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ID
3193513
Banca
FCC
Órgão
Câmara de Fortaleza - CE
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: Para responder a questão, baseie-se no texto abaixo. 


          − Quer esse menininho para o senhor? Pode levar.

          Aconteceu no Rio, como acontecem tantas coisas. O rapaz entrou no café da rua Luís de Camões e começou a oferecer o filho de seis meses. Em voz baixa, ao pé do ouvido, como esses vendedores clandestinos que nos propõem um relógio submersível. Com esta diferença: era dado, de presente. Uns não o levaram a sério, outros não acharam interessante a doação. Que iriam fazer com aquela coisinha exigente, boca aberta para mamar e devorar a escassa comida, corpo a vestir, pés a calçar, e mais dentista e médico e farmácia e colégio e tudo que custa um novo ser, em dinheiro e aflição?

       − Fique com ele. É muito bonzinho, não chora nem reclama. Não lhe cobro nada…

        Podia ser que fizesse aquilo para o bem do menino, um desses atos de renúncia que significam amor absoluto. O tom era sério, e a cara, angustiada. O rapaz era pobre, visivelmente. Mas todos ali o eram também, em graus diferentes. E a ninguém apetecia ganhar um bebê, ou, senão, quem nutria esse desejo o sofreava. Mesmo sem jamais ter folheado o Código Penal, toda gente sabe que carregar com filho dos outros dá cadeia, muita.

         Mas o pai insistia, com bons modos e boas razões: desempregado, abandonado pela mulher. O bebê, de olhinhos tranquilos, olhava sem reprovação para tudo. De fato, não era de reclamar, parecia que ele próprio queria ser dado. Até que apareceu uma senhora gorda e topou o oferecimento:

         − Já tenho seis lá em casa, que mal faz inteirar sete? Moço, eu fico com ele.

         Disse mais que morava em Senador Camará, num sobradão assim assim, e lá se foi com o presente. O pai se esquecera de perguntar-lhe o nome, ou preferia não saber. Nenhum papel escrito selara o ajuste; nem havia ajuste. Havia um bebê que mudou de mãos e agora começa a fazer falta ao pai.

         − Praquê fui dar esse menino? − interroga-se ele. Chega em casa e não sabe como explicar à mulher o que fizera. Porque não fora abandonado por ela; os dois tinham apenas brigado, e o marido, no vermelho da raiva, saíra com o filho para dá-lo a quem quisesse.

          A mulher nem teve tempo de brigar outra vez. Correram os dois em busca do menino dado, foram ao vago endereço, perguntaram pela vaga senhora. Não há notícia. No estirão do subúrbio, no estirão maior deste Rio, como pode um bebê fazer-se notar? E logo esse, manso de natureza, pronto a aceitar quaisquer pais que lhe deem, talvez na pré-consciência mágica de que pais deixaram de ter importância.

         E o pai volta ao café da rua Luís de Camões, interroga um e outro, nada: ninguém mais viu aquela senhora. Disposto a procurá- -la por toda parte, ele anuncia:

        − Fico sem camisa, mas compro o menino pelo preço que ela quiser. 

(ANDRADE, Carlos Drummond de. “Caso de menino”. 70 historinhas. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 101-102) 

Examine os trechos transcritos abaixo.

I. Em voz baixa, ao pé do ouvido, como esses vendedores clandestinos que nos propõem um relógio submersível. (2 º parágrafo)

II. Nenhum papel escrito selara o ajuste; nem havia ajuste. Havia um bebê que mudou de mãos e agora começa a fazer falta ao pai. (7º parágrafo)

III. Porque não fora abandonado por ela; os dois tinham apenas brigado, e o marido, no vermelho da raiva, saíra com o filho para dá-lo a quem quisesse. (8ºparágrafo)

IV. Podia ser que fizesse aquilo para o bem do menino, um desses atos de renúncia que significam amor absoluto. (4º parágrafo)

As expressões sublinhadas acima são próprias da modalidade coloquial da linguagem APENAS em

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA C

    I. Em voz baixa, ao pé do ouvido, como esses vendedores clandestinos que nos propõem um relógio submersível ? o termo em destaque marca uma linguagem coloquial, informal e traz a ideia de algo que é dito em segredo, de modo discreto.

    III. Porque não fora abandonado por ela; os dois tinham apenas brigado, e o marido, no vermelho da raiva, saíra com o filho para dá-lo a quem quisesse ? significa o extremo do sentimento de raiva, também representa uma linguagem coloquial, informal.

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    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Linguagem Coloquial é a linguagem informal, do dia a dia. Linguagem culta é a formal, utilizada como padrão seguindo as normas gramaticais.

    Mas confesso que a questão me deixou em dúvida em relação aos itens I e III, pois trazem expressões no sentido figurado.... Enfim, dá pra acertar por eliminação.

  • Texto interessante.

  • GAB: LETRA C

    Complementando!

    Fonte: Prof. Felipe Luccas 

    I. "ao pé do ouvido" marca linguagem coloquial, informal e traz a ideia de algo que é dito em segredo, de modo discreto. 

    II. "selara o ajuste" é uma marca de linguagem formal, tanto o termo quanto a flexão do verbo no 

    Pretérito Mais-que-perfeito. 

    III. "no vermelho da raiva" é um termo da linguagem coloquial e tem o sentido de ser o ápice da 

    raiva.  

    IV. "atos de renúncia" não marca a linguagem coloquial. É um termo de acordo com a norma culta