SóProvas


ID
2902609
Banca
VUNESP
Órgão
TJ-SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                     Assassinos culturais


      Sou um assassino cultural, e você também é. Sei que é romântico chorar quando uma livraria fecha as portas. Mas convém não abusar do romantismo – e da hipocrisia. Fomos nós que matamos aquela livraria e o crime não nos pesa muito na consciência.

      Falo por mim. Os livros físicos que entram lá em casa são cada vez mais ofertas – de amigos ou editoras.

      Aos 20, quando viajava por territórios estranhos, entrava nas livrarias locais como um faminto na capoeira. Comprava tanto e carregava tanto que desconfio que o meu problema de ciática é, na sua essência, um problema livresco.

      Hoje? Gosto da flânerie*. Mas depois, fotografo as capas com o meu celular antes de regressar para o psicanalista – o famoso dr. Kindle. Culpado? Um pouco. E em minha defesa só posso afirmar que pago pelos meus vícios.

      E quem fala em livrarias, fala em todo o resto. Eu também ajudei a matar a Tower Records e a Virgin Megastore. Havia lá dentro uma bizarria chamada CD – você se lembra?

      Hoje, com alguns aplicativos, tenho uma espécie de discoteca de Alexandria onde, a meu bel-prazer, escuto meus clássicos e descubro novos.

      Se juntarmos ao pacote o iTunes e a Netflix, você percebe por que eu também tenho o sangue dos cinemas e dos blockbusters nas mãos.

      Eis a realidade: vivemos a desmaterialização da cultura. Mas não é apenas a cultura que se desmaterializa e tem deixado as nossas salas e estantes mais vazias. É a nossa relação com ela. Não somos mais proprietários de “coisas”; somos apenas consumidores e, palavra importante, assinantes.

      O livro “Subscribed”, de Tien Tzuo, analisa a situação. É uma reflexão sobre a “economia de assinaturas” que conquista a economia global. Conta o autor que mais de metade das empresas da famosa lista da “Fortune” já não existiam em 2017. O que tinham em comum? O objetivo meritório de vender “coisas” – muitas coisas, para muita gente, como sempre aconteceu desde os primórdios do capitalismo.

      Já as empresas que sobreviveram e as novas que entraram na lista souberam se adaptar à economia digital, vendendo serviços (ou, de forma mais precisa, acessos).

      Claro que na mudança algo se perde. O desaparecimento das livrarias não acredito que seja total no futuro (e ainda bem). Além disso, ler no papel não é o mesmo que ler na tela. Mas o interesse do livro de Tzuo não está apenas nos números; está no retrato de uma nova geração para quem a experiência cultural é mais importante do que a mera posse de objetos.

      Há quem veja aqui um retrocesso, mas também é possível ver um avanço – ou, para sermos bem filosóficos, o triunfo do espírito sobre a matéria. E não será essa, no fim das contas, a vocação mais autêntica da cultura?

          (João Pereira Coutinho. Folha de S.Paulo, 28.08.2018. Adaptado)

* Flânerie: ato de passear, de caminhar sem compromisso.

Assinale a alternativa redigida em conformidade com a norma-padrão de concordância.

Alternativas
Comentários
  • a)As empresas que, hoje, em lugar de coisas vendeM serviços, moldaram-se à economia digital.

    b)PresenteadoS, em sua maioria, são os livros que hoje fazem parte da biblioteca do escritor.

    c)GABARITO

    R:Não faz tantos anos que redes de lojas como Tower Records e Virgin Megastore eram/ referência no mercado musical.

    d)O autor tem registradaS, em seu celular, capas de livros que lhe interessam, As quais prefere ler em formato e-book.

    e)O livro de Tien Tzuo, além dos dados numéricos, expõeM reflexões a respeito do comportamento das novas gerações.

    R:O livro de Tien Tzuo expõe

  • O VERBO FAZER, EM TEMPO CORRIDO, NÃO SE FLEXIONA

    EX: faz anos que não vejo o flamengo perder.

  • Caí igual um pato na letra E!

  • Por que o certo é "eram referência" e não (eram referências)?

  • S. pedro, referência ali está em forma de comparação. Dessa forma, deve ficar no singular.

    ►Alexsander ou Pedro é bonito (CERTO) ideia de comparação.

    ►Alexsander ou Pedrão são bonitos ( errado ) aqui tem uma ideia de adição

    ou eu ou é você que é bonito, mas claro , eu sou bonito nhe kkkkkk

  • Alfartano , discordo da sua resposta .

    "Muitas vezes os substantivos são usados para qualificar , funcionando como adjetivos impróprios. Nesses casos , não vão ser flexionados como adjetivos , vão permanecer invariáveis .

    ex: estou com umas dores de cabeça mostro . ( no singular ) " Professor do estratégia concursos .

    No caso , não há ligação com "ou" e "e" , visto que deveria concordar com "redes de lojas" , mas isso não acontece por causa da regra acima exposta .

  • Dica: sempre coloquem as frases na ordem direta (S+V+C), isso facilita muito a visualização.

    Fica mais claro e podemos ver os erros com mais facilidade.

    =)

  • " ... Não faz tantos anos que redes de lojas ... " (o verbo fazer com sentido de "tempo decorrido" é impessoal e, portanto, invariável);

     

    a) " ... as empresas que, hoje, em lugar de coisas vendem serviços ... "

    (o verbo deve flexionar de acordo com o núcleo do sujeito. O sujeito é o pronome relativo "que". Nesse caso, o verbo deve flexionar de acordo com o termo referente "empresas" que é o núcleo do sujeito da oração principal);

     

    b) "Presenteados, em sua maioria, são os livros ... "

    (o adjetivo é palavra que varia em gênero e número com o substantivo ao qual qualifica. Logo, "presenteados" deve variar de acordo com "livros");

     

    d) "O autor tem registradas, em seu celular, capas de livros ... " 

    (o adjetivo é palavra que varia em gênero e número com o substantivo ao qual qualifica. Logo, "registradas" deve variar de acordo com "capas");

     

    e) "O livro de Tien Tzuo, além dos dados numéricos, expõe reflexões ... "

    (o verbo deve flexionar de acordo com o núcleo do sujeito "livro" que está no singular);

     

    Quem escolheu a busca não pode recusar a travessia - Guimarães Rosa

    ------------------- 

    Gabarito: C

  • a) As empresas que, hoje, em lugar de coisas vende serviços, moldaram-se à economia digital.

    b) Presenteado, em sua maioria, são os livros que hoje fazem parte da biblioteca do escritor.

    c) Não faz tantos anos que redes de lojas como Tower Records e Virgin Megastore eram referência no mercado musical.

    d) O autor tem registrada, em seu celular, capas de livros que lhe interessam, os quais prefere ler em formato e-book.

    e) O livro de Tien Tzuo, além dos dados numéricos, expõem reflexões a respeito do comportamento das novas gerações.

  • Por que não "ERAM REFERÊNCIAS"???

  • a) As empresas que, hoje, em lugar de coisas vendem serviços, moldaram-se à economia digital.

    b) Presenteados, em sua maioria, são os livros que hoje fazem parte da biblioteca do escritor.

    c) Não faz tantos anos que redes de lojas como Tower Records e Virgin Megastore eram referência no mercado musical. - GABARITO

    d) O autor tem registradas, em seu celular, capas de livros que lhe interessam, os quais prefere ler em formato e-book.

    e) O livro de Tien Tzuo, além dos dados numéricos, expõe reflexões a respeito do comportamento das novas gerações.

  • "eram referênciA" .. e não: referênciasS

    A meu ver, trata-se de um advérbio que trabalha para o verbo Ser.

    Advérbios não variam!

  • eram referenciaSSS? mas não adianta reclamar

  • Passei batido, pois li "não fazem tantos anos".

  • Respondendo a dúvida sobre porque referência não vai para o plural:

    Quando o predicativo é substantivo abstrato, o predicativo fica no singular.

    Exemplos:

    Médicos são exemplo de dedicação.

    (E não ""exemplos")

    Esses problemas foram alvo de reportagens.

    (E não "alvos")

    Fonte: Resumão de Concordância.Professor Eduardo Martins.Editora Barros e Associados.2016.

  • Respondendo a dúvida sobre porque referência não vai para o plural:

    Quando o predicativo é substantivo abstrato, o predicativo fica no singular.

    Exemplos:

    Médicos são exemplo (jamais escreveria sem pluralizar esse termo) de dedicação.

    (E não ""exemplos")

    Esses problemas foram alvo (jamais escreveria sem pluralizar esse termo) de reportagens.

    (E não "alvos")

    Fonte: Resumão de Concordância.Professor Eduardo Martins.Editora Barros e Associados.2016.

    Por essas e outras que digo: Tenho certeza que sei que nada sei, mas nada mesmo. kkkkkk

  • Questão confusa , eram referencias . referencias não teria que concordar com '' redes de lojas'' ? redes são referencias?

  • De acordo com o comentario da professora Fabiana, referencia nao foi ao plural porque ficou subentendido um "como" entre o verbo "eram" e o vocábulo "referencia", o que, segundo ela, nos permite visualizar neste vocábulo uma ideia de modo, ou seja, referencia era o modo como aquelas lojas eram vistas. Assertiva absurdamente intrigante e interessante. Nem nos meus mais remotos sonhos eu iria imaginar que haveria tal regra. Só resolvi corretamente a questão porque identifiquei o erro das demais