SóProvas


ID
307459
Banca
MS CONCURSOS
Órgão
TRE-SC
Ano
2009
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

A "NÃO­ME­TOQUES" ! 

Artur Azevedo 



Passavam­se  os  anos,  e Antonieta  ia  ficando para  tia,  ­  não  que  lhe  faltassem  candidatos, 
mas  ­  infeliz  moça!  ­  naquela  capital  de  província  não  havia  um  homem,  um  só,  que  ela 
considerasse digno de ser seu marido. Ao Comendador Costa começavam a inquietar seriamente as 
exigências  da  filha,  que  repelira,  já,  com desdenhosos muxoxos,  uma  boa  dúzia  de  pretendentes 
cobiçados pelas principais donzelas da cidade. Nenhuma destas se casou com rapaz que não fosse 
primeiramente enjeitado pela altiva Antonieta. 
­- Que  diabo!  dizia  o  comendador  à  sua mulher, D. Guilhermina,  ­  estou  vendo  que  será 
preciso encomendar­lhe um príncipe! 
­-  Ou  então,  acrescentava  D.  Guilhermina,  esperar  que  algum  estrangeiro  ilustre,  de 
passagem nesta cidade.. 
­- Está você bem aviada! Em quarenta anos que aqui estou, só dois estrangeiros  ilustres cá 
têm vindo: o Agassiz e o Herman. 
Entretanto,  eram  os  pais  os  culpados  daquele  orgulho  indomável.  Suficientemente  ricos 
tinham dado à  filha uma educação de  fidalga, habituando­a desde pequenina  a ver  imediatamente 
satisfeitos os seus mais custosos e extravagantes caprichos. 
Bonita, rica, elegante, vestindo­se pelo último figurino, falando correntemente o francês e o 
inglês,  tocando muito  bem  o  piano,  cantando  que  nem  uma  prima­dona,  tinha Antonieta  razões 
sobejas para se julgar um avis rara na sociedade em que vivia, e não encontrar em nenhuma classe 
homem que merecesse a honra insigne de acompanhá­la ao altar. 
Uma grande viagem à Europa, empreendida pelo comendador em companhia da esposa e da 
filha,  completara  a  obra.  Ter  estado  em  Paris  constituía,  naquela  boa  terra,  um  título  de 
superioridade. 
Ao  cabo  de  algum  tempo,  ninguém  mais  se  atrevia  a  erguer  os  olhos  para  a  filha  do 
Comendador Costa, contra a qual se estabeleceu pouco a pouco certa corrente de animadversão. 
Começaram todos a notar­lhe defeitos parecidos com os das uvas de La Fontaine, e, como a 
qualquer indivíduo, macho ou fêmea, que estivesse em tal ou qual evidência, era difícil escapar ali a 
uma alcunha, em breve Antonieta se tornou conhecida pela "Não­me­toques". 

II 

Teria  sido  realmente  amada? Não, mas  apenas  desejada,  ­  tanto  assim  que  todos  os  seus 
namorados se esqueceram dela... 
Todos, menos  o mais  discreto,  o mais  humilde,  o  único  talvez,  que  jamais  se  atrevera  a 
revelar os seus sentimentos. 
Chamava­se  José  Fernandes,  e  era  o  primeiro  empregado  da  casa  do Comendador Costa, 
onde entrara aos dez anos de idade, no mesmo dia em que chegara de Portugal. 
Por  esse  tempo  veio  ao mundo Antonieta.  Ele  vira­a  nascer,  crescer,  instruir­se,  fazer­se 
altiva e bela. Quantas vezes a trouxera ao colo, quantas vezes a acalentara nos braços ou a embalara 
no berço! E, alguns anos depois, era ainda ele quem todas as manhãs a  levava e  todas as tardes ia 
buscá­la no colégio. 
Quando Antonieta chegou aos quinze anos e ele aos vinte e cinco, "Seu José" (era assim que 
lhe  chamavam)  notou que  a  sua  afeição por  aquela menina se  transformava,  tomando um  caráter 
estranho e indefinível; mas calou­se, e começou de então por diante a viver do seu sonho e do seu 
tormento.  Mais  tarde,  todas  as  vezes  que  aparecia  um  novo  pretendente  à  mão  da  moça,  ele 
assustava­se, tremia, tinha acessos de ciúmes, que lhe causavam febre, mas o pretendente era, como 
todos os outros, repelido, e ele exultava na solidão e no silêncio do seu platonismo.
Materialmente, Seu José sacrificara­se pelo seu amor. Era ele, como se costuma dizer (não 
sei com que propriedade) o "tombo" da casa comercial do Comendador Costa; entretanto, depois de 
tantos anos de dedicação e amizade, a sua situação era ainda a de um simples empregado; o patrão, 
ingrato e egoísta, pagava­lhe em consideração e elogios o que  lhe devia em  fortuna. Mais de uma 
vez apareceram a Seu José ocasiões de trocar aquele emprego por uma situação mais vantajosa; ele, 
porém, não tinha ânimo de deixar a casa onde ao seu lado Antonieta nascera e crescera. 

III 

Um dia, tudo mudou de repente. 
Sem  dar  ouvidos  a  Seu  José,  que  lhe  aconselhava  o  contrário,  o  Comendador  Costa 
empenhou a sua casa numa grande especulação, cujos efeitos foram desastrosos, e, para não fechar 
a porta, viu­se obrigado a fazer uma concordata com os credores. Foi este o primeiro golpe atirado 
pelo destino contra a altivez da "Não­me­toques". 
A casa  ia de novo se  levantando, e  já estava quase  livre dos seus compromissos de honra, 
quando  o Comendador Costa,  adoecendo  gravemente,  faleceu, deixando  a  família  numa  situação 
embaraçosa. 
Um  verdadeiro  deus  ex machina  apareceu  então  na  figura  de  Seu  José  que,  reunindo  as 
suadas  economias  que  ajuntara  durante  trinta  anos,  e  associando­se  a D. Guilhermina,  fundou  a 
firma Viúva Costa & Fernandes, e salvou de uma ruína iminente a casa do seu finado patrão. 

IV 

O estabelecimento prosperava a olhos vistos e era apontado como uma prova eloqüente de 
quanto  podem  a  inteligência,  a  boa  fé  e  a  força  de  vontade,  quando  o  falecimento  da  viúva D. 
Guilhermina veio colocar a  filha numa situação difícil... Sozinha, sem pai nem mãe, nem amigos, 
aos trinta e dois anos de idade, sempre bela e arrogante em que pesasse a todos os seus dissabores, 
aonde  iria  a  "Não­me­toques"? Antonieta  foi  a  primeira  a  pensar  que o  seu  casamento  com  José 
Fernandes era um ato que as circunstâncias impunham... [...] 
Começou  então  uma  nova  existência  para  Antonieta,  que,  não  obstante  aproximar­se  da 
medonha casa dos quarenta, era sempre formosa, com o seu porte de rainha e o seu colo opulento, 
de  uma  brandura  de  cisne.  As  suas  salas,  profundamente  iluminadas,  abriam­se  quase  todas  as 
noites para grandes e pequenas recepções: eram  festas sobre festas. Agora  já  lhe não chamavam a 
"Não­me­toques";  ela  tornara­se  acessível,  amável,  insinuante,  com  um  sorriso  sempre  novo  e 
espontâneo  para  cada  visita. Fizeram­lhe  a  corte,  e  ela,  outrora  impassível  diante  dos  galanteios, 
escutava­os  agora  com  prazer.  Um  galã,  mais  atrevido  que  os  outros,  aproveitou  o  momento 
psicológico e conseguiu uma entrevista ­ Esse primeiro amante foi prontamente substituído. Seguiu­ 
se outro, mais outro, seguiram­se muitos... 

VII 

E quando Seu José, desesperado, fez saltar os miolos com uma bala, deixou esta frase escrita num 
pedaço de papel: 
"Enquanto  foi  solteira,  achava minha mulher  que  nenhum  homem  era  digno  de  ser  seu marido; 
depois de casada (por conveniência) achou que todos eles eram dignos de ser seus amantes. Mato­ 
me”. 

Cor reio da Manhã, 12 de outubro de 1902. 
http://www.dominiopublico.gov.br /download/texto/bi000050.pdf 


Predominam, nas alternativas do exercício anterior , palavras: 

a) Província, exigências, indomável. 

b) Difícil, impassível, conveniência. 

c) Ninguém, fêmea, José.

d) Francês, inglês, porém. 

Alternativas
Comentários
  • A QUESTÃO SE REFERE À LISTA DE PALAVRAS DA QUESTÃO Q102483:
     
    Província (paroxítona)
    Exigências (paroxítona)
    Indomável (paroxítona)
    Difícil (paroxítona)
    Impassível (paroxítona)
    Conveniência (paroxítona)
    Ninguém (oxítona)
    Fêmea (paroxítona)
    José (oxítona)
    Francês (oxítona)
    Inglês (oxítona)
    Porém (oxítona)
     
    Portanto, predominam palavras paroxítonas e oxítonas. Alternativa correta: “A”.
     


  • Alternativa A

    Província: pro-vín-cia -> paroxítona

    Exigência: e-xi-gên-ci-a -> proparoxítona

    Indomável: in-do-má-vel -> paroxítona

    Difícil: di-fi-cíl -> paroxítona

    Impassível: im-pas-sí-vel -> paroxítona

    Convenicência: con-ve-ni-ên-cia ->paroxítona

    Ninguém: nin-guém ->  oxítona 

    Fêmea: fê-mea -> paroxítona

    José: jo-sé ->  oxítona 
     
    Francês: fran-cês -> oxítona

    Inglês: in-glês -> oxítona

    Porém: po-rém -> oxítona

      1 proparoxítona; 6 paroxítonas e 5 oxítonas.

  • Em certas situações especiais, os ditongos finais crescentes (semivogal + vogal) podem ser produzidos com hiatos.

    pro-vín-cia (paroxítona)                                  pro-vín-ci-a  (proparoxítona)
    i = semivogal  +  a = vogal                               i = vogal  +  a = vogal
    DITONGO CRESCENTE                                          HIATO

    O mesmo ocorre com as palavras: exigências, conveniência e fêmea.

    Obs:A letra A nunca é semivogal
  • Fêmea é paroxítona terminada em ditongo, galera. Vou repetir o comentário da questão anterior:

    Uma dica na separação silábica, para podermos observar a regra de pontuação:

    se a palavra terminar por encontro vocálico, como é o caso de "fêmea", veja a sílaba anterior; se for acentuada (como é o caso), ñ separa o encontro. Então seria: fê-mea.

    se a sílaba anterior não for acentuada, separamos o encontro: a-le-gri-a.



    Bons estudos! Não desanimem!
  • Introdução

    A categoria de palavras proparoxítonas aparentes foi criada no wikcionário para resolver o problema das palavras que são classificadas segundo seu acento tônico de uma maneira no Brasil e de outra em Portugal, especificamente aquelas que são acentuadas por terminarem em um ditongo crescente (-ea, -eo, -ia, -ie, -io, -ua, -ue, -uo) que são classificadas como paroxítonas terminadas em ditongo no Brasil, mas como proparoxítonas no restante da CPLP). Para mais detalhes, veja a discussão em Categoria Discussão:Paroxítona (Português).

    Divisão silábica

    Palavras como sério, bário, tília são consideradas como dissílabas no Brasil (suas divisões silábicas são respectivamente sé.rio, bá.rio, tí.lia) mas são vistas como trissílabas em Portugal, onde suas divisões silábicas seriam sé.ri.o, bá.ri.o, tí.li.a. O sinal de dois pontos (:) tem sido utilizado em dicionários para indicar estes encontros vocálicos que podem ser pronunciados tanto como ditongo quanto hiato.

    Para esses verbetes, há duas categorias de divisão silábica em cada verbete, uma válida no Brasil e outra em Portugal.

    Classificação segundo a sílaba tônica

    Uma consequência da divisão silábica diferente nos dois países é que a palavra pode ser considerada tanto como paroxítona como como proparoxítona. Em vez de apresentar essas duas classificações no verbete, foi decidido pela comunidade que seguiríamos a nomenclatura do Acordo Ortográfico de 1990 (em vigor no Brasil desde primeiro de janeiro de 2009), segundo o qual essas palavras são "proparoxítonas aparentes".

    Fonte: http://pt.wiktionary.org/wiki/Ajuda:Nota_sobre_a_divis%C3%A3o_sil%C3%A1bica_e_o_acento_t%C3%B4nico_das_proparox%C3%ADtonas_aparentes

  • Meu Pai! Por favor sigam a dica da Érika. Fêmea - É PAROXÍTONA -
  • Dá pra matar por eliminação.
  • exigência
    e.xi.gên.cia


    Logo ela é paroxitona
    Fonte: Michaelis









     

  • GABARITO: LETRA  A

    ACRESCENTANDO:

    Regra de Acentuação para Monossílabas Tônicas:

    Acentuam-se as terminadas em -a(s), -e(s), -o(s).

    Ex.: má(s), trás, pé(s), mês, só(s), pôs…

    Regra de Acentuação para Oxítonas:

    Acentuam-se as terminadas em -a(s), -e(s), -o(s), -em(-ens).

    Ex.: sofá(s), axé(s), bongô(s), vintém(éns)...

     

    Regra de Acentuação para Paroxítonas:

    Acentuam-se as terminadas em ditongo crescente ou decrescente (seguido ou não de s), -ão(s) e -ã(s), tritongo e qualquer outra terminação (l, n, um, r, ns, x, i, is, us, ps), exceto as terminadas em -a(s), -e(s), -o(s), -em(-ens).

    Ex.: história, cáries, jóquei(s); órgão(s), órfã, ímãs; águam; fácil, glúten, fórum, caráter, prótons, tórax, júri, lápis, vírus, fórceps.

     

    Regra de Acentuação para Proparoxítonas:

    Todas são acentuadas .Ex.: álcool, réquiem, máscara, zênite, álibi, plêiade, náufrago, duúnviro, seriíssimo...


    Regra de Acentuação para os Hiatos Tônicos (I e U):

    Acentuam-se com acento agudo as vogais I e U tônicas (segunda vogal do hiato!), isoladas ou seguidas de S na mesma sílaba, quando formam hiatos.

    Ex.: sa-ú-de, sa-í-da, ba-la-ús-tre, fa-ís-ca, ba-ú(s), a-ça-í(s)...

    FONTE: A GRAMÁTICA PARA CONCURSOS PÚBLICOS 3ª EDIÇÃO FERNANDO PESTANA.

  • E EU QUE ERREI PQ ACHEI QUE ERA PRA RELACIONAR A ALTERNATIVA COM CADA PALAVRA QUE ESTAVA NAS OPÇÕES ...SENHOOOOOR. DEU POR HOJE.