SóProvas


ID
3017686
Banca
NUCEPE
Órgão
Prefeitura de Teresina - PI
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO 7

                                      Medo da Eternidade


      Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade.

      Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.

      Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:

      – Tome cuidado para não perder, porque esta bala nunca se acaba. Dura a vida inteira.

      [...]

      Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas. Peguei a pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre. [...]

      Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.

      – E agora que é que eu faço? – perguntei para não errar no ritual que certamente deveria haver.

      – Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários. Perder a eternidade? Nunca. O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a escola.

      – Acabou-se o docinho. E agora?

       – Agora mastigue para sempre.

      Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da ideia de eternidade ou de infinito.

      Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar.

      Até que não suportei mais, e, atravessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia.

      – Olha só o que me aconteceu! – disse eu em fingidos espanto e tristeza. – Agora não posso mastigar mais! A bala acabou!

      – Já lhe disse – repetiu minha irmã – que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.

      Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra na boca por acaso.

      Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.

Adaptação de Clarice Lispector. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999, p. 289-291.  

As formas verbais destacadas a seguir classificam-se, quanto à transitividade, respectivamente como


Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou [...] Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA A

    → Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou [...] Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre.

    → respectivamente: "juntou" (quem junta, junta alguma coisa → complemento sem preposição → verbo transitivo direto); quem sai, sai (verbo intransitivo, não é necessário um complemento, o termo "de casa" é um advérbio de lugar); quem pode acreditar, pode acreditar EM algo (verbo transitivo indireto → pede preposição "em" → acredita EM algo → no (em+o =no) milagre).

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! ☻

  • Esse Arthur passa o dia inteiro respondendo perguntas de português hahahahha Nunca vi nada igual. O cara está em todas.

  • Chegar, Ir, Vir, Sair, Voltar, Subir e todos os verbos de movimento são intransitivos, não exigem complementos (Chegamos! Cheguei! Fui!). Esses verbos, geralmente, apresentam um adjunto adverbial. Quando o adjunto adverbial for de lugar, usa-se a preposição [a], [para] e não [em]: Chegamos ao teatro (e não: no). Gab. A

    Fonte: Site recanto das letras

  • juntou algo, saiu, e acredita em algo

    #Partiuposse!​

  • Quando o complemento do verbo estiver expressando lugar, tempo, meio, modo, companhia, assunto ou causa, teremos um VI (verbo intransitivo) e o complemento exercerá a função sintática de adjunto adverbial, vejamos:

    Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola (lugar) me explicou [...] Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre.

    Qualquer erro, só sinalizar. Bons estudos :D

  • Gab, A

    A malicia da banca foi grifar o podia acreditar e induzir o candidato à não perceber nenhuma preposição entre eles e associar com transitivo direto, e achar que o no milagre se encaixasse como a parte indireta do VTDI.

  • Esse Arthur comenta todas deste informatica, RL, juridica....

  • Sair é um verbo Intransitivo.

    Sabendo disso, mata-se a questão tranquilamente.

    Gab.: A

  • Sair é um verbo Intransitivo.

  • "Quem sai, sai." Verbo intransitivo.