SóProvas


ID
3113890
Banca
FCC
Órgão
SANASA Campinas
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      De cedo, aprendi a subir ladeira e a pegar bonde andando. Posso dizer, com humildade orgulhosa, que tive morros e bondes no meu tempo de menino.

      Nossa pobreza não era envergonhada. Ainda não fora substituída pela miséria nos morros pobres, como o da Geada. Que tinha esse nome a propósito: lá pelos altos do Jaguaré, quando fazia muito frio, no morro costumava gear. Tínhamos um par de sapatos para o domingo. Só. A semana tocada de tamancos ou de pés no chão.

      Não há lembrança que me chegue sem os gostos. Será difícil esquecer, lá no morro, o gosto de fel de chá para os rins, chá de carqueja empurrado goela abaixo pelas mãos de minha bisavó Júlia. Havia pobreza, marcada. Mas se o chá de carqueja me descia brabo pela goela, como me é difícil esquecer o gosto bom do leite quente na caneca esmaltada estirada, amorosamente, também no morro da Geada, pelas mãos de minha avó Nair.

      A miséria não substituíra a pobreza. E lá no morro da Geada, além do futebol e do jogo de malha, a gente criava de um tudo. Havia galinha, cabrito, porco, marreco, passarinho, e a natureza criava rolinha, corruíra, papa-capim, andorinha, quanto. Tudo ali nos Jaguarés, no morro da Geada, sem água encanada, com luz só recente, sem televisão, sem aparelho de som e sem inflação.

      Nenhum de nós sabia dizer a palavra solidariedade. Mas, na casa do tio Otacílio, criavam-se até filhos dos outros, e estou certo que o nosso coração era simples, espichado e melhor. Não desandávamos a reclamar da vida, não nos hostilizávamos feito possessos, tocávamos a pé pra baixo e pra cima e, quando um se encontrava com o outro, a gente não dizia: “Oi!”. A gente se saudava, largo e profundo: − Ô, batuta*!

*batuta: amigo, camarada.

(Texto adaptado. João Antônio. Meus tempos de menino. In: WERNEK, Humberto (org.). Boa companhia: crônicas. São Paulo, Companhia das Letras, 2005, p. 141-143) 

Tínhamos um par de sapatos para o domingo. Só. A semana tocada de tamancos ou de pés no chão. (2° parágrafo)


Está condizente com o que se lê no trecho acima, com a vírgula empregada corretamente, o que se encontra em:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA A

    ? Tínhamos um par de sapatos para o domingo. . A semana tocada de tamancos ou de pés no chão. (2° parágrafo) ? o termo em destaque é um advérbio e equivale a "somente", queremos uma frase correta e com o termo com o mesmo valor.

    A) Tínhamos um par de sapatos para o domingo, só. A semana tocada de tamancos ou de pés no chão. ? correto, o sentido permaneceu o mesmo e a vírgula foi substituída pelo ponto final sem qualquer prejuízo gramatical.

    B) Tínhamos um par, de sapatos, só para o domingo. A semana tocada de tamancos ou de pés no chão. ? incorreto, visto que o adjunto adnominal está separado pelas vírgulas, logo é uma incorreção.

    C) Só, tínhamos um par de sapatos para o domingo. A semana tocada de tamancos ou de pés no chão. ? a forma como o termo está deslocado está equivalendo a um adjetivo "sozinho", não é o que queremos.

    D) Tínhamos um par de sapatos para o domingo. A semana só, tocada de tamancos ou de pés no chão. ? termo "só" deslocado prejudicando o sentido e além disso temos a vírgula separando o sujeito de seu verbo.

    E) Tínhamos um par de sapatos para o domingo. A semana tocada de tamancos ou de pés, só no chão. ? novamente a deslocação do termo "só" passou a modificar outro termo (advérbio de lugar ? somente no chão), não é esse o sentido original.

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