SóProvas


ID
3045241
Banca
Prefeitura do Rio de Janeiro - RJ
Órgão
Prefeitura de Rio de Janeiro - RJ
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto: Pescando na margem do rio


      Era um homem muito velho, que cada manhã acordava certo de que aquela seria a última. E porque seria a última, pegava o caniço, a latinha de iscas, e ia pescar na beira do rio. As poucas pessoas que ainda se ocupavam dele reclamaram, a princípio. Que aquilo era perigoso, que ficava muito só, que poderia ter um mal súbito. Depois, considerando que um mal súbito seria solução para vários problemas, deixaram que fosse, e logo deixaram de reparar quando ia. O velho entrou, assim, na categoria dos ausentes.

      Ausente para os outros, continuava docemente presente para si mesmo.

      Ia ao rio com a alma fresca como a manhã. Demorava um pouco para chegar porque seus passos eram lentos, mas, não tendo pressa alguma, o caminho lhe era só prazer. Não havia nada ali que não conhecesse, as pedras, as poças, as árvores, e até o sapo que saltava na poça e as aves que cantavam nos galhos, tudo lhe era familiar. E, embora a natureza não se curvasse para cumprimentá-lo, sabia-se bem-vindo.

      O dia escorria mais lento que a água. Quando algum peixe tinha a delicadeza de morder o seu anzol, ele o limpava ali mesmo, cuidadoso, e o assava sobre um fogo de gravetos. Quando nenhuma presença esticava a linha do caniço, comia o pão que havia trazido, molhado no rio para não ferir as gengivas desguarnecidas.

      À noite, em casa, ninguém lhe perguntava como havia sido o seu dia.

      Fazia-se mais fraco, porém.

      E chegou a manhã em que, debruçando-se sobre a água antes mesmo de prender a isca na barbela afiada, viu faiscar um brilho novo. Apertou as pálpebras para ver melhor, não era um peixe. Movido pela correnteza, um anzol bem maior do que o seu agitava-se, sem isca. Por mais que se esforçasse, não conseguiu ver a linha, enxergava cada vez menos. Nem havia qualquer pescador por perto.

      O velho não descalçou as sandálias, as pedras da margem eram ásperas.

      Entrou na água devagar, evitando escorregar. Não chegou a perceber o frio, o tempo das percepções havia acabado. Alongou-se na água, mordeu o anzol que havia vindo por ele, e deixou-se levar.

Marina Colasanti. In: Hora de Alimentar Serpentes. São Paulo: Global, 2013. Páginas 363 – 364.

Em “tudo lhe era familiar. E, embora a natureza não se curvasse para cumprimentá-lo”, os pronomes pessoais oblíquos em destaque estão corretamente empregados. Obedecendo à norma relativa à língua padrão, os mesmos pronomes, na mesma ordem, devem ser utilizados para preencher as lacunas em:

Alternativas
Comentários
  • Quem proporciona, proporciona alguma coisa a alguém logo se usa o LHE indicando o objeto indireto.

    Quem cumprimenta, cumprimenta alguém, logo se usa O por ser objeto direto e em próclise por causa do adverbio de negação não.

    GAB. A

  • GABARITO: LETRA A

    → tudo lhe era familiar. E, embora a natureza não se curvasse para cumprimentá-lo” → resumindo, queremos uma lacuna que caiba o "lhe → complemento nominal, adjunto adnominal ou objeto indireto" e o pronome oblíquo átono "o", que assumem formas especiais depois de certas terminações verbais. Quando o verbo termina em -z, -s ou -r, o pronome assume a forma lo, los, la ou las.

    a) O contato com a natureza LHE proporcionava bem-estar; o ambiente O acariciava. → proporcionava algo (contato) a alguém (lhe → a ele → objeto indireto); acariciava alguma coisa (o → objeto direto).

    b) Nenhuma pessoa O acompanhava em suas pescarias, mas a solidão não O incomodava. → acompanhava algo e incomodava algo (pronome que deve ser usado é o "o", sendo um objeto direto).

    c) Entre o velho e as pessoas que O conheciam havia um abismo; a indiferença O magoava. → conhecia alguém e magoava alguém (pronome que deve ser usado é o "o", sendo um objeto direto).

    d) Sentiram, mais tarde, falta do pescador e quando O procuraram, já não O encontraram. → procuraram alguém e encontraram alguém (pronome que deve ser usado é o "o", sendo um objeto direto).

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! ☺

  • LO e O é a mesma coisa ?

    achei que quando o enunciado diz que " os mesmos pronomes, na mesma ordem " significa dizer que LO É LO e O é O

  • GAB AAAAAA

    O contato com a natureza LHE proporcionava bem-estar; o ambiente O acariciava.

    proporcionava -> vtdi

    proporcionava isso A ele

  • A questão exige conhecimento de colocação pronominal.

    O pronome lhe é usado para complemento verbal indireto, complemento nominal e adjunto adnominal

    La e Lo são usados como complementos verbais diretos quando os verbos são terminados com R, S, Z e só são usados em ênclise e quando em próclise usam o "a, e o".

    a) O contato com a natureza LHE proporcionava bem-estar; o ambiente O acariciava.

    O verbo proporcionar exige um objeto indireto, proporcionar A alguém.

    Acariciar é transitivo direto e seu complemento é o O. CORRETA.

    b) Nenhuma pessoa O acompanhava em suas pescarias, mas a solidão não O incomodava.

    Os dois verbos são transitivos diretos e estão em próclise, por isso usam como complemento o "o". INCORRETA

    c) Entre o velho e as pessoas que O conheciam havia um abismo; a indiferença O magoava

    Os dois verbos são transitivos diretos e estão em próclise, por isso usam como complemento o "o". INCORRETA.

    d) Sentiram, mais tarde, falta do pescador e quando O procuraram, já não O encontraram.

    Os dois verbos são transitivos diretos e estão em próclise, por isso usam como complemento o "o". INCORRETA.

    GABARITO A