SóProvas


ID
2922397
Banca
COSEAC
Órgão
Prefeitura de Maricá - RJ
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto 2
 
       – Por que o senhor está sentado aí tão sozinho? indagou Alice, sem querer iniciar uma discussão. – Ora essa, porque não tem ninguém aqui comigo! – gritou Humpty-Dumpty. – Pensou que eu não saberia responder essa, hein? Pergunte outra.
 
(CARROLL, Lewis. Através do espelho e o que Alice encontrou lá. Trad. de Sebastião Uchoa Leite. 2 ed. Rio, Fontana-Summus, 1977, p. 192.)
 
       No hilariante diálogo que trava com Humpty-Dumpty, personagem surrealista do País do Espelho, Alice vê-se inúmeras vezes perplexa diante dos conceitos e da argumentação com que ele agressivamente a enfrenta. Conciliadora, ela procura sempre um novo assunto para reiniciar a conversa, tentando apaziguar o mau humor de seu irascível interlocutor. É difícil: lá vem ele em nova investida verbal, armado de um raciocínio aparentemente invulnerável. Nesta réplica alucinada, todavia, por mais vitorioso que Humpty-Dumpty se considere, quem escorregou na lógica foi ele. Nem podia ser de outro modo, pois sua cabeça (cabeça? ou corpo? Alice não sabe se a faixa que o circunda é uma gravata ou um cinto) funciona, como tudo nesse mundo surreal, por um processo de inversão da realidade.  

      Preocupada com a situação daquele estranho ser com formato de ovo – sentado sobre um muro do qual poderia a qualquer momento cair, espatifando-se –,  Alice quer saber a causa de estar ele ali tão só. Sua dúvida situa-se em um núcleo da frase interrogativa, precisamente aquele que corresponderia ao motivo desconhecido, e por isso mesmo questionado: “por quê?”. A resposta a uma interrogação nuclear deve preencher o vazio do mundo interrogante com um conteúdo esclarecedor. Os demais elementos da frase já são do conhecimento de Alice e equivalem a uma asserção: “O senhor está sentado aí tão sozinho”.   

      Se Humpty-Dumpty não queria responder ao que ela indagava, então dissesse algo como “não me amole”, ou “o problema é meu”. Mas, como ele pretendeu satisfazer a curiosidade da menina, esperava-se um adjunto ou uma oração adverbial de causa, que poderia ser “por preguiça”, “por não ter coisa mais interessante para fazer”, ou ainda “porque este é um bom lugar e porque gosto de estar só”. 

      A frase marota de Humpty-Dumpty é engraçada porque, em que pese sua aparente lógica, ele não respondeu à pergunta feita. Ignorando o item “estar aí sentado”, que se inclui na dúvida de Alice, pretendeu esclarecer somente a causa de sua solidão. Na verdade, porém, limitou-se a definir o que é estar sozinho: é não ter ninguém consigo. Sua resposta é parecida com ele e com seu nome: os dois lados de um ovo são praticamente iguais.    

      Menos que uma definição, suas palavras são uma redundância, uma imagem espelhada de algo que Alice já sabia, visto que acabara de dizê-lo.  

      O fundamento dessa confusão armada por Humpty-Dumpty é de natureza gramatical – mais especificamente, sintática: ele não utilizou, como deveria, uma oração subordinada causal (o que a menina esperava), mas uma coordenada explicativa, que não esclarecia a dúvida de Alice. 

      O problema, então, é distinguir a explicativa da causal, quando a conjunção que as encabeça é, fonética e fonologicamente, a mesma: porque. De um ponto de vista sintático, porém, não o é. Aliás, “não o são” – no plural, visto que se trata de duas conjunções diferentes.  

      Como distingui-las? Não é simples. Mas esperamos que, ao término das reflexões que vamos desenvolver, isso fique, no mínimo, claro. Ou até fácil. Mário de Andrade não diz que “abasta a gente saber”? 

 (CARONE. Flávia de Barros. Coordenação e subordinação, confrontos e contrastes. São Paulo: Ática, 1988, p. 7-9.)

“A resposta a uma interrogação nuclear deve preencher o vazio do mundo interrogante com um conteúdo esclarecedor” (§ 2), afirma-se no texto. Dentre as interrogações nucleares a seguir, aquela cujo núcleo interrogativo é um pronome encontra-se em:

Alternativas
Comentários
  • ONDE ESTÃO SEUS PAIS, LETRA E

  • Mesmo a pergunta sendo estranha: o núcleo interrogativo, eu dava por certo ser o gabarito ser a letra E.

    Como digo as vezes e minha mãe que é professora diz também "O nosso português não é nosso", pois nem um brasileiro é capaz de entender todas as regras e invenções que alguns "intelectuais" (aparecidos mesmo) fazem para complicar, a cada dia que se passa, o "nosso" português. Assim como nosso país, a nossa língua também é uma baderna.

  • GABARITO: A

    Ignoro a QUEM (núcleo interrogativo=pronome) ela está querendo se referir.

  • GAB A

    Pronomes Interrogativos

    São usados na formulação de perguntas, sejam elas diretas ou indiretas. Assim como os pronomes indefinidos, referem-se à 3ª pessoa do discurso de modo impreciso.

    São pronomes interrogativos: que, quem, qual (e variações), quanto (e variações).

    Por exemplo:

    Quem fez o almoço?/ Diga-me quem fez o almoço.

    Qual das bonecas preferes? / Não sei qual das bonecas preferes.

    Quantos passageiros desembarcaram? / Pergunte quantos passageiros desembarcaram.

    https://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf53.php

  • A)Ignoro a quem ela está querendo se referir.- GABARITO

    B)Gostaria de saber como você está se sentindo hoje.- NÚCLEO INTERROGATIVO: ADVÉRBIO DE MODO

    C)É bom que me diga por que brigou com sua mãe.-NÚCLEO INTERROGATIVO: PREPOSIÇÃO+ PRONOME

    D)Pergunto-lhe quando me devolverá os livros.-NÚCLEO INTERROGATIVO:ADVÉRBIO DE TEMPO

    E)Faça o favor de me dizer onde estão seus pais.-NÚCLEO INTERROGATIVO:ADVÉRBIO DE LUGAR