Em questões de interpretação e
compreensão textual, o(a) candidato(a) deve atentar para os seguintes
procedimentos de análise:
(I)
Identificação das ideias presentes em
fragmentos do texto OU
(II) Identificação
das ideias centrais do texto.
Quando se tratar de examinar o conteúdo
central do texto (II) – no caso em análise, a opinião do autor
acerca da felicidade humana –, devemos localizar o trecho cujo ponto de vista
defendido pelo escritor esteja explícito. Esse procedimento nos permite fazer
um exame mais preciso de cada opção, possibilitando, inclusive, verificar mais
rapidamente quando essas opções apresentam falhas na elaboração de suas informações
em relação ao que se apresenta no texto. Assim, além do exame dos fragmentos
textuais, devemos observar se as alternativas são construídas com as seguintes
falhas:
(1)
extrapolação do conteúdo:
quando a informação da opção está além do que se encontra no texto, total ou
parcialmente;
(2)
divergências de conteúdo:
quando o que se afirma na opção diverge em relação ao conteúdo que se
desenvolve no texto;
(3)
redução de conteúdo: quando a opção destaca parte de uma informação
textual em detrimento de todo o seu conteúdo.
Com base nessas orientações, retomemos,
inicialmente, a passagem do texto em que o autor aborda especificamente a
questão da felicidade.
Fragmento:
“Os historiadores raramente
fazem essas perguntas [Mas somos mais felizes?]. Mas essas são as perguntas mais
importantes que podemos fazer à história. (...) Considerando que os humanos geralmente usam suas capacidades para
aliviar sofrimento e satisfazer aspirações, decorre que devemos ser mais
felizes que nossos ancestrais medievais e que estes devem ter sido mais felizes
que os caçadores-coletores da Idade da Pedra. Mas esse relato progressista
não convence".
Como
discussão que embasa o ponto de vista do autor está a que relaciona os progressos
tecnológico-científicos, políticos e ideológicos à aquisição da felicidade
humana. A presença marcante do conectivo MAS, que expressa valor semântico de
adversidade, serve, nesse sentido, justamente para estimular a reflexão do
leitor de modo a sugerir que não há uma proporcionalidade entre progressos
materiais e conquista plena da felicidade humana. Essa insinuação fica clara se
retornarmos ao primeiro período desse parágrafo, no qual se afirma “os historiadores
raramente fazem essas perguntas". Ora, se os historiadores raramente se
questionam se somos mais felizes à medida que avançamos na História e nas
conquistas materiais, então a compreensão sobre a felicidade entre os homens
não faz parte de uma preocupação da História, ou seja, esse tema não é um
critério relevante para os historiadores avaliarem os efeitos das conquistas
tecnológicas, científicas e político-ideológicas nas sociedades humanas.
Em
resumo, para o autor, a felicidade não é um fator a ser considerado para a
avaliações de historiadores a respeito da evolução da espécie humana.
Sabendo
disso, como etapa seguinte de análise, vejamos o que se aborda em cada uma das
opções acerca do posicionamento do autor sobre a felicidade. Ressalta-se que as opções incorretas serão
comentadas de acordo com as falhas de conteúdos possíveis na elaboração dessas
alternativas (extrapolação, divergência e redução de conteúdo):
A) desafiou de tal forma
as aspirações humanas mais democráticas que hoje os homens vêm desistindo de
buscá-la.
ERRADA.
Claramente, identifica-se que há extrapolação do conteúdo, pois, em momento
algum, afirma-se no texto que o homem desistiu de buscar a felicidade – muito pelo
contrário, segundo o texto, deveríamos questionar se o homem é feliz à medida
que, historicamente, ele apresenta conquistas sociais e materiais. Assim, para
o autor, a felicidade pode ser identificada como busca incessante dos homens, mas
não necessariamente como efeito das conquistas materiais. A letra A apresenta
informações adicionais em relação ao conteúdo original do texto.
B) constituiu-se como uma meta idealista das
civilizações antigas que, no entanto, acabou por se esvaziar ao longo do
tempo.
ERRADA.
Notamos aqui uma divergência de conteúdo em relação ao que se apresenta
no texto. Isso porque, embora vejamos que o escritor apresenta a felicidade
como elemento idealista das sociedades humanas, não é verdade, segundo o que se
defende, que a meta de alcançá-la foi esvaziada ao longo do tempo. Os homens,
com o passar dos anos, diferentemente do que se mostra na letra B, estão ainda
mais envolvidos com os ideais de felicidade e de progresso da humanidade.
C) tornou-se um parâmetro tão rigoroso e obsessivo
para todos os povos que nenhum deles foi capaz de alcançá-la
ERRADA.
Temos,
mais uma vez, conteúdos que extrapolam as informações textuais. Não há passagens explícitas, nem indícios, no texto, de que a felicidade se tornou um “parâmetro
tão rigoroso e obsessivo", bem como não se encontra, de forma generalizante,
entre as palavras do autor a afirmação de que “nenhum povo foi capaz de alcança-la".
D) impôs-se desde sempre como algo impalpável, razão pela qual vem
merecendo a integral atenção dos humanistas.
ERRADA.
Aqui, temos tanto a extrapolação quanto a divergência de conteúdos. A
primeira ocorre quando se afirma que a felicidade “impôs-se desde sempre como
algo impalpável"; a segunda é identificada na informação de que ser feliz “vem
merecendo a integral atenção dos humanistas". Na verdade, segundo o texto, a
felicidade não vem merecendo integral atenção dos historiadores, e não daqueles
que se ocupam de questões filosóficas, ou ainda, da filosofia e da arte em
determinado período histórico.
E) nunca se apresentou como um critério que norteasse
e qualificasse as sucessivas etapas da história humana.
CORRETA.
No período “Os historiadores raramente fazem essas perguntas",
que inicia a apresentação do posicionamento do autor acerca da felicidade, podemos verificar que estes raramente (quase
nunca) se questionam sobre ser a felicidade um elemento relevante na avaliação
das etapas da história humana. Embora não haja sinonímia perfeita entre as
palavras “nunca" e “raramente" a letra E é aquela na qual se encontra a
correção do conteúdo uma vez que, segundo a linha argumentativa do escritor, o
advérbio “raramente" pode ser entendido como um modalizador textual, ou seja,
uma palavra que pode amenizar o impacto
da afirmação generalizante de que os historiadores “nunca" elegeram a
felicidade como um critério de avaliação das fases da história humana.
Resposta: E