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ID
2978383
Banca
FCC
Órgão
SEMEF Manaus - AM
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

            O brasileiro gosta de pensar que o Brasil é uma nação acolhedora, que recebe imigrantes de braços abertos. Em termos de dados históricos e estatísticos, não é bem assim. Apesar da imigração maciça promovida por sucessivos governos durante o Império e o primeiro período republicano, sempre houve debates sobre o tipo de imigrante que seria mais desejável, passando pela rejeição explícita a determinados grupos. Na década de 1860, a questão da imigração de chineses atingiu proporções de grande controvérsia e chegou a ser debatida no parlamento. O consenso era de que devia ser impedida para evitar o suposto risco de degeneração racial. Pelo mesmo motivo, a pseudociência da época desaconselhava a entrada de mais africanos, para além dos milhões que já haviam ingressado escravizados no país. Em 1890, já sob a República, a entrada de asiáticos foi efetivamente barrada por decreto. [...]

            O imigrante ideal, para as autoridades brasileiras daquele tempo, era branco e católico. De preferência, com experiência em agricultura e disposto a se fixar nas zonas rurais. Braços para a lavoura, era o que se dizia, e uma injeção de material genético selecionado com o intuito de “melhorar a raça”. [...]. A preferência por imigrantes católicos seguia a premissa de que seriam de assimilação fácil e não ameaçariam a composição cultural da jovem nação. Aqueles no poder queriam que o brasileiro continuasse do jeitinho que era, só que mais branco. Seguindo as premissas eugênicas então em voga, acreditava-se que o sangue europeu, tido como mais forte, venceria o sangue africano e ameríndio, eliminando-os paulatinamente. Essa política de branqueamento já foi documentada, ad nauseam, por nossa historiografia. Ela é o pano de fundo ideológico para o crescimento da cidade de São Paulo, onde a porcentagem de italianos ficou acima de 30% entre as décadas de 1890 e 1910, período em que a população aumentou quase dez vezes.

            Os doutores daquela época não conseguiram o que almejavam, por três motivos. O primeiro, concreto, é que as doutrinas científicas em que acreditavam eram falsas. Não existe raça pura, em termos biológicos, muito menos a superioridade de uma sobre outra. O segundo, circunstancial, é que a fonte de imigrantes na Europa foi secando antes que a demanda por trabalhadores no Brasil se esgotasse. Quando o navio Kasato Maru atracou no porto de Santos em junho de 1908, com 165 famílias japonesas a bordo, era o reconhecimento implícito de que os interesses econômicos iriam prevalecer sobre a ideologia eugenista. A imigração em massa de japoneses para o Brasil, ao longo do século 20, não somente descarrilou o projeto de branqueamento como também quebrou o paradigma de que não católicos eram inassimiláveis. Os japoneses ficaram e se fixaram. Seus descendentes tornaram-se brasileiros, a despeito de muito preconceito e até perseguição. Conseguiram essa proeza, de início, porque se mantiveram isolados no interior do país. Longe da vista, como fizeram meus avós e bisavós.

            O terceiro motivo do fracasso do modelo de assimilabilidade católica é conceitual. Seus defensores partiam de um pressuposto falso: o de que a população brasileira era homogênea em termos de religião. [...] o mito do bom imigrante católico ignorava estrategicamente a presença de judeus, muçulmanos e protestantes no Brasil. Os três grupos estiveram presentes desde a época colonial e, cada um a seu modo, contribuíram para a formação do país.

(CARDOSO, Rafael. O Brasil é dos brasileiros. Revista Serrote, no 27, pp. 45 e 47, 2018) 

Segmentos do texto receberam redação alternativa. A que - estando clara e correta, segundo a norma-padrão da língua - não prejudica o sentido original é:

Alternativas
Comentários
  • Nesse tipo de questão, devemos procurar ou um erro gramatical crasso, ou uma mudança brusca de sentido, aí eliminamos a alternativa e seguimos:

    (A) Apesar da imigração maciça […], sempre houve debates sobre o tipo de imigrante que seria mais desejável… / Ainda que tenha havido imigração maciça […], sempre ocorreram debates sobre que traços fundamentais deveria um imigrante exibir para que fosse considerado o tipo mais desejável.

    Esse é nosso gabarito. “Apesar da” e “Ainda que” são conectivos concessivos e podem ser substituídos, levando em conta a adaptação no verbo, que foi feita corretamente na alternativa. “Houve” e “ocorreram” são sinônimos, apenas a concordância foi ajustada, porque “Haver” é impessoal e “Ocorrer” não é…

    (B) Braços para a lavoura, era o que se dizia, e uma injeção de material genético selecionado com o intuito de “melhorar a raça”. Se dizia que era “Braços para a lavoura” e uma injeção de material genético selecionado com a intensão de “melhorar a raça”.

    A grafia correta é “intenção”, bastava isso para eliminar o item.

    (C) Seguindo as premissas eugênicas então em voga, acreditava-se que o sangue europeu, tido como mais forte, venceria o sangue africano e ameríndio, eliminando-os paulatinamente. Em concordância com as teorias eugênicas então em vigor, havia a crença que o sangue europeu, comprovadamente mais forte, chegaria a vencer o sangue africano e ameríndio, eliminados que seriam fatalmente.

    Há vários problemas: “tido como mais forte” dá ideia de uma opinião— considerado mais forte; já “comprovadamente mais forte” traz o fato como verdade absoluta. Além disso, faltou a preposição obrigatória na oração completiva nominal: “crença DE que o sangue europeu…”; por fim, “paulatinamente” é gradativamente, não é sinônimo de “fatalmente”.

    (D) O segundo, circunstancial, é que a fonte de imigrantes na Europa foi secando antes que a demanda por trabalhadores no Brasil se esgotasse. O segundo foi fruto de uma circunstância: o Brasil teve necessidade de trabalhadores e a Europa secara a fonte de imigrantes. 

    “foi secando” é diferente de “secara”; o primeiro traz ideia progressiva; o segundo, ideia de fato já concluído num passado anterior a outro.

    (E) Seus descendentes tornaram-se brasileiros, a despeito de muito preconceito e até perseguição. / Seus descendentes converteram-se em brasileiros, despertando muito preconceito, incluído até a perseguição.

    “a despeito de” tem sentido de concessão, sem qualquer relação com “despertar”; pronto, vamos para a próxima.

    Gabarito letra A.

    Fonte:

  • GABARITO A

     

    Um conjunção só pode ser substituída por outra que expresse o mesmo sentido:

     

    Apesar de/embora/se bem que/mesmo que/ainda que/conquanto/ posto que...

     

    São conjunções concessivas e só podem ser substituídas por concessivas sem que seja alterado o sentido. 

  • GABARITO A.

    LETRA C: um dos erros.

    VOGA diferente de VIGOR.

    Vogar é navegar, flutuar.

    Vigor é força, energia.

  • Acertei por eliminação, mas achei a questão bem confusa !!!!!

  • Outro erro na B, a oração iniciando com próclise: Se dizia que ...

  • Stephanie, a significação de "voga" no contexto da assertiva C é este: "Condição de ser popular; popularidade, renome, reputação"; e o de "vigor" seria este: Caráter do que é vigente; vigência".

  • Atenção também a manutenção de sentido das frases originais. Achei a questão cansativa pela quantidade de elementos a que se deve dar atenção

  • Nossa, a letra A) parece bem estranha pra mim.

    a)Apesar da imigração maciça […], sempre houve debates sobre o tipo de imigrante que seria mais desejável… / Ainda que tenha havido imigração maciça […], sempre ocorreram debates sobre QUE traços fundamentais deveria um imigrante exibir para que fosse considerado o tipo mais desejável.

    É isso mesmo?? SEMPRE OCORRERAM DEBATES SOBRE QUE TRAÇOS???

    Esse QUE aí não deveria estar concordando com o plural de TRAÇOS??

    SEMPRE OCORRERAM DEBATES SOBRE QUAIS TRAÇOS.....

  • ... a professora dá quase a entender que nao existe a palavra a palavra INTENSÃO. Existe, sim! Não com o sentido para reputar a questão. INTENÇÃO. Consultem o VOLP ou qualquer dicionário para atestar.