“A transformação deste sofrimento, originado na rigidez da organização do trabalho, em criatividade depende de dois elementos: a ressonância simbólica e o espaço público de discussão coletiva.
A ressonância simbólica ocorre quando há uma compatibilização entre as representações simbólicas do sujeito, seus investimentos pulsionais e a realidade de trabalho:
"A ressonância simbólica articula o teatro privado da história singular do sujeito ao teatro atual e público do trabalho, abrindo assim uma problemática socialmente referenciada da sublimação e do prazer no trabalho".
Para ocorrer esse processo, é necessário que a tarefa tenha um sentido para o sujeito, com base na sua história de vida. Assim sendo, Rodrigues (1992) compartilha a idéia de Dejours, que considera as dificuldades vivenciadas nas relações infantis com os pais como impeditivas para o sujeito vivenciar o processo de ressonância simbólica.
Neste sentido, o trabalho pode ser considerado como o lugar de satisfação sublimatória, quando o trabalhador transfere sua energia pulsional, que inicialmente é dirigida para as figuras parentais com objetivo de satisfação imediata, para as realções sociais com satisfação mais altruísta.
A ressonância simbólica é a reconciliação entre o inconsciente e os objetivos da produção. Na maioria das vezes, os preceitos rígidos e o controle organizacional não permitem ou limitam o espaço para ressonância simbólica, devido às exigências de responsabilidades, separação entre trabalho real e prescrito e entre concepção e execução.
O espaço público é construído pelos próprios trabalhadores, constituindo o momento em que são partilhadas a cooperação, a confiança e regras comuns. Representa o espaço da fala, da expressão coletiva do sofrimento e da busca de mecanismos de transformação da situação vigente.
O sofrimento criativo não é sinônimo de prazer. Este pressupõe um investimento sublimatório, no qual o prazer sexual infantil será substituído pelo prazer no trabalho. Neste sentido, o trabalho tem que ser uma escolha para o sujeito e espaço da satisfação dos desejos inconscientes.”
fonte:
Aspectos psicodinâmicos da relação homem-trabalho: as contribuições de C. Dejours- Ana Magnólia Bezerra Mendes Professora Assistente do Depto de Psicologia da UFPE. Mestre em Psicologia Social e do Trabalho. UnB