SóProvas


ID
3023002
Banca
CEV-URCA
Órgão
Prefeitura de Mauriti - CE
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                            Linguagem politicamente correta


      Era o ano de 1971. Eu fora convidado a fazer uma conferência no Union Theological Seminary de Nova York. Na minha fala, usei a palavra “homem” com o sentido universal de “todos os seres humanos”, incluindo não só os homens, que a palavra nomeava claramente, como também as mulheres, que a palavra deixava na sombra. Era assim que se falava no Brasil.

      Depois da conferência, fui jantar no apartamento do presidente. Sua esposa, delicada, mas firmemente, deu-me a devida reprimenda.

      “Não é politicamente correto usar a palavra ‘homem’ para significar também as mulheres. Como também não é correto usar o pronome ‘ele’ para se referir a Deus. Deus tem genitais de homem? Esse jeito de falar não foi inventado pelas mulheres. Foi inventado pelos homens, numa sociedade em que eles tinham a força e a última palavra. É sempre assim: quem tem força tem a última palavra...”

      O que aprendi com aquela mulher naquele jantar é que as palavras não são inocentes. Elas são armas que os poderosos usam para ferir e dominar os fracos.

      Os brancos norte-americanos inventaram a palavra “niger” para humilhar os negros. E trataram de educar suas crianças. Criaram uma brincadeira que tinha um versinho que ia assim: “Eeny, meeny, miny, moe, catch a niger by the toe”...Quer dizer “Agarre um crioulo pelo dedão do pé” (aqui no Brasil, quando se quer diminuir um negro, usa-se a palavra “crioulo”). Foi para denunciar esse uso ofensivo da palavra que os negros cunharam o slogan “black is beautiful” (“o negro é bonito”). A essa linguagem de protesto, purificada de sua função de discriminação, deu-se o nome de linguagem politicamente correta (“PC language”).

      A regra fundamental da linguagem politicamente correta é a seguinte: nunca use uma palavra que humilhe, discrimine ou zombe de alguém. Encontre uma forma alternativa de dizer a mesma coisa. Não se deve dizer “Ele é aleijado”, “Ele é cego”, “Ele é deficiente” etc. O ponto crucial é o verbo “ser”. O verbo ser torna a deficiência de uma pessoa parte da sua própria essência. Ela é a sua deficiência. A “PC language”, ao contrário, separa a pessoa da sua deficiência. Em vez de “João é cego”, “João é portador de uma deficiência visual.” Essa regra se aplica a mim também.

      Por exemplo: “Rubem Alves é velho”. Inaceitável. Porque chamar alguém de velho é ofendê-lo — muito embora eu não saiba quem foi que decretou que velhice é ofensa. (O título do livro do Hemingway deveria ser mudado para “O idoso e o mar”?)

      As salas de espera dos aeroportos são lugares onde se pratica a linguagem politicamente correta o tempo todo. Aí, então, na hora em que se convocam os “portadores de necessidades especiais” para embarcar — sendo as necessidades especiais cadeiras de roda, bengalas, crianças de colo —, convocam-se também os velhos, eu inclusive.

      Mas, sem saber que palavra ou expressão usar para se referir aos velhos sem ofendê-los, houve alguém que concluiu que o caminho mais certo seria chamar os velhos pelo seu contrário. Assim, em vez de convocar velhos ou idosos pelos alto-falantes, a voz convoca os cidadãos da “melhor idade”. A linguagem politicamente correta pode se transformar em ridículo. Chamar velhice de “melhor idade” só pode ser gozação. É claro que a “melhor idade” é a juventude.

      Quero, então, fazer uma sugestão que agradará aos velhos. A voz chama para embarcar os “cidadãos da ‘idade é terna’”. Não é bonito ligar a velhice à ternura? Rubem Alves

(Pub. Folha de São Paulo em 16/03/2010)

Relacione a segunda coluna de acordo com o que está contido na primeira coluna, estabelecendo uma relação de significado, em seguida marque a alternativa que corresponda corretamente: 


(1) o crisma

(2) a relva 

(3) a crisma 

(4) a ética 

(5) a cabeça 

(6) o moral 


( ) a moral

( ) um sacramento a crisma

( ) o ânimo 

( ) o óleo santo

( ) a grama 

( ) parte do corpo

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA D

    → questão bem loucona, vamos resolver pelos óbvios e mais fáceis (em verde, já descobrimos a resposta):

    (4) a moral → a ética

    (3) um sacramento a crisma → A CRISMA (ação de crismar)

    (6) o ânimo → o moral (ânimo) → O moral da equipe estava terrível

    (1) o óleo santo → o crisma

    (2) a grama → a relva

    (5) parte do corpo → A CABEÇA

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! ☻

  • Se fosse uma questão de ética, nunca que ética é sinônimo de moral, no mais....

  • galera, estudar pra concurso nunca foi só estudar, no mais, força fé e foco.

  • Gabarito D

    Respondi pela ética/cabeça

  • a cabeça (parte do corpo) o cabeça (líder, chefe)

    a capital (cidade) o capital (dinheiro, bens)

    a lotação (capacidade) o lotação (automóvel)

    a moral (valor, ética, conclusão) o moral (ânimo, autoestima)

    a rádio (estação) o rádio (objeto)

    a caixa (objeto) o caixa (funcionário)

    a cisma (desconfiança) o cisma (separação)

    a crisma (cerimônia católica) o crisma (óleo santo)

    a águia (animal) o águia (pessoa esperta)

    a cabra (animal) o cabra (pessoa valente)

    a grama (relva) o grama (unidade de peso)

    a banana (fruta) o banana (pessoa covarde, palerma)

    Fonte: A Gramática para Concursos Públicos, cujo autor é Fernando Pestana