SóProvas


ID
3296668
Banca
AOCP
Órgão
SUSIPE-PA
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Nossa liberdade está sendo deturpada
Bianca Pinheiro

    A contemporaneidade é reconhecida pelas múltiplas liberdades que oferece. Desde os anos 1960, temos reivindicado de maneira veemente o direito de expressar livremente nossas identidades e a nossa sexualidade. A pílula foi inventada, e a liberdade sexual feminina vem sendo incrementada desde então, com um incrível avanço de diversas vertentes do feminismo; as hierarquias são questionadas, culminando naquilo que chamamos de crise de representação; a homossexualidade foi retirada do rol das doenças psiquiátricas; novos modelos familiares surgiram e foram legitimados; entre outros fatores. Esse cenário certamente nos oferece múltiplas possibilidades e caminhos. Podemos escolher o que desejamos entre uma gama de opções. No entanto, há sinais de que toda essa nossa liberdade vem sendo deturpada.
    O sociólogo francês Alain Ehrenberg reconheceu muito precisamente que a sociedade contemporânea, por trás da fachada de emancipação, autonomia e soberania do indivíduo, na verdade, substitui antigos imperativos por outros, mais difíceis de serem identificados por conta de sua natureza sutil. Assim, se em épocas passadas devíamos resguardar nossa intimidade e valorizar nossa vida interior e ter uma postura mais contemplativa e reflexiva diante do mundo, hoje, senão nos expomos, praticamente não existimos; se gostamos de estar sozinhos, somos recriminados; se passamos um feriado inteiro dentro de casa, somos considerados “estranhos”; se estamos tristes e se interagimos pouco, somos doentes.
    A liberdade de ser continua limitada pelo que a sociedade requer de nós. Se não correspondemos às expectativas do mundo, uma gama de diagnósticos e remédios psiquiátricos nos é oferecida. Assim, em vez de lutarmos para afirmar nossa identidade e nossas vontades, simplesmente nos submetemos ao status quo, ainda que isso signifique a autoanulação e o fingimento. Como não podemos estar tristes, a gente se contenta em aparentar ser feliz. Como não podemos estar sozinhos, estamos sempre atualizando nossas contas do Instagram com fotos nas quais aparecemos rodeados de gente, apesar de nos sentirmos extremamente sós. Como não podemos estar calados, sustentamos conversas que só fazem sentido em um contexto de abominação do silêncio.
    Que liberdade é essa que classifica como doentes quem não está de acordo com a norma de ser feliz e popular? Que liberdade é essa que nos oferece verdadeiros cardápios de parceiros em potencial, mas só proporciona desencontros, porque devemos ser desapegados? (...) Que liberdade é essa que nos oprime e nos esmaga para que possamos, finalmente, dizer “somos livres”, “somos felizes”, “somos incríveis”?
    Joel Birman, renomado psicanalista brasileiro, diz que vivemos em uma era em que a alteridade tende ao desaparecimento, o que gera um cenário onde os indivíduos agem como meros predadores uns dos outros, utilizando uns aos outros como meios para alcançar o gozo e a estetização de si. Eu prefiro não ter essa liberdade de usar o outro para meu próprio prazer. Eu prefiro não ter essa liberdade que me faz temer dizer “eu gosto de você”, porque o que se espera é que só gostemos de nós mesmos e sejamos objetos com fins precisos, e não seres humanos dotados de emoção. Eu prefiro não ter essa liberdade que me impede de ficar triste, de chorar, de enfrentar o luto, de me revelar. Eu prefiro não ter essa liberdade que poda a humanidade existente em mim, excluindo a falta de sentido, o desespero e a maravilha de ser alguém imperfeito.

Fonte: adaptado de http://obviousmag.org/sangria_desatada/2017/ . Acesso em: 10 jan. 2018.

Em relação aos usos e às funções que o elemento “se” pode desempenhar, assinale a alternativa correta referente ao excerto “se gostamos de estar sozinhos, somos recriminados; se passamos um feriado inteiro dentro de casa, somos considerados “estranhos”; se estamos tristes e se interagimos pouco, somos doentes.”.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA C

    ?  ?se gostamos de estar sozinhos, somos recriminados; se passamos um feriado inteiro dentro de casa, somos considerados ?estranhos?; se estamos tristes e se interagimos pouco, somos doentes.?

    ? Conjunções subordinativas causas, podem ser substituídas por "já que": o fato de (causa) gostarmos de estar sozinhos faz com que (consequência) sejamos recriminados.

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • É só substituir pelo "COMO", que no início de frase tem função de causa, equivalente a "haja vista"( conjunção causal)

  • texto com forte poder de reflexão!

  • ESSA QUESTÃO DEFINE A VIDA DO CONCURSEIRO KKKKK

  • Lembrem-se de que as conjunções subordinativas bem como os pronomes relativos pedem o verbo no modo subjuntivo, embora as questões muitas vezes trabalhem com os verbos no modo indicativo.

  • BIZU do prof Noslen

    VERBO + PRONOME SE + PREPOSIÇÃO = IIS

    VERBO + PRONOME SE + SUJEITO = P.A

    Conjunção condicional > troca o ''se'' por ''caso''

  • "Se" como conj. causal? Vocês usaram tóxico? É a famosa questão em que banca quer inovar de qualquer jeito. Mas, como é melhor ser feliz que ter razão, dá para fazer por eliminação. Agora, vcs moldarem a realidade para que ela caiba na definição da banca é patético. Marca certo, mas não inventem regras que não existem.
  • “se gostamos de estar sozinhos, somos recriminados'' É uma questão que deve ler com atenção , porque é notorio a presença de causa.

    Quando gostamos de estar sozinho é a causa a qual é introduzida pela conjunção ''SE''

    somos recriminados é a consequencia de gostar de está sozinho. Qualquer erro pode deixar aqui sou humilde sim, só não gosto de aventureiros.

  • Alguém pode mandar uma mensagem? Não fiquei reflexivo com o texto da questão, é só uma dúvida mesmo: Por que não é uma conjunção condicional, se está levantando uma hipótese?

  • se gostamos de estar sozinhos, somos recriminados; se passamos um feriado inteiro dentro de casa, somos considerados “estranhos”; se estamos tristes e se interagimos pouco, somos doentes.”.

    troque por como, fez sentido, pode ser conjunção CAUSAL.

    como gostamos de estar sozinhos, somos recriminados; como passamos um feriado inteiro dentro de casa, somos considerados “estranhos”; como estamos tristes e se interagimos pouco, somos doentes.”.

  • Achei que era uma conjunção adverbial condicional... "Caso gostemos de estar sozinhos, somos recriminados..."

    Enfim, vida que segue.

  • DICA - "SACUDA" AS ORAÇÕES INVERTA , SUBSTITUA, TESTE ATÉ TER UM SENTIDO:

    Somos recriminados PORQUE (causa) gostamos de estar sozinhos.

    Somos considerados “estranhos” PORQUE (causa)passamos um feriado inteiro dentro de casa.

    Somos doentes PORQUE (causa) estamos tristes e interagimos pouco.

  • Gabarito letra C

    "SE" será conjunção causal quando, obviamente, indicar causa, podendo ser substituída por outra conjunção (ou locução conjuntiva) causal. Eis algumas delas: porque, porquanto, já que, visto que, como (só no início de frase), uma vez que