SóProvas


ID
3004636
Banca
Prefeitura do Rio de Janeiro - RJ
Órgão
Prefeitura de Rio de Janeiro - RJ
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto: Zap


      Não faz muito que temos esta nova TV com controle remoto, mas devo dizer que se trata agora de um instrumento sem o qual eu não saberia viver. Passo os dias sentado na velha poltrona, mudando de um canal para outro — uma tarefa que antes exigia certa movimentação, mas que agora ficou muito fácil. Estou num canal, não gosto — zap, mudo para outro. Não gosto de novo — zap, mudo de novo. Eu gostaria de ganhar em dólar num mês o número de vezes que você troca de canal em uma hora, diz minha mãe. Trata-se de uma pretensão fantasiosa, mas pelo menos indica disposição para o humor, admirável nessa mulher.

      Sofre, minha mãe. Sempre sofreu: infância carente, pai cruel etc. Mas o seu sofrimento aumentou muito quando meu pai a deixou. Já faz tempo; foi logo depois que nasci, e estou agora com treze anos. Uma idade em que se vê muita televisão, e em que se muda de canal constantemente, ainda que minha mãe ache isso um absurdo. Da tela, uma moça sorridente pergunta se o caro telespectador já conhece certo novo sabão em pó. Não conheço nem quero conhecer, de modo que — zap — mudo de canal. “Não me abandone, Mariana, não me abandone!” Abandono, sim. Não tenho o menor remorso, em se tratando de novelas: zap, e agora é um desenho, que eu já vi duzentas vezes, e — zap — um homem falando. Um homem, abraçado à guitarra elétrica, fala a uma entrevistadora. É um roqueiro. Aliás, é o que está dizendo, que é um roqueiro, que sempre foi e sempre será um roqueiro. Tal veemência se justifica, porque ele não parece um roqueiro. É meio velho, tem cabelos grisalhos, rugas, falta-lhe um dente. É o meu pai.

      É sobre mim que fala. Você tem um filho, não tem?, pergunta a apresentadora, e ele, meio constrangido — situação pouco admissível para um roqueiro de verdade —, diz que sim, que tem um filho, só que não o vê há muito tempo. Hesita um pouco e acrescenta: você sabe, eu tinha de fazer uma opção, era a família ou o rock.

      A entrevistadora, porém, insiste (é chata, ela): mas o seu filho gosta de rock? Que você saiba, seu filho gosta de rock? Ele se mexe na cadeira; o microfone, preso à desbotada camisa, roça-lhe o peito, produzindo um desagradável e bem audível rascar. Sua angústia é compreensível; aí está, num programa local e de baixíssima audiência — e ainda tem de passar pelo vexame de uma pergunta que o embaraça e à qual não sabe responder. E então ele me olha. Vocês dirão que não, que é para a câmera que ele olha; aparentemente é isso, aparentemente ele está olhando para a câmera, como lhe disseram para fazer; mas na realidade é a mim que ele olha, sabe que em algum lugar, diante de uma tevê, estou a fitar seu rosto atormentado, as lágrimas me correndo pelo rosto; e no meu olhar ele procura a resposta à pergunta da apresentadora: você gosta de rock? Você gosta de mim? Você me perdoa? — mas aí comete um erro, um engano mortal: insensivelmente, automaticamente, seus dedos começam a dedilhar as cordas da guitarra, é o vício do velho roqueiro, do qual ele não pode se livrar nunca, nunca. Seu rosto se ilumina — refletores que se acendem? — e ele vai dizer que sim, que seu filho ama o rock tanto quanto ele, mas nesse momento zap — aciono o controle remoto e ele some.

Moacyr Scliar, “Zap”, in: Os cem melhores contos brasileiros do século. Sel. de Ítalo Moriconi. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, pág. 555. Adaptado.

A forma correta para se reescrever o segmento “Uma idade em que se vê muita televisão...” (2º parágrafo), substituindo o pronome relativo em destaque por outro, é:

Alternativas
Comentários
  • Uma idade na qual......se vê..

  • GABARITO : C

    "em que".. EM + A = NA

  • GABARITO: LETRA C

     “Uma idade em que se vê muita televisão...”

    ===> se vê muita televia EM QUE idade ===> não temos o artigo aqui.

    ===> Uma idade na qual se vê muita televisão ===> em + a = na ===> na qual.

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Com a preposição em: no qual, na qual, nos quais, nas quais.

  • Bizu : O pronome relativo “cujo” (e suas variações) tem valor de posse e fica entre dois

    substantivos.

  • Substituição dos pronomes relativos

    Que = a qual, o qual, os quais, as quais. 

    Quem= que

    Onde = em que, na qual, no qual

    Como = Pelo qual

    Em que = no qual, na qual, nos quais, nas quais

    De que = do que, da que 

    Por que = pelo qual, pela qual

    Quando = em que

  • O pronome “cujo” tem como principais características:

    I - Indica posse e sempre vem entre dois substantivos, possuidor e possuído;

    II - Não pode ser seguido nem precedido de artigo, mas pode ser antecedido por preposição; (Para lembrar: nada de cujo o, cuja a, cujo os, cuja as...)

    III - Não pode ser diretamente substituído por outro pronome relativo

  • KKKKKKKKKK MANO , QUAL A NECESSIDADE DE COPIAR E COLAR O COMENTÁRIO DO ARTHUR ?

    Acrescenta algo, por favor. Ou pelo visto é só carência de atenção mesmo.

  • GAB CCCC

    QUESTÃO ÓTIMA PARA REVISAR NO FUTURO

    em que = na qual

  • GABARITO= C

    EM QUE = NA QUAL

    AVANTE AMIGO, UM DIA CHEGA A POSSE.

  • Cujo SEMPRE entre dois substantivos; não é substituível quando é utilizado !!

    em + a= na QUAL --> Gab C

  • Uma idade na qual se vê muita televisão

  • “Uma idade em que se vê muita televisão.."

    Uma idade na qual se vê muita televisão

    GABARITO: C

  • Galera que o pai saiu pra comprar cigarro e não voltou chorando baldes na hora da prova! Kkkkkkkk