SóProvas


ID
3047806
Banca
CETAP
Órgão
Prefeitura de São Miguel do Guamá - PA
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                    Ética de princípios.

                                                                                                                 Rubem Alves

      AS DUAS ÉTICAS: a ética que brota da contemplação das estrelas perfeitas, imutáveis e mortas, a que os filósofos dão o nome de ética de princípios, e a ética que brota da contemplação dos jardins imperfeitos e mutáveis, mas vivos - a que os filósofos dão o nome de ética contextual.

      Os jardineiros não olham para as estrelas. Eles nada sabem sobre os estrelas que alguns dizem já ter visto por revelação dos deuses. Como os homens comuns não veem essas estrelas, eles têm de acreditar na palavra dos que dizem já as ter visto longe, muito longe ... Os jardineiros só acreditam no que os seus olhos veem. Pensam a partir da experiência: pegam a terra com as mãos e a cheiram...

      Vou aplicar a metáfora a uma situação concreta. A mulher está com câncer em estado avançado. É certo que ela morrerá. Ela suspeita disso e tem medo. O médico vai visitá-la. Olhando, do fundo do seu medo, no fundo dos olhos do médico ela pergunta: “Doutor, será que eu escapo desta?”

      Está configurada uma situação ética. Que é que o médico vai dizer? Se o médico for um adepto da ética estrelar de princípios, a resposta será simples. Ele não terá que decidir ou escolher. O princípio é claro: dizer a verdade sempre. A enferma perguntou. A resposta terá de ser a verdade. E ele, então, responderá: “Não, a senhora não escapará desta. A senhora vai morrer ...”. Respondeu segundo um princípio invariável para todas as situações.

      A lealdade a um princípio o livra de um pensamento perturbador: o que a verdade irá fazer com o corpo e a alma daquela mulher? O princípio, sendo absoluto, não leva em consideração o potencial destruidor da verdade. Mas, se for um jardineiro, ele não se lembrará de nenhum princípio. Ele só pensará nos olhos suplicantes daquela mulher. Pensará que a sua palavra terá que produzir a bondade. E ele se perguntará: “Que palavra eu posso dizer que, não sendo um engano - 'A senhora breve estará curada ...' -, cuidará da mulher como se a palavra fosse um colo que acolhe uma criança?” E ele dirá: “Você me faz essa pergunta porque você está com medo de morrer. Também tenho medo de morrer ...”. Aí, então, os dois conversarão longamente - como se estivessem de mãos dadas ... - sobre a morte que os dois haverão de enfrentar.

      Com o sugeriu o apóstolo Paulo, a verdade está subordinada à bondade. Pela ética de princípios, o uso da camisinha, a pesquisa das células-tronco, o aborto de fetos sem cérebro, o divórcio, a eutanásia são questões resolvidas que não requerem decisões: os princípios universais os proíbem. Mas a ética contextual nos obriga a fazer perguntas sobre o bem ou o mal que uma ação irá criar. O uso da camisinha contribui para diminuir a incidência da Aids? As pesquisas com células-tronco contribuem para trazer a cura para uma infinidade de doenças? O aborto de um feto sem cérebro contribuirá para diminuir a dor de uma mulher? O divórcio contribuirá para que homens e mulheres possam recomeçar suas vidas afetivas? A eutanásia pode ser o único caminho para libertar uma pessoa da dor que não a deixará?

      Duas éticas. A única pergunta a se fazer é: “Qual delas está mais a serviço do amor?” 

Sobre a forma verbal “haverão” em: “(...) os dois haverão de enfrentar.”, é incorreto afirmar:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA B

    → lembrando que queremos a alternativa incorreta, é uma questão bacana para entender acerca do verbo "haver" sendo pessoal, visto que todas estão corretas menos a "b":

    → Há um desvio da norma culta em seu emprego, deveria estar no singular → não há incorreção, visto que está conjugado pois pertence a uma locução verbal, sendo o verbo auxiliar, concordando com o sujeito "os dois".

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! ☺

  • ''(Eles)os dois haverão de enfrentar''...Visto que queremos a incorreta,o verbo concordando com o sujeito ''os dois'' tem que está no plural.

  • Inquestionável o erro da alternativa "b". Porém, a letra "a" apresenta, salvo engano, um problema, pois realmente as formas verbais "haja" e "hajamos" são, respectivamente, 1ª pessoa do singular e do plural, mas do "presente do subjuntivo", e o tempo do verbo auxiliar na frase está no "futuro do presente" do modo indicativo, causando uma "certa confusão". O que vocês acham?

  • JAIRO RODRIGUES até acredito que pode causar certa confusão. Porém, a banca não disse que haja e hajamos está no mesmo tempo/ modo do verbo na frase indicada. Apenas disseram que são, respectivamente, 1ª pessoa do singular e do plural.

    No mais, esse Haver pessoal é um dos verbos mais complicados das provas de concurso.

    Gab.: B

  • ATENÇÃO É TUDO

  • O verbo haver só será invariável quando tiver sentido de existir e acontecer. Nesse caso tem sentido de deverão se enfrentar / terão que se enfrentar