SóProvas


ID
3221920
Banca
CIEE
Órgão
SPTrans
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Ficou dois

    Faz quase 20 anos. Eu estava no mezanino de um auditório prestigiando a formatura de um grande amigo. Ele cursou Direito numa instituição muito qualificada e seu tão esperado momento de comemoração pelo término da faculdade havia chegado. Duas fileiras abaixo e duas cadeiras para a esquerda, um rapaz acompanhava todo o desenrolar do evento. Não informo o nome do meu amigo, da instituição e do rapaz para não criar constrangimentos. Pra falar a verdade, desconheço o nome do rapaz, mas, como sei que hoje qualquer pista leva rapidinho à descoberta de quem é a pessoa, prefiro preservá-la. Não estou aqui para testar a eficiência do jornalismo investigativo, mas para compartilhar uma das situações pitorescas por mim vivenciadas, de modo a refletir sobre ela e, principalmente, aprender com ela.
    No palco e na plateia, havia alegria para dar e vender. De repente, o paraninfo foi chamado para fazer o seu pronunciamento. Por um bom tempo, uma saudação efusiva se manteve até que começasse a falar. Tão logo cessou aquela manifestação calorosa, o rapaz desatou a gritar: “ficou dois!”. A frase deixou subentendido que ele mesmo ou algum amigo dele teria sido reprovado pelo paraninfo. Uma mensagem assim lançada aos quatro ventos naquele ambiente, a priori, depõe contra a integridade do docente. “Carrasco, por que reprovar formandos? Que falta de sensibilidade! – poderia pensar o público”. Revisitando esse episódio nos dias de hoje, eu até conseguiria me colocar no lugar do paraninfo e indagaria: será que esses dois alunos se empenharam ao realizar os trabalhos e provas da disciplina? Caso sim, qual a qualidade desses trabalhos? Como foi o desempenho dos discentes nas avaliações? Será que eles foram assíduos e, mais que isso, foram pró-ativos e participativos nas aulas? Ou demonstraram descaso ao longo do semestre? Supondo que tivessem apresentado dificuldades, será que procuraram conversar com o professor sobre esse assunto? Por fim, deve haver diferença de tratamento entre um aluno formando e um não formando?
    Ninguém é paraninfo por acaso. Trata-se de uma pessoa que granjeia ampla credibilidade e confiança junto aos concluintes da graduação. Não sou do Direito, mas busco agir com justiça na prática do ensino. Creio, sinceramente, que não haja professores com maior senso de justiça que os dedicados ___ área do Direito. Todos, a bem da verdade, somos juízes, e por isso mesmo muitas vezes julgamos fatos e indivíduos com base nas aparências e em poucas ocasiões alicerçados na essência das coisas. É lamentável tal realidade, porém, o importante é que o paraninfo e os dois alunos devem saber o porquê daquelas reprovações. De minha parte, além de dar crédito ao professor e entender que a conduta do rapaz acabou sendo completamente deselegante, lembro-me que me debati demais para não perder a compostura. “Ficou dois! Que pérola! Se o cara ainda for do Direito, sensacional! – avaliava com meus botões, esforçando-me para que risada nenhuma irrompesse naquele instante”. Sim, porque pela gramática tradicional o correto seria dizer “ficaram dois”.
    Acontece que mais tarde compreendi que a gramática deve, de preferência, ser dominada pelos falantes da língua portuguesa, porém em muitos casos ela é simplesmente um livro no qual diversos conteúdos estão sepultados. Já ___ língua, objeto de estudo dos linguistas, quem dá vida é o povo. E nada é mais heterogêneo do que o povo, se considerarmos, especialmente, as regiões e os níveis de escolaridade das diferentes gerações de nosso país. Não podemos esquecer que na praia, no bem-bom das férias, não se fala com a formalidade que uma reunião de negócios demanda. Além disso, a oralidade, invariavelmente, decorre da improvisação discursiva do emissor, ao passo que a linguagem escrita é afeita ao planejamento e à revisão textual. Os sociolinguistas estudiosos da variação diafásica que o digam. Independentemente de seus posicionamentos – que merecem e aqui recebem, de antemão, todo o meu respeito e apreço –, concluo que, na situação de comunicação exposta, o rapaz se pronunciou de modo inadequado. Mais do que isso: perdeu uma ótima oportunidade para ficar calado. Se assim procedesse, para a felicidade dos gramáticos, teria deixado o Rui Barbosa descansar em paz.

(Texto adaptado especialmente para esta prova. Disponível em: https://www.linkedin.com/pulse/ficou-dois-tiagopellizzaro/. Acesso em: 13/09/2019.)

O verbo da oração “(...) o rapaz se pronunciou de modo inadequado.” (4º§) está conjugado no:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA A

    ? [...]  todo o meu respeito e apreço ?, concluo que, na situação de comunicação exposta, o rapaz se pronunciou de modo inadequado. 

    ? O verbo está conjugado na terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do modo indicativo, marca uma ação que ocorreu num determinado momento do passado.

    Baixe a Planilha de Gestão Completa nos Estudos Grátis: http://3f1c129.contato.site/plangestaoestudost3

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • b) pronunciava

    c) pronunciasse

    d) pronunciara

  • o rapaz se pronunciou de modo inadequado.”  está conjugado no

    Gabarito letra A : Pretérito perfeito do modo indicativo.

    .

    É pretérito perfeito pois indica uma ação totalmente acabada no passado.

    Está no modo indicativo pois indica certeza.

  • Gabarito A . para os não assinantes. fico até meio que emocionado em acertar esse tipo de questão que a meses atrás era quase impossível e agora se torna uma realidade. avante concurseiros um dia dará certo
  • Ontem (eu, tu, ele..) se pronunciou...brincou...cantou.

    Utilizando a expressão em negrito e dando certo com o verbo em questão, já era compadre, o verbo é pretérito perfeito do indicativo, portanto, gabarito letra A. Utilizando a mesma metodologia, vamos explicar as demais.

    A) gabarito, motivos expostos acima.

    B) Pretérito imperfeito do modo indicativo - formas verbais terminadas em: Va; Ia; Nha e o verbo "ser" que fica (era)

    ex: Brincava; cantava; curtia; era feliz.

    C) Pretérito imperfeito do modo subjuntivo - Termina em "-SSE", é a forma mais fácil de identificar.

    ex: curtisse; brincasse; caísse

    D) Pretérito mais-que-perfeito do modo indicativo. Aqui, o verbo termina em "-RA", as bancas gostam também de perguntar o que representa um verbo nesse tempo referido, a resposta é simples e objetiva: representa uma ação finalizada antes de outra.

    ex: curtira; brincara; caíra.