TEXTO I
Estratos
Na passagem de uma língua para outra, algo
sempre permanece, mesmo que não haja ninguém
para se lembrar desse algo. Pois um idioma retém
em si mais memórias que os seus falantes e, como
uma chapa mineral marcada por camadas de uma
história mais antiga do que aquela dos seres viventes,
inevitavelmente carrega em si a impressão das eras
pelas quais passou. Se as “línguas são arquivos da
história”, elas carecem de livros de registro e catálogos.
Aquilo que contêm pode apenas ser consultado em
parte, fornecendo ao pesquisador menos os elementos
de uma biografia do que um estudo geológico de uma
sedimentação realizada em um período sem começo ou
sem fim definido.
HELLER-ROAZEN, D. Ecolalias: sobre o esquecimento das línguas. Campinas: Unicamp, 2010.
TEXTO II
Na reflexão gramatical dos séculos XVI e XVII, a influência árabe aparece pontualmente, e se reveste sobretudo de item bélico fundamental na atribuição de rudeza aos idiomas português e castelhano por seus respectivos detratores. Parecer com o árabe, assim, é uma acusação de dessemelhança com o latim.
SOUZA, M. P. Linguística histórica. Campinas: Unicamp, 2006.
Relacionando-se as ideias dos textos a respeito da história e memória das línguas, quanto à formação da língua portuguesa, constata-se que