SóProvas


ID
3204628
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de São Bernardo do Campo - SP
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                       Parece, mas não é


      A paisagem desmedida da língua, que nenhum ponto de vista abarca em sua inteireza, está cheia de coisas que parecem ser, mas não são. Vale a pena dar um zoom em algumas dessas arapucas, que as patrulhas do sabichonismo adoram explorar para exercer seus mesquinhos poderes sobre falantes desavisados.

      Pode parecer que a expressão correta é “um peso e duas medidas”, embora não seja. O certo é mesmo aquilo que todo mundo sempre falou: “dois pesos e duas medidas”.

      Pode parecer também que o provérbio “Quem tem boca vai a Roma” contém um erro constrangedor, pois o certo é “Quem tem boca vaia Roma”, ou seja, exerce o saudável direito de protestar contra a tirania dos césares. Só que isso é uma falácia1 . Quem sabe perguntar chega aonde quiser, eis a moral do ditado. Assim como sempre soubemos, até surgirem os sabichões. Vaia neles!

      Pode parecer ainda que a palavra “aluno” tem origem num vocábulo latino que quer dizer “sem luz”, motivo pelo qual deve ser evitada, uma vez que trai uma concepção pedagógica anacrônica2 em que o professor sabe tudo e o estudante não sabe nada. Repetida até por educadores, essa “tese” é uma bobagem. O latim alumnus quer dizer criança de peito e, por extensão, discípulo, aquele que precisa ser nutrido para crescer. Só isso.

      Pode parecer que a contração “num”, empregada no parágrafo anterior, é um coloquialismo que, na sua informalidade de bermuda e chinelo, deve ser evitado a todo custo na linguagem escrita. É o que vêm repetindo muitos professores nos últimos anos. Não procede. Um pouco de leitura nos ensina que autores clássicos da língua recorreram à eufonia de “num” e “numa” em textos apuradíssimos.

      Pode parecer que quando dizemos “Não vejo ninguém” estamos dando curso a uma grosseria ilógica da língua portuguesa, sem perceber que uma negação anula a outra e que, se não vemos ninguém, alguém nós vemos. A verdade é que não existe nada mais tosco3 no mundo do sabichonismo do que supor que línguas naturais sejam submissas à linguagem matemática. A negação dupla, que reforça em vez de anular, é um recurso consagrado e de raízes profundas no português.

      Pode parecer, enfim, que nossa língua detém o recorde mundial de pegadinhas, idioma dificílimo que só pós-doutores conseguem falar sem escorregar a cada frase. Mesmo que haja razões históricas para essa percepção, trata-se, em termos objetivos, de mais um engano. Se nos livrássemos dos patrulheiros sabichões e sua usina de erros imaginários, a paisagem já ficaria bem mais acolhedora.

(Sergio Rodrigues. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/sergio-rodrigues/2017/11/ 1932343-parece-mas-nao-e-defenda-se-dos-sabichoes-e-seuserros-imaginarios.shtml. Acesso em 17.06.2018. Adaptado)

Glossário:

1 falácia – falatório, falar demais

2 anacrônico – cronológico

3 tosco – grosseiro

Assinale a alternativa em que a reescrita da passagem do texto está adequada quanto à concordância, de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA C

    A) O excesso de zelo pela língua abarcam situações imaginárias que parecem ser corretas, mas não são ? o excesso abarca (sujeito simples com núcleo no singular).

    B) Na língua portuguesa, há muitas arapucas que são explorados pelas patrulhas do sabichonismo com o objetivo de dificultar o acesso da língua aos falantes ? "arapucas" é um substantivo feminino, logo, o correto é "exploradas".

    C) É inconcebível a submissão da língua natural à linguagem matemática, em que se desconsideram as raízes do idioma e seus falantes nativos.

    D) É um engano acreditar que a língua portuguesa é difícil e apenas pouco usuários conhece o idioma e não escorregam em suas normas ? pronome indefinido "pouco" (=o correto é "poucos" concordando com "usuários").

    E) Os pós-doutores e os patrulheiros sabichões precisam livrarem-se de erros imaginários para que o idioma fique mais atraente aos falante da língua materna ? o correto é "livrar-se".

    Baixe a Planilha de Gestão Completa nos Estudos Grátis: http://3f1c129.contato.site/plangestaoestudost3

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Sobre a alternativa E

    Na locução verbal, o infinitivo não varia, quem varia é o verbo AUXILIAR. O infinitivo tambem não varia quando o sujeito desse infinitivo for um pronome oblíquo, por exemplo: "Mandei-o sair".

  • Outro erro na letra D é a conjugação do verbo conhecer, o qual deveria estar no plural.

    D) É um engano acreditar que a língua portuguesa é difícil e apenas poucos usuários conhecem o idioma...

  • Sobre a alternativa E

    É visto que a definição de "AOS FALANTE" ( Artigo no plural e Substantivo no singular) esta flexionada incorretamente.

    Sendo o correto = AO FALANTE (Artigo + Substantivo) No singular.