SóProvas


ID
3028603
Banca
VUNESP
Órgão
Câmara de Piracicaba - SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

              Com Bernardo, Lenine e Grassi, num sábado de outono, no Inhotim


      “Sabe de uma coisa? Nós vivemos muito pouco”, disse Bernardo. Lenine tocou de leve em seu antebraço, e concordou, emendando com uma história da Dona Terezinha, vizinha de seu sítio no Vale das Videiras, em Petrópolis, onde instalou o seu orquidário. Ela tem uma sapucaia, que produz um ouriço usado no cultivo de algumas espécies. Bateu na sua casa:

      – Dona Terezinha, eu vi que a senhora tem uma sapucaia. A senhora pode me ceder uma muda? Preciso do ouriço para algumas orquídeas.

      – Posso! Mas quem planta sou eu.

      Dona Terezinha colheu a muda, levou, plantou, fez a reza e molhou. Ia embora, ouviu, pelas costas:

      – Dona Terezinha, muito obrigado. Mas quando é que vou poder colher o ouriço?

      Pensou, coçou a cabeça, e... “daqui a uns 60 ou 70 anos, meu filho”.

      Uma longa gargalhada explodiu na mesa. O show do Lenine em Inhotim, neste sábado, trouxe um sopro de vida eterna ao ambiente. A conversa pausada, cheia de casos e histórias, era observada por Grassi com atenção. Inhotim está vivo, cada vez mais vivo, era a mensagem, era o astral no meio daquele paraíso que de perdido não tem nada.

      Lembrando a polêmica sobre a filosofia, Lenine mandou:

      – Aristóteles jogou a toalha. No final da vida, depois de tanta filosofia, escreveu que o mais importante era rir.

      E se o riso precede a felicidade e, com ela, os hormônios da longevidade, viveremos um pouco mais depois deste sábado musical e iluminado de outono, em Inhotim.

      Com a noite chegando, os corações se juntaram naquela mesa. A vegetação nos acolheu, luz e sombra bordando os contrastes, pensamentos voando. Um sombrio Bernardo se revelou. Retirado desde os últimos acontecimentos, vive serenando as reflexões, salvando lembranças. Mas não desiste do sonho:

      – Com o rompimento da barragem, tivemos que reduzir custos. Outro dia descobri que acabaram com o Coral e a Orquestra formada por gente da região. Mandei voltar. Tem coisa que não pode cancelar.

      Bernardo, neste ponto, se afasta da gestão e olha para a transcendência da arte como solução. Não adianta cortar custo de coisas que são para sempre. Música, canto, arte. O Inhotim tem, agora, responsabilidade dobrada: a revitalização de toda uma região devastada pela tragédia.

                   (Afonso Borges. https://blogs.oglobo.globo.com, 28.04.2019. Adaptado)

Com relação ao conteúdo que o antecede no penúltimo parágrafo, o comentário – Tem coisa que não pode cancelar. – exprime uma

Alternativas
Comentários
  • Gab: A

    "Mandei voltar. Tem coisa que não pode cancelar."

    > O comentário exprime uma justificativa, veja que é pelo fato de que há coisas que não podem acabar, que eu mandei voltar.

  • Mandei voltar, visto que/ já que, porque tem coisa que não pode cancelar. Letra A

  • Faço parte dos 50% dos que marcaram letra B.

    É preciso ter disciplina pois nem sempre estaremos motivados.

  • Tem sentido de JUSTIFICATIVA - Dica! Essa conjunção vem fortemente sinalizada pela presença de um VERBO no Imperativo anterior.

    "Mandei voltar. Tem coisa que não pode cancelar."

  • Primeiramente, veja se as orações exprimem sentido de dependência (isso facilita um pouco). No caso da questão não temos dependência. Ambas tem sentido completo se as deixarmos distantes.

    A) (GABARITO!!!) justificativa. - Explicativa. Pode usar as conjunções: pois (antes do verbo), porque, porquanto...

    B) ressalva. - Adversativa pode dá esse sentido. Temos: mas, porém, contudo, entretanto, todavia...

    C) síntese. - Seria resumir o que foi dito, trocar por miudos. Temos: Ou seja, isto é...

    D) consequência. - Aqui teríamos que ter uma oração subordinada, em primeiro lugar. Temos: de forma que, Tão...que, de modo que...

    E) concessão. - É necessária que a oração seja subordinada. Temos: Embora, mesmo que, posto que...

  • Justificando o motivo de mandar voltar. "Tem coisa que não pode cancelar"

  • Mandei voltar. Porquê? Tem coisa que não pode cancelar. (justificando)

  • GABARITO : A

    Substitua as pontuações por conjunções que exprimem a ideia das orações.

    "Embora" Outro dia descobri que acabaram com o Coral e a Orquestra formada por gente da região, Mandei voltar "Já que," Tem coisa que não pode cancelar.

    Embora -> ideia de concessão

    Já que -> causal

    Abraço

  • Essa questão exige que o candidato saiba como identificar a relação semântica entre as orações em um discurso. No trecho selecionado para a análise, há uma oração principal e outras subordinadas a ela (Tem coisa/ que não pode/ cancelar), no entanto, devemos buscar a relação entre esse período e o período anterior. Segundo o discurso, há uma ordem ("Mandei voltar") e uma explicação para ela.


    "– Com o rompimento da barragem, tivemos que reduzir custos. Outro dia descobri que acabaram com o Coral e a Orquestra formada por gente da região. Mandei voltar. Tem coisa que não pode cancelar."

    Por isso, devemos levar e consideração o período sublinhado, para que possamos encontrar o sentido expresso na justaposição das duas ideias.


    De acordo com o enunciado da questão, devemos procurar o sentido expresso pelo período selecionado ou, em outras palavras, a relação entre esse período e a informação anterior a ele.


    Tomando essas informações como base, vamos para a análise de cada opção:


    Letra A: CORRETA. O período selecionado apresenta uma explicação em relação ao período anterior. Poderíamos construir o período dessa forma, sem prejuízo de sentido: "Mandei voltar porque tem coisa que não pode ser cancelada.".  Perceba que a conjunção explicativa consegue unir os dois períodos e manter exatamente o que eles querem dizer. Como o período analisado estabelece um significado de justificativa em relação ao período anterior, essa opção está correta.


    Letra B: INCORRETA. Devemos lembrar que uma ressalva é uma exceção ou uma condição para que algo aconteça. Caso inseríssemos uma conjunção condicional entre os períodos, perceberíamos que o sentido foi modificado. No caso de "Mandei voltar, se fosse cancelado", inserimos a conjunção condicional e modificamos a oração para que ela se adeque à nova estrutura. Perceba que modificamos o sentido original, o período analisado não é condição do primeiro, por isso, essa opção está incorreta.


    Letra C: INCORRETA. O conteúdo do período selecionado não sintetiza a ideia "Mandei voltar". Para haver uma síntese, a ideia principal precisaria ser repetida, o que não ocorre no trecho. A síntese é uma forma de transcrever uma ideia de maneira curta, rápida e eficaz. Por isso, apesar de ser um período composto por orações curtas, ainda assim, ele não estabelece esse significado com o período anterior. Esta opção está incorreta.


    Letra D: INCORRETA. Para que haja a relação de consequência entre os períodos, devemos imaginar que "Mandei voltar" é causa de "Tem coisa que não pode cancelar.". Para que exista a relação de causa/consequência, a ideia central do período analisado não poderia acontecer sem a ideia do período anterior, o que não acontece. Nesse caso, a posição dos períodos é essencial para a compreensão da narrativa: o não cancelamento não é consequência da volta da orquestra, é motivo, por isso essa opção está incorreta.


    Letra E: INCORRETA. Para existir o sentido de concessão é necessário termos ideias opostas ou que mostram dois lados de um mesmo argumento. Para tanto o  primeiro período precisaria conceder a razão para algo que não é defendido ao longo do texto, para logo em seguida, no período analisado, haver uma refutação dessa ideia. Isso não ocorre no trecho selecionado, pois "Mandei voltar" é uma ordem que está sendo complementada com um motivo para justificá-la. Por isso, a Letra E está incorreta.


    Gabarito do professor: Letra A.