SóProvas


ID
2987269
Banca
FCC
Órgão
SEMEF Manaus - AM
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Os sons de antigamente

            Conta-se na família que quando meu pai comprou nossa casa em Cachoeiro do Itapemirim esse relógio já estava na parede da sala e que o vendedor o deixou lá, porque naquele tempo não ficava bem levar.

            Há poucos anos trouxe o relógio para minha casa em Ipanema. Mais velho do que eu, não é de admirar que ele tresande um pouco. Há uma corda para fazer andar os ponteiros e outra para fazer bater as horas. A primeira é forte, e faz o relógio se adiantar; de vez em quando alguém me chama a atenção para isso. Eu digo que essa é a hora de Cachoeiro. É comum o relógio marcar, digamos, duas e meia, e bater solenemente nove horas.

            Na verdade, essa defasagem não me aborrece nada: há muito desanimei de querer as coisas deste mundo todas certinhas, e prefiro deixar que o velho relógio badale a seu bel-prazer. Sua batida é suave, como costumam ser as desses senhores antigos; e esse som me carrega para as noites mais antigas da infância. Às vezes tenho a ilusão de ouvir, no fundo, o murmúrio distante e querido do meu Itapemirim.

            Pois me satisfaz a batida desse velho relógio, que marcou a morte de meu pai e, vinte anos depois, a de minha mãe; e que eu morra às quatro e quarenta da manhã, com ele marcando cinco e batendo onze, não faz mal nenhum; até é capaz de me cair bem. 

(Adaptado de BRAGA, Rubem. Casa dos Braga. Rio de Janeiro: Record, 1997, p. 115/117) 

Ao tratar do velho relógio de família que está com ele, o cronista considera

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA B

    ===> Na verdade, essa defasagem não me aborrece nada: há muito desanimei de querer as coisas deste mundo todas certinhas, e prefiro deixar que o velho relógio badale a seu bel-prazer. ===> um compartilhamento possível entre sua personalidade humana e o comportamento irregular do relógio herdado (compara o relógio com uma personalidade idosa, em que não funciona tão regularmente como antes).

    ===> Por que não, a E?

    sua aproximação cada vez mais afetiva com esse relógio, devido ao apego crescente aos bons tempos que ele soube marcar. ===> REALMENTE FORAM BONS TEMPOS?  que marcou a morte de meu pai e, vinte anos depois, a de minha mãe (MORTE NÃO É UM BOM TEMPO).

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • grande comentário arthur!!! grato

  • Pensei igualim que nem o Arthur. Comentário 5 estrelas!

  • Orando por um texto desse no TRF4. Tão lindo e de fácil entendimento... :(

  • Acredito que muitos, assim como eu, marcaram a letra e por conta desse trecho do texto:

    "Sua batida é suave, como costumam ser as desses senhores antigos; e esse som me carrega para as noites mais antigas da infância. Às vezes tenho a ilusão de ouvir, no fundo, o murmúrio distante e querido do meu Itapemirim."

    Mas notem que a alternativa fala sobre "apego crescente aos bons tempos"... e o texto não fala nada sobre terem sido bons tempos, então a alternativa acaba extrapolando um pouco.

  • Neste trecho (que eu morra às quatro e quarenta da manhã, com ele marcando cinco e batendo onze, não faz mal nenhum; até é capaz de me cair bem), encontrado no fim do texto, deixa-se a entender que as batidas dessincronizadas do relógio "caem bem" no autor. Assim, percebemos claramente que o autor reconhece compartilhar da mesma característica dessincronizada do objeto. Gabarito B.

  • Caraca 31% de acertos .

    Galera , a FCC extrapola o conteúdo sem dó , temos que conversar com o texto e mesmo assim pode dar errado,porém é a melhor forma .

    Eu logo de cara fiquei em duvida entre a D e a E ,no entanto li o texto três vezes e realmente a FCC extrapolou nessas todas .

    '' Pressão ,desafios e obstáculos são apenas oportunidades de crescimento!.''

  • ehh.... não

  • Fiquei entre a B e a E. Marquei a B, pois entendi que a E fala em apego "crescente". No entanto, o texto não fala que ele "foi se apegando cada vez mais" ao relógio.

    Ele trouxe o relógio da casa de seus pais por um apego que já existia, não foi aumentando no decorrer do texto.

    Isso que eu entendi.

  • Muito difícil essa, porque é muito sutil o erro de cada uma:

    AC) facilmente elimináveis

    B) correta, mas é muito sutil! O relógio foi mostrado repetidas vezes vezes que não marcava corretamente as horas, só que só tem um trecho em que foi mostrado que o autor também não tinha preocupação com precisão porque ele desanimou já

    D) erro por contradição: de todas as referências à eficiência do relógio, não temos uma sequer falando que ele alguma vez marcou o tempo corretamente, muito pelo contrário, só tem referências falando de que ele marcava errado

    E) erro por extrapolação: bons tempos? ele falou só que ele era criança, ninguém sabe se ele brincava o dia todo ou se apanhava de vara de marmelo todos os dias, depois ainda tem morte de mão e morte do pai (ele não falou se isso foi bom, ruim ou neutro)

  • Eu vi um toque de FGV nesta questão? Socorro Deus.

  • Extrapolação, a gente vê por aqui.

  • 2000 pessoas enganadas inclusive eu. Oremos...

  • Tu lê o texto "ah, que texto gostoso".

    Faz a primeira questão "nossa, até parece pegadinha de tão fácil".

    Pensa que pode relaxar e, na segunda questão, PÁ! Esqueceu que é FCC?

  • Só eu odeio a FCC.? Kkkkkkkk
  • nossa, la vem a fcc com as interpretações que só eles entendem.

    O cara fala de vários momentos da vida dele com o relógio, mas a resposta certa leva em consideração uma frase que ele usa pra dizer que agora leva a vida desencanado. O texto fala muito mais do passado do escritor com o relógio, do que do jeito que ele leva a vida atualmente.

  • Pessoal,

    O erro da E NÃO é a referência a "bons tempos". Nesse ponto, a alternativa está correta, pois o autor realmente comenta com muito afeto sobre seus dias de infância e o amor que sente pela época em que morava em Cachoeiro do Itapemirim.

    O erro da E na verdade está na intensidade crescente que é mencionada na assertiva. Vejam abaixo:

    "sua aproximação cada vez mais afetiva com esse relógio, devido ao apego crescente aos bons tempos que ele soube marcar."

    Em nenhum momento o texto afirma que o afeto do autor aos bons tempos cresce cada vez mais!! Foi aí que a FCC extrapolou. Se a alternativa E estivesse escrita da seguinte forma, suprimindo a intensidade crescente com o tempo....

    "sua aproximação afetiva com esse relógio, devido ao apego aos bons tempos que ele soube marcar."

    ... ela estaria correta!!

    Gab B

    Bons estudos!

  • Para a maioria que errou a questão, não vejo nada de bons tempos na morte de entes queridos (E).

    Gab. B)

  • Em nenhum momento ele compara o relógio a si mesmo. Não sei de onde a FCC tirou isso. Questão sem gabarito

  • Nesses 2 trechos observo um "possível" compartilhamento entre a pessoa do cronista e o funcionamento do relógio.

    "Na verdade, essa defasagem não me aborrece nada: há muito desanimei de querer as coisas deste mundo todas certinhas, e prefiro deixar que o velho relógio badale a seu bel-prazer."

    "e que eu morra às quatro e quarenta da manhã, com ele marcando cinco e batendo onze, não faz mal nenhum; até é capaz de me cair bem."