi mencionado na frase: "coisas", sendo assim, é so considerar o verbo como transitivo direto.

    Bons estudos!

  • Claro, tá pedindo norma padrão, e eu tentando encontrar SENTIDO nas frases.....

  • O erro da A não tem a ver com o "que", que está distante na frase.

    Quando temos locução verbal temos o seguinte:

    Verbo auxiliar + particípio >>> o pronome fica (1) antes do auxiliar ou (2) depois do auxiliar: as tem deixado / tem-nas deixado. Por isso a letra A está errada, o pronome não pode ficar depois do verbo principal, não pode ser tem deixado-as.

    Verbo auxiliar + infinitivo ou gerúndio >>> aí sim temos três opções, o pronome (1) antes do auxiliar, (2) depois do auxiliar ou (3) depois do verbo principal: Ela me vem ligando bastante / Ela vem me ligando bastante / Ela vem ligando-me bastante (exemplo com gerúndio, mas a mesma coisa se aplica ao infinitivo).

  • Letra A)> O particípio não participa da colocação pronominal

  • GABARITO B

    CASOS DE ATRAÇÃO DA PRÓCLISE  (Pronome Oblíquo Átono antes do verbo)

      1) Palavras com sentido negativo: Não, Nem, Nunca,Jamais,Ninguém, Nenhum, ...;

     2) Advérbio curto (sem vírgula): Já, Agora, Assim, Também, Sempre, Mais, Menos, Pouco, ...;

      3) Conjunções Subordinativas: Se, Caso, Embora, Quando, Enquanto, Como, Que, ...;

      4) Gerúndio precedido de EM;

      5) Pronome Relativo: Que, O qual, Onde, Cujo, ...;

      6) Pronomes Indefinidos; Tudo, Nada, Ninguém, Qualquer, ...;

      7) Pronome Demonstrativo: Isso, Aquilo, Isto, Aquele, Este, Esse, ...;

      8) Frase Optativa (Exprime desejo);

      9) Frase Interrogativa (?);

    10) Frase Exclamativa (!).

    bons estudos

  • " Gentem" tatuem no cérebro de vcs, depois de ido e ado nada será colocado (erro da A)

  • VÁ GRANDÃO DESTEMIDO, SEM MEDO DE NADA!!!!

    LETRA B.

    É uma reflexão sobre a “economia de assinaturas” que conquista a economia global. (a conquista)

    palavra atrativa, PRÓCLISE.

  • Obrigado epla dica Débora. Perfeito para revisar.

  • Na letra A, tem-se dois motivos uma pelo verbo estar no particípio e outra porque tem um pronome "que" atrativo.

  • NADA DEPOIS DE COLOCADO/METIDO (ADO/IDO).

  • Verbo Principal no Particípio

    Estando o verbo principal no particípio, o pronome oblíquo átono não poderá vir depois dele. Por exemplo:

    As crianças tinham-se perdido no passeio escolar.

  • Qual o erro da letra D ?

  • CERTA. É uma reflexão sobre a “economia de assinaturas” que a conquista (a reflexão conquista a economia, essa é a referência). A conjunção que atrai o pronome oblíquo átono.