SóProvas


ID
3076954
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Porto Velho - RO
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                            Queremos a infância para nós


      O mundo anda bem atrapalhado: de um lado, temos crianças que se comportam, se vestem, falam e são tratadas como adultos. Do outro, adultos que se comportam, se vestem, falam e são tratados como crianças. Pelo jeito, infância e vida adulta têm hoje pouco a ver com idade cronológica.

      Não é preciso muito para observar sinais dessa troca: basta olhar as pessoas no espaço público. É corriqueiro vermos meninas vestidas com roupas de adultos, inclusive sensuais: blusas e saias curtas, calças apertadas, meia-calça e sapatos de salto. E pensar que elas precisam é de roupa folgada para deixar o corpo explodir em movimentos que devem ser experimentados... Mas sempre há um traço que trai a idade: um brinquedo pendurado, um exagero de enfeites, um excesso de maquiagem, etc.

      Se olharmos as adultas, vestidas com o mesmo tipo de roupa das meninas descritas acima, vemos também brinquedos, carregados como enfeites ou amuletos: nos chaveiros, nas bolsas, nos telefones celulares, nos carros. Isso sem falar nas mesas de trabalho, enfeitadas com ícones do mundo infantil.

      Criança pequena adora ter amigo imaginário, mas essa maravilhosa possibilidade tem sido destruída, pouco a pouco, pelo massacre da realidade do mundo adulto, que tem colaborado muito para desfazer a fantasia e o faz-de-conta. Mas os legítimos representantes desse mundo, por sua vez, não hesitam em ter o seu. Ultimamente, ele tem sido comum e ganhou o nome de deus. Não me refiro ao Deus das religiões e alvo da fé. A ideia de deus foi privatizada, e cada um tem o seu, à sua imagem e semelhança, mesmo sem professar religião nenhuma.

      O amigo imaginário dos adultos chamado de deus é aquele com quem eles conversam animadamente, a quem chamam nos momentos de estresse, a quem recorrem sempre que enfrentam dificuldades, precisam tomar uma decisão ou anseiam por algo e, principalmente, para contornar a solidão. Nada como ter um amigo invisível, já que ele não exige lealdade, dedicação nem cobra nada, não é?

      E o que dizer, então, das brincadeiras infantis que muitos adultos são obrigados a enfrentar quando fazem cursos, frequentam seminários ou assistem a aulas? É um tal de assoprar bexigas, abraçar quem está ao lado, acender fósforo para expressar uma ideia, carregar uma pedra para ter a palavra no grupo, escolher um bicho como imagem de identificação, usar canetas coloridas para fazer trabalhos, etc.

      Mas, se existe uma manifestação comum a crianças e adultos para expressar alegria, contentamento, comemoração e afins, ela tem sido o grito. Que as crianças gritem porque ainda não descobriram outras maneiras de expressar emoções, dá para entender. Aliás, é bom lembrar que os educadores não têm colaborado para que elas aprendam a desenvolver outros tipos de expressão. Mas os adultos gritarem desesperada e estridentemente para manifestar emoção é constrangedor. Com tamanha confusão, fica a impressão de que roubamos a infância das crianças porque a queremos para nós, não?

            SAYÃO, Rosely. “As melhores crônicas do Brasil”. In cronicasbrasil.blogspot.com. 

Das alterações feitas abaixo na redação do período “A ideia de deus foi privatizada, e cada um tem o seu, à sua imagem e semelhança, mesmo sem professar religião nenhuma” (4º §), foi mantido o sentido original em:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA D

    →  “A ideia de deus foi privatizada, e cada um tem o seu, à sua imagem e semelhança, mesmo sem professar religião nenhuma” >>> temos uma conjunção coordenativa aditiva, a qual marca uma adição de ideias, vamos eliminar através do uso das conjunções:

    A) A ideia de deus foi privatizada, pois cada um tem o seu, à sua imagem e semelhança, até sem professar religião nenhuma. >>> conjunção coordenativa explicativa, não é isso que queremos.

    B) Privatizaram a ideia de deus, para que cada um tenha o seu, à sua imagem e semelhança, contanto que não professe religião alguma. >>> preposição "para" marcando a finalidade, o fim, não é isso que queremos., além disso o "contanto" representa uma condição, não há isso no trecho original.

    C) A ideia de deus foi privatizada, de modo que cada um tem o seu, à sua imagem e semelhança, caso não professe nenhuma religião. >>> conjunção coordenativa consecutiva , não é isso que queremos.

    D) A ideia de deus foi privatizada, e, com isso, cada um tem o seu, à sua imagem e semelhança, mesmo que não professe religião alguma. >>> conjunção coordenativa aditiva e a nossa resposta.

    E) A ideia de deus foi privatizada, porém cada um tem o seu, à sua imagem e semelhança, conquanto não professe religião nenhuma. >>> conjunção coordenativa adversativa, não é isso que queremos.

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Eu peguei uma ideia um pouco diferente da do arthur, foquei no fim da frase  “A ideia de deus foi privatizada, e cada um tem o seu, à sua imagem e semelhança, mesmo sem professar religião nenhuma”

    Para mim o fim da frase passou ideia de concessão, o que se encaixa perfeitamente na alternativa D, conforme o colega colocou nas outras opções a única concessiva é a D.

     São elas: embora, ainda que, apesar de que, se bem que, mesmo que, por mais que, posto que, conquanto

  • mesmo sem professar= é uma reduzida. => "mesmo que não professe".

    Tem um valor concessivo.

    A letra D expressa um valor concessivo.