SóProvas


ID
2981347
Banca
IF Sul Rio-Grandense
Órgão
IF Sul Rio-Grandense
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                Consciência do consumo no ambiente digital

Hora dedicada à navegação é hora que deixou de ser aproveitada com algo que nos alimenta

                                                                                                                                   Hélio Mattar


      Recente pesquisa da HootSuite, em parceira com a We Are Social, aponta o Brasil como o terceiro país que mais usa a internet ao longo do dia. Em média, cada brasileiro chega a ficar, diariamente, mais de 9 horas online. Considerando apenas o uso de celulares, passa, por dia, mais de quatro horas conectado e, desse total, cerca de 3 horas e meia são gastas nas redes sociais. Ficamos atrás apenas dos tailandeses e dos filipinos.

      A internet empodera as pessoas de várias formas, seja pelo mar de informações que oferece, permitindo que estejamos sempre antenados, em contato com as tendências mundiais e nos conectando a pessoas em qualquer lugar do mundo, seja pela praticidade e facilidade com que permite a busca de soluções rápidas para necessidades específicas.

      Ao mesmo tempo, também nos permite retomar contato com pessoas que fizeram parte de nossas vidas no passado ou ter a chance de encontrar novos amigos com interesses em comum. Além disso, facilita o desenvolvimento de novas habilidades ou a busca de emprego, partes de uma lista de benefícios bastante extensa.

      Essa dedicação enorme de tempo, recurso tão precioso quanto incerto em sua disponibilidade pela vida, deve nos levar a uma autoavaliação: será que estamos usufruindo desse bem de forma consciente? E esse consumo em ambientes digitais nos leva a um consumo de produtos impensado e excessivo?

      Muitas vezes, ao acessar a internet em busca de um assunto específico, somos rapidamente direcionados para outros que nos distanciam de nosso foco inicial em questão de segundos. Perder o foco pode ser uma armadilha que, sem percebermos, nos leva a dedicar horas e horas de nosso tempo, deixando de valorizar ou priorizar outras atividades importantes em nossa rotina.

      Basta fazer a conta: tomando as 24 horas de um dia, supondo que dormimos por 8, trabalhamos ou estudamos por mais 8, e considerando o tempo gasto nas refeições, no banho e no deslocamento de casa ao trabalho, restam de 4 a 6 horas para nossas relações pessoais, com amigos ou familiares. Nesse sentido, é essencial levar em conta o que é realmente importante em nossas vidas quando pensamos no tempo dedicado ao ambiente digital.

      Assim, enquanto as pessoas gastam seu tempo em feeds de redes sociais ou em portais de notícias e informação, são simultaneamente provocadas, em uma frequência crescente, pelo aparecimento de anúncios de diversas marcas e produtos. Se nos meios de comunicação tradicional já éramos provocados de tempos em tempos pela publicidade, agora esse “de tempos em tempos” tornou-se ainda mais frequente, dependendo da política incorporada pela rede social ou pelo portal específico.

      Em recente pesquisa (https://iabbrasil.com.br/pesquisa-bcg-a-jornada-rumo-a-maturidade-digital-no-brasil/) do Boston Consulting Group (BCG), foi observado que os consumidores brasileiros são muito receptivos ao marketing digital, principalmente quanto a temas de seu interesse. A pesquisa afirma que: “Diferente do que muitos podem imaginar, o consumidor brasileiro tende a clicar em anúncios pagos, principalmente se forem temas que o interessam (…) 56% deles se declaram inclinados a clicar em algum anúncio digital quando o veem, número que pode chegar a mais de 75% quando os anúncios são de seu interesse. Inclusive, 84% desses consumidores não utiliza ad blockers de forma sistemática. Além disso, cerca de 65% dos consumidores indicaram que comprariam mais se recebessem abordagem mais personalizada, e mais de 60% disseram que mudariam a opção de compra por outra marca, em troca de experiência mais personalizada”.

      Esse comportamento vem sendo, com razão, amplamente utilizado pelas empresas em suas estratégias de publicidade. Segundo dados divulgados em 2017 pela Social Media Trends, 92,1% das empresas estão presentes nas redes sociais e, de acordo com estudo da Ironpaper, 93% das decisões de compra são influenciadas pelas mídias sociais. Adicionalmente, a pesquisa E-commerce Trends de 2017 aponta que as lojas virtuais que publicam em blogs alcançam 3 vezes mais visitas e 2,5 vezes mais clientes do que as que não investem nas estratégias de conteúdo.

      Além disso, é sabido que as estratégias de publicidade consideram cuidadosamente as informações fornecidas pelas pessoas sobre assuntos que as interessam, permitindo um direcionamento da comunicação que chega até elas. O consumo digital, portanto, nos torna mais passíveis de receber ofertas direcionadas especificamente aos nossos interesses e implica em uma maior probabilidade de incentivar comportamentos típicos de compras excessivas, que nos levam, como o Akatu gosta de apontar, a “comprar produtos ou serviços que não precisamos, muitas vezes com o dinheiro que não temos e, em muitos casos, para impressionar quem nem conhecemos direito”.

      Nesse sentido, o tempo gasto no ambiente digital contribui para todos os impactos negativos dos comportamentos de compras excessivas sobre as pessoas, a sociedade e o meio ambiente. Sobre as pessoas, pela tensão derivada da pressão para consumir. Sobre a sociedade, pela inadimplência provocada pelas compras impensadas e pelo crédito tomado sem o cuidado necessário. E sobre o meio ambiente, pelos impactos das cadeias de produção que intensificam os impactos em várias áreas, entre elas sobre o aquecimento global em função do volume crescente de transporte de produtos.

      Na compra de produtos em excesso, não nos damos conta de que, além do possível endividamento, estamos dedicando nosso tempo à leitura de anúncios, às compras em si – com todas as consequências em termos de tempo dedicado ao pagamento e acompanhamento do envio –, à conferência do débito e ao pagamento, tempo este que poderia ser dedicado ao nosso próprio desenvolvimento, à nossa própria satisfação e alegria, por meio do contato com familiares e amigos, da leitura de livros, da apreciação da arte e do aperfeiçoamento do espírito.

      Isso não implica em dizer que o e-commerce, é algo ruim. Em muitas ocasiões, as compras virtuais podem ser uma boa alternativa por viabilizar o acesso a uma maior gama de produtos e serviços, possibilitar uma compra mais adequada, poupando tempo e até mesmo dinheiro por facilitar também a comparação de preços. Porém, o que não se pode deixar de lado é a reflexão a respeito do porquê comprar, compreendendo a real necessidade de determinado produto ou serviço, de qual a melhor forma de adquiri-lo e dos impactos de tal compra sobre nós mesmos, a sociedade e o meio ambiente.

      O objetivo deste artigo, portanto, é trazer à consciência dos leitores o fenômeno relativamente recente do consumo de tempo no ambiente digital e dos seus possíveis impactos, ainda pouco percebidos, mas que devem ser ponderados frente à preciosidade desse recurso tão perecível e disponível em apenas um tanto de nossas vidas. A cada hora desperdiçada em algo que não tem importância, uma hora deixou de ser aproveitada com algo que nos alimenta e nos apoia como humanos. Vale refletir a respeito!

Disponível em:<https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helio-mattar/2018/10/consciencia-do-consumo-no-ambiente-digital.shtml>  Acesso em: 04 nov. 2018. (Texto adaptado).

Com base em convenções gramaticais relativas a regência, leia as afirmações a seguir, marcando (V), para as verdadeiras, e (F), para as falsas.


( ) Em “...será que estamos usufruindo desse bem de forma consciente?” (4º parágrafo), o verbo “usufruir” não admite complemento preposicionado, o que torna obrigatória a substituição de “desse” por “esse”.

( ) Em “...informações fornecidas pelas pessoas sobre assuntos que as interessam...” (10º parágrafo), o pronome pessoal oblíquo “as” deveria ser substituído por “lhes”, dada a transitividade do verbo “interessar”.

( ) Em “O consumo digital [...] implica em uma maior probabilidade...” (10º parágrafo), o verbo “implicar” não admite complemento preposicionado quando empregado no sentido de “acarretar”, o que torna equivocado o uso de “em” antes de “uma maior probabilidade”.

( ) Em “... nos levam, como o Akatu gosta de apontar, a ‘comprar produtos ou serviços que não precisamos...’.” (10º parágrafo), a transitividade do verbo “precisar” torna necessário incluir a preposição “de” antes do pronome relativo.


A sequência correta, de cima para baixo, é

Alternativas
Comentários
  • Em II), Nas acepções de “captar ou prender a atenção, a curiosidade”, “excitar-se”, o verbo interessar é transitivo direto!

  • Gabarito: A

  • "Em '...informações fornecidas pelas pessoas sobre assuntos que as interessam...' (10º parágrafo), o pronome pessoal oblíquo “as” deveria ser substituído por “lhes”, dada a transitividade do verbo 'interessar.'"

    O gabarito devia ser alterado para alternativa C. Protesto quanto à posição da banca considerar esse verbo transitivo direto. Do meu ponto de vista, é transitivo indireto e deve haver como complemento o pronome oblíquo "lhes": interessam-lhes ou lhes interessam.

  • Só acertei pcausa da última!

  • Discordo do gabarito, pois para mim, nesse contexto, interessar pede complemento regido por preposição, logo, o lhes é um pronome oblíquo átono que cumpre essa função.

  • Acertei pois " quem interessa, interessa EM alguma coisa"...rsrsrrs...matei a questão aqui !!

  • Também discordo do gabarito, salvo melhor juízo a alternativa correta deveria ser a C. Vamos indicar para o comentario do professor. 

  • gente eu estava muito confusa com o verbo precisar. fui pesquisar e achei esse comentário que eclareceu tudo.

     

    Quanto ao verbo “precisar”, usualmente, na linguagem relativa ao português contemporâneo, duas colocações são admitidas:

    - No caso de o complemento ser um substantivo ou pronome, o correto é usarmos a preposição. Assim sendo, ele se classifica como transitivo indireto.
    Observe:

    Preciso de carinho e atenção.

    Preciso de você.


    - Quando o complemento é um verbo no infinitivo, a preposição não é exigida. Analise:

    Preciso sair.
    Preciso relaxar um pouco.

  • O verbo “interessar” pode assumir significados diversos e, portanto, possuir uma regência para cada um de seus sentidos. Veja:

    1) Com o significado de “dizer respeito a”, “importar”, “ser proveitoso”, “ser do interesse de”, será verbo transitivo direto ou verbo transitivo indireto.

    Exemplo:

    Pensei que a compra os interessasse de imediato.

    2) Nas acepções de “captar ou prender a atenção, a curiosidade”, “excitar-se”, o verbo é transitivo direto.

    Exemplo:

    A possibilidade da compra de um carro novo interessou-me de imediato.

    3) No sentido de “ter interesse”, “tirar utilidade, lucro ou proveito”, o verbo pede um objeto indireto antecedido pela preposição em.

    Exemplo:

    Não havia ninguém que se interessasse no investimento.

    4) Quando significa “atrair”, “provocar interesse ou a curiosidade de”, é um verbo transitivo direto e indireto.

    Exemplo:

    Foi fácil interessar-me pela compra de um carro novo.

    5) Com o significado de “empenhar-se”, “tomar interesse por”, possui forma reflexiva e pede um objeto indireto antecedido pelas preposições “em” e “por”.

    Exemplo:

    Ela se interessou imediatamente pela compra do carro novo.

    Fonte:

  • PLEASE, ALGUM PROFESSOR PARA COMENTAR?

  • A meu ver, essa questão deveria ser anulada porque há duas respostas certas:

    O verbo “interessar” pode assumir significados diversos e, portanto, possuir uma regência para cada um de seus sentidos. Veja:

    1) Com o significado de “dizer respeito a”, “importar”, “ser proveitoso”, “ser do interesse de”, será verbo transitivo direto ou verbo transitivo indireto.

    Exemplo:

    Pensei que a compra os interessasse de imediato.

    2) Nas acepções de “captar ou prender a atenção, a curiosidade”, “excitar-se”, o verbo é transitivo direto.

    Exemplo:

    A possibilidade da compra de um carro novo interessou-me de imediato.

    Fonte: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/gramatica/regencia-verbo-interessar.htm

  • LETRA A

  • Regra 4 : Use preposição antes do PRONOME RELATIVO ( que ,quem,cujo,o qual, onde) sempre que o termo posposto a ele exigir .

    não entendi a segunda, indicar para o professor, por favor !

  • LETRA A

    Sob protesto contra esse gabarito! Deveria ser a letra C

  • Pois digo que é C.
  • Monitor do QC também apontou gabarigo como Letra C.

    É só ir na aba "gabarito comentado".

  • Regência do verbo interessar

    1º) Usa-se, indiferentemente, como transitivo direto ou indireto, nas acepções de "dizer respeito a", "importar", "ser proveitoso", "ser do interesse de":

    o   Pensei que os interessasse estar ao corrente disto. (C. de Oliveira)

    o   E eu calculei que talvez a transação lhe interessasse. (G. Ramos)

    2º) é transitivo direto quando significa: "captar ou prender o espírito, a atenção, a curiosidade"; "excitar a":

    o   Ele percebeu então que falara demais, a ponto de interessá-la, e olhou-a rapidamente de lado. (C. Lispector)

    3º) Emprega-se com objeto indireto introduzido pela preposição em nos sentidos de "ter interesse", "tirar utilidade, lucro ou proveito":

    o   O rei interessava em que os concelhos fossem poderosos e livres. (A. Herculano)

    4º) é transitivo direto e indireto quando significa "atrair", "provocar o interesse ou a curiosidade de":

    o   Foi fácil para ele interessar toda a cidade na incrível figurinha de Shirley Temple. (A. Dourado)

    5º) No sentido de "empenhar-se", "tomar interesse por", tem forma reflexa e faz-se acompanhar de objeto indireto encabeçado por uma das preposições em ou por:

    o   Zazá não se interessava muito pelo futebol. (R. Couto)

    FONTE: https://www.aulete.com.br/gram/cap11-15-regencia

    Acredito que o avaliador considerou que o verbo obedeceria ao exposto no 1º caso da explicação acima, ou seja, seria facultativo o uso do lhe, pois aceitam-se as duas transitividades.

  • verbo "interessar", com o significado de "importar", "ser proveitoso" ou "captar a atenção" pode ser transitivo direto - (A matéria interessou os alunos) - ou transitivo indireto, exigindo a preposição "a": Esse assunto interessa a toda a gente.

  • Até mesmo alguns verbos transitivos indiretos não aceitam “lhe” como objeto indireto: Assistir (com sentido de ser espectador); Aspirar (com sentido de almejar); proceder; presidir; recorrer; aludir; anuir. Nesses casos, teremos que usar o pronome oblíquo tônico: a ele(a)(s).

    Portanto, estão equivocadas expressões como estas abaixo:

     Ex.: Quero lhe ver.

     Ex.: Comprei o filme, mas não tive tempo para assistir-lhe... (ver)

     Ex.: Não lhe recorro por orgulho.

    Estratégia Concursos - Porfessor Felipe Luccas