No enunciado, pergunta-se em que opção está presente o conteúdo que
sustenta a afirmação de que “esse relato progressista não convence", presente
no último parágrafo do texto.
Para resolução mais eficaz, inicialmente, devemos resgatar o fragmento
integral para identificar qual seria o “relato progressista" mencionado pelo
autor. Localizado esse ponto, devemos encontrar o motivo que demonstra ser o
relato não convincente.
Essa metodologia se justifica porque, conceitualmente para
que as ideias de um texto possam apresentar progressão, ou seja, para que aprofundem
o tema apresentado, precisam, obrigatoriamente se alternar entre “informação velha"
e “informação nova", de modo que seja necessário realizar sucessivas retomadas
de informações anteriores para que a estas se acrescentem as desconhecidas.
Assim, dentro da progressão textual, deve ser feita a coesão referencial,
pois é o processo em que palavras e expressões resgatam conteúdos anteriores
para que o texto siga em continuidade temática.
Sendo assim, localizando, primeiramente, qual é o tipo de relato a
que se refere o autor e, posteriormente, o fragmento que o justifica,
encontraremos, sem maiores dificuldades, a resposta. Vejamos:
Fragmento:
“Os
historiadores raramente fazem essas perguntas. Mas essas são as perguntas mais
importantes que podemos fazer à história. A maioria dos programas ideológicos e
políticos atuais se baseia em ideias um tanto frágeis no que concerne à fonte
real de felicidade humana. [Em uma visão comum, as capacidades
humanas aumentaram ao longo da história. Considerando que os humanos geralmente
usam suas capacidades para aliviar sofrimento e satisfazer aspirações, decorre
que devemos ser mais felizes que nossos ancestrais medievais e que estes devem
ter sido mais felizes que os caçadores-coletores da Idade da Pedra]. Mas esse
relato progressista não convence".
Observemos que o termo coesivo “esse relato progressista" retoma o
que se imagina ou pensa segundo o senso comum, ou “uma visão comum", nas
palavras do autor. Assim, em um pensamento mais geral, pessoas tendem a pensar
que, nas narrações da vida comum, pela lógica, os homens de séculos mais
avançados, por terem mais condições e qualidade de vida, tendem a ser mais
felizes que seus ancestrais. No entanto, sabemos que o raciocínio desenvolvido
pelo autor contrapõe essa visão mais geral de mundo, o que se percebe
justamente pelo último período do texto que, iniciado pela conjunção
adversativa MAS rebate a lógica do pensamento comum cuja base, para o escritor,
apresenta uma lógica infundada.
Desse modo, sabemos qual é o relato progressista que o autor
combate, então o que nos resta é encontrar no fragmento a justificativa do
próprio autor que demonstra estar válido o seu posicionamento. Nesse sentido,
bastaria que fizéssemos a pergunta “Por que esse relato é infundado?", para
achar no texto a sua resposta. Com esse exercício, não fica difícil perceber
que, para o autor, as narratividades progressistas acerca da felicidade não
convencem porque nossas sociedades apresentam programas ideológicos e políticos
muito frágeis, por que não dizer “simplistas", já que não possibilitam ao
público chegar às questões mais complexas, vinculadas à felicidade humana: “A maioria dos programas ideológicos e políticos
atuais se baseia em ideias um tanto frágeis no que concerne à fonte real de
felicidade humana".
De posse dessas informações, analisemos cada uma das opções para
assinalar aquela que traz a base para justificativa de não ser o relato
progressista convincente:
A)
demonstra que a lógica da história nega
a possibilidade de se avaliar a importância e as vantagens da civilização.
ERRADA.
Na letra A, há extrapolação do conteúdo
presente no texto, pois nele não se apresentou a ideia de que a lógica da
história “nega a possibilidade de se avaliar a importância e as vantagens da
civilização". O que se defende é que historiadores não buscam investigar por
que razões não podemos reconhecer a ocorrência plena da felicidade na Terra, mesmo
com o progresso do homem na história. Sendo assim, a opção A não poderia ser
considerada a resposta da questão.
B) equipara o grau de felicidade dos nossos ancestrais
imediatos com o daqueles que os antecederam.
ERRADA.
A letra B não pode ser considerada a resposta da
questão porque nela se reescreve o “relato progressista", e não a justificativa
de sua inconsistência argumentativa, segundo o autor. Ou seja, na opção B
apresenta-se escrito, em outras palavras e mais sintetizado, o conteúdo do
trecho em que se acha o relato sobre felicidade e progressão histórica, conforme
imaginado pelo senso comum.
C) faz ver que os programas ideológicos e políticos atuais não
evidenciam uma efetiva escalada da felicidade humana.
CORRETA.
Pelo que se analisou, para o escritor, atualmente,
nossos programas ideológicos e políticos não demonstram as origens, nem as
razões necessárias para se pensar a progressão da felicidade e, nesse caso, não
sustentam suas propostas relativas à felicidade de modo satisfatório, por
tratarem de forma simplista uma questão complexa.
D) mostra-se convicto de que os caçadores-coletores não foram
mais felizes que nossos ancestrais medievais.
ERRADA.
Erra-se na letra D por se registrar que o autor “mostra-se
convicto" de que os caçadores-coletores foram mais felizes que os nossos
ancestrais medievais. O autor não apresenta esse raciocínio como algo
afirmativo, quem dirá incontestável, mas dele se utiliza como questionamento para
provocar reflexão no leitor, a respeito da relação supostamente lógica entre
evolução histórica e felicidade humana. Além disso, tal como ocorre na letra B,
esta opção está relacionada ao “relato progressista", e não a sua
justificativa.
E) fundamenta essa descrença no fato de que nunca fomos
capazes de questionar as leis mais rígidas da natureza.
ERRADA.
O conteúdo da letra E diverge de informações do
texto, pois não se afirma que “nós" nunca fomos capazes de questionar as leis
mais rígidas da natureza, mas que os “historiadores" não se questionam sobre a
relação entre evolução histórica e evoluções subjetivas, ou felicidade humana.
Além disso, não se mencionam as “leis rígidas da natureza", mas as etapas de
progressão histórica, entendidas, em geral, por meio do pretenso raciocínio
lógico.
Resposta: C