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ID
3296671
Banca
AOCP
Órgão
SUSIPE-PA
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Nossa liberdade está sendo deturpada
Bianca Pinheiro

    A contemporaneidade é reconhecida pelas múltiplas liberdades que oferece. Desde os anos 1960, temos reivindicado de maneira veemente o direito de expressar livremente nossas identidades e a nossa sexualidade. A pílula foi inventada, e a liberdade sexual feminina vem sendo incrementada desde então, com um incrível avanço de diversas vertentes do feminismo; as hierarquias são questionadas, culminando naquilo que chamamos de crise de representação; a homossexualidade foi retirada do rol das doenças psiquiátricas; novos modelos familiares surgiram e foram legitimados; entre outros fatores. Esse cenário certamente nos oferece múltiplas possibilidades e caminhos. Podemos escolher o que desejamos entre uma gama de opções. No entanto, há sinais de que toda essa nossa liberdade vem sendo deturpada.
    O sociólogo francês Alain Ehrenberg reconheceu muito precisamente que a sociedade contemporânea, por trás da fachada de emancipação, autonomia e soberania do indivíduo, na verdade, substitui antigos imperativos por outros, mais difíceis de serem identificados por conta de sua natureza sutil. Assim, se em épocas passadas devíamos resguardar nossa intimidade e valorizar nossa vida interior e ter uma postura mais contemplativa e reflexiva diante do mundo, hoje, senão nos expomos, praticamente não existimos; se gostamos de estar sozinhos, somos recriminados; se passamos um feriado inteiro dentro de casa, somos considerados “estranhos”; se estamos tristes e se interagimos pouco, somos doentes.
    A liberdade de ser continua limitada pelo que a sociedade requer de nós. Se não correspondemos às expectativas do mundo, uma gama de diagnósticos e remédios psiquiátricos nos é oferecida. Assim, em vez de lutarmos para afirmar nossa identidade e nossas vontades, simplesmente nos submetemos ao status quo, ainda que isso signifique a autoanulação e o fingimento. Como não podemos estar tristes, a gente se contenta em aparentar ser feliz. Como não podemos estar sozinhos, estamos sempre atualizando nossas contas do Instagram com fotos nas quais aparecemos rodeados de gente, apesar de nos sentirmos extremamente sós. Como não podemos estar calados, sustentamos conversas que só fazem sentido em um contexto de abominação do silêncio.
    Que liberdade é essa que classifica como doentes quem não está de acordo com a norma de ser feliz e popular? Que liberdade é essa que nos oferece verdadeiros cardápios de parceiros em potencial, mas só proporciona desencontros, porque devemos ser desapegados? (...) Que liberdade é essa que nos oprime e nos esmaga para que possamos, finalmente, dizer “somos livres”, “somos felizes”, “somos incríveis”?
    Joel Birman, renomado psicanalista brasileiro, diz que vivemos em uma era em que a alteridade tende ao desaparecimento, o que gera um cenário onde os indivíduos agem como meros predadores uns dos outros, utilizando uns aos outros como meios para alcançar o gozo e a estetização de si. Eu prefiro não ter essa liberdade de usar o outro para meu próprio prazer. Eu prefiro não ter essa liberdade que me faz temer dizer “eu gosto de você”, porque o que se espera é que só gostemos de nós mesmos e sejamos objetos com fins precisos, e não seres humanos dotados de emoção. Eu prefiro não ter essa liberdade que me impede de ficar triste, de chorar, de enfrentar o luto, de me revelar. Eu prefiro não ter essa liberdade que poda a humanidade existente em mim, excluindo a falta de sentido, o desespero e a maravilha de ser alguém imperfeito.

Fonte: adaptado de http://obviousmag.org/sangria_desatada/2017/ . Acesso em: 10 jan. 2018.

De acordo com a Concordância verbal e nominal da Língua Portuguesa, analise os seguintes excertos e assinale a única alternativa que apresenta justificativa correta em relação ao exemplo apresentado.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA B

    A) No excerto ?O sociólogo francês Alain Ehrenberg reconheceu muito precisamente que as sociedades contemporâneas, por trás da fachada de emancipação, autonomia e soberania do indivíduo, na verdade, substitui antigos imperativos por outros, mais difíceis de serem identificados por conta de sua natureza sutil.?, o verbo ?substitui? concorda com o substantivo ?sociedades? ? incorreto, o substantivo "sociedades" está no plural, para que estivesse concordando seria necessário que o verbo estivesse no plural.

    B) O excerto ?(...) as hierarquias são questionadas, culminando naquilo que chamamos de crise de representação (...)? apresenta termos conjugados no singular e no plural, mas não apresentam incoerência, já que o leitor consegue compreender o sentido que os dois termos denotam no contexto da frase ? correto.

    C) Na frase ?Que liberdade é essa que classifica como doentes quem não está de acordo com a norma de ser feliz e popular??, não há incoerência entre as palavras conjugadas no plural, ?doentes? e no singular ?quem não está de acordo? ? incorreto, o correto era usar o termo no singular (=doente).

    D) No excerto ?Eu prefiro não ter essa liberdade que me faz temer dizer ?eu gosto de você?, porque o que se espera é que só gostemos de nós mesmos e sejamos objetos com fins precisos, e não seres humanos dotados de emoção.?, os verbos ?prefiro? e ?gosto? estão conjugados em relação à primeira pessoa do discurso, no singular (eu), e outros verbos como ?gostemos? e ?sejamos? estão conjugados na primeira pessoa do plural (nós), o que causa uma grave contraposição em relação à concordância da nossa língua ? incorreto, não há contraposição, a frase está plenamente correta.

    E) Na frase ?Se não correspondemos às expectativas do mundo, uma gama de diagnósticos e remédios psiquiátricos nos é oferecida.?, há os verbos ?corresponder? e ?oferecer? conjugados, cada um a seu modo, mas não são acompanhados das pessoas do discurso, o que gera uma grave incoerência para a concordância verbal ? incorreto, primeiro temos um sujeito oculto (=nós), a concordância está plenamente correta.

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Letra A – ERRADA – Ocorre um erro de concordância. Deveríamos empregar a forma “substituem” para que houvesse concordância com o núcleo do sujeito “sociedades”.

    Letra B – CERTA

    Letra C – ERRADA – Deveríamos empregar a forma singular “doente” para que haja concordância com o pronome substantivo “Quem”.

    Letra D – ERRADA – Não se gera incoerência alguma. Ocorre de haver sujeitos diferentes para orações diferentes, o que plenamente possível.

    Letra E – ERRADA – Não é correto afirmar que a ausência da pessoa do discurso resulte em incoerência. No caso do verbo “correspondemos”, a pessoa gramatical está implícita – NÓS. Já a forma verbal “é oferecida” tem como sujeito a terceira pessoa “uma gama de diagnósticos...”

    Resposta: B

  • Sujeito de substitui é autonomia e soberania (sinônimos e fazem com que o verbo possa ficar no plural ou singular). Mais informações: https://www.normaculta.com.br/concordancia-verbal-com-sujeito-composto/

  • Respondi letra D, porém acredito que só esteja errada a última frase, visto nas afirmações anteriores,o leitor consegue compreender o sentido que os dois termos denotam no contexto da frase, não casando assimgrave incoerência como a alternativa afirma, não sei bem se esse é o raciocínio da letra D, corrijam-me se necessário.

    destrinchando questões pra ter alguma chance,

    não desita!

    Gabarito letra B

  • Esse enunciado da A tá todo troncho!

    O núcleo do sujeito aí é "sociedades" e no próprio texto houve erro na hora da escrita ¬¬

    "O sociólogo [...] reconheceu [...] que as sociedades [...] SUBSTITUEM [...]

  • @Wendell,

    Acho que o núcleo não é "autonomia e soberania" não porque eles fazem parte apenas de uma enumeração que começa lá com "por trás da fachada de emancipação"