SóProvas


ID
3298585
Banca
FUNDEP (Gestão de Concursos)
Órgão
Prefeitura de Itatiaiuçu - MG
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                              Livros-refúgio: um convite a ser


Das poucas lembranças nítidas que tenho da minha infância, uma delas é a estante de livros daqui de casa, repleta de lombadas coloridas que tentam se manter enfileiradas, até que um ou outro título rebelde se desgarra, jogado em cima dos outros ou enfiado forçosamente entre um “tijolaço” e outro. Eu mal sabia ler e já me hipnotizava por essa visão, como se pudesse ouvir o burburinho dos títulos, me chamando para conhecer suas histórias.

Essa recordação sempre aqueceu meu coração e me é definidora: eu sou uma pessoa de livros, sempre fui e serei, pois vejo neles meu meio genuíno de me expressar para o mundo e conhecê-lo melhor: a escrita. Não vou mentir, sempre achei essa coisa de “gostar de ler” um baita elogio e fonte de orgulho próprio, mas não somente pelos motivos que vocês estão pensando – pagar de inteligente (porque né, quem nunca?!) –, mas por outros, muito mais especiais. Porque, na boa, livros são e vão muito além de um símbolo socialmente construído de intelecto.

A primeira coisa que aprendi que livros podem ser é refúgio. Na adolescência, eu me envolvi muito com os livros do Harry Potter: cresci com os personagens, frequentei as aulas de Hogwarts, vibrei com as partidas de quadribol (nível “pulando na cama enquanto lê e comemora”). Através da Hermione Granger, eu construí minha identidade infanto-juvenil, aprendi a entender melhor minha relação com meus melhores amigos e com meus nem tão amigos. Eu realmente encarava a leitura da série como usar um par de óculos mágico que me permitisse enxergar melhor a minha própria realidade adolescente e ficar mais em paz, menos confusa, mais confiante. Pegar nos livros, cheirar as páginas me fazia sentir protegida, compreendida e no meu lugar.

Do livro-refúgio, logo em seguida descobri que o livro é casa. É aquele cantinho aconchegante que a sua mente pode repousar e simplesmente ser do jeito que ela é, com todas as suas dúvidas, medos e receios, sem travas e filtros. E por permitirem tamanho conforto, senti que os livros também são catarse: ler é concordar ou discordar agressivamente, refletir, ponderar, se transformar, perceber que mudou de ideia, ficar insegura por ter mudado de ideia, mas se acostumar com essa nova linha de raciocínio conforme a história “assenta” em você.

E nessa coisa de me revoltar em leituras silenciosas (ou barulhentas, já que eu sempre gostei de ler em voz alta), me dei conta de que os livros também são o buraco na fechadura, onde bisbilhotamos, curiosas, o que passa no mundo do autor, como ele enxerga a própria realidade, seja ela distante ou próxima a nossa. Mas eles também são espelhos, inteiros ou rachados, depende de quem e quando os lê. Eles refletem e trazem à tona muito do que somos, do que queremos ser e do que negamos ser, consciente ou inconscientemente.

Eu fui me apercebendo dessas coisas todas que os livros são em uma onda de autoconhecimento, sabe? E talvez o que livros sejam, mais que tudo, é encontro. Seu consigo, teu com outros. E é por isso tudo que nós acabamos cultivando relações íntimas com eles: algumas de nós os deixamos intocáveis, não queremos nem abri-los muito para não perderem o viço de novos, porém, em um lampejo de mudança, decidimos usar e abusar daquelas páginas, rabiscando, desenhando, destacando passagens, como se fossem recados ao nosso futuro eu, que daqui a alguns anos, se reencontrará naquelas páginas.

Eu gosto mesmo é do livro que deixa claro para o mundo que é rodado, sabe? É o livro que mais encerra histórias, não apenas aquela impressa em suas páginas, mas aquelas de seus leitores, acumuladas em pontinhas de páginas dobradas, manchas de café, borrões de lágrimas. É o livro que ultrapassou seu mero propósito de entreter e convidou o leitor a ser.

WALLITER, Carolina. Capitolina. Disponível em:<http://bit.ly/2ooawDh> . Acesso em: 21 fev. 2018 (Adaptação).

Releia o trecho a seguir.


“[...] os livros também são o buraco na fechadura, onde bisbilhotamos, curiosas, o que passa no mundo do autor [...]”

A seguir, analise estas afirmativas sobre a palavra destacada.


I. Nesse contexto, desempenha função adverbial, mas, em outros, pode ser um pronome.

II. Embora de uso costumeiro, a gramática tradicional condena seu uso em contextos como esse.

III. Nesse contexto, não admite flexão.


De acordo com a norma-padrão, estão corretas as afirmativas

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA B

    ? Faltou o QC grifar o termo: ?[...] os livros também são o buraco na fechadura, onde bisbilhotamos, curiosas, o que passa no mundo do autor [...]?

    I. Nesse contexto, desempenha função adverbial, mas, em outros, pode ser um pronome ? correto, expressa uma ideia de lugar (=função adverbial).

    II. Embora de uso costumeiro, a gramática tradicional condena seu uso em contextos como esse ? correto, visto que está sendo usado para retomar um objeto e não um lugar.

    III. Nesse contexto, não admite flexão ? correto, é invariável.

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Estranho, pois o pronome "onde" pode ser usado para fazer referência a lugares. No caso, retoma "buraco da fechadura", que pode ser considerado um lugar. Eu entendi como sendo pronome...

  • Cuidado!

    O onde pode apresentar-se de algumas formas

    '. Advérbio interrogativo

    Ocorre em frases interrogativas diretas ou indiretas e significa «em que lugar»:

    «Onde moras?» (= Em que lugar moras?)

    «Ele perguntou onde é que moras.» (= Perguntou em que lugar moras.)

    2. Pronome relativo

    Ocorre em orações relativas e significa «no/na qual». Uma vez que é um pronome, substitui o nome que o antecede imediatamente:

    «A rua onde moro é muito tranquila.» (= a rua na qual...)

    Ficar atento também na relação do advérbio que costuma se relacionar com adjetivos, verbos , Advérbios.

    Fonte: Português- Fórum

    Sucesso, Bons estudos, Nãodesista!

  • “[...] os livros também são o buraco na fechadura, onde bisbilhotamos, curiosas, o que passa no mundo do autor [...]”

    I. Nesse contexto, desempenha função adverbial, mas, em outros, pode ser um pronome. -> Correto. [ Buraco da fechadura ] bisbilhotamos, curiosas, o que passa no mundo do autor = (Nós - Sujeito Desinencial) Bisbilhotamos (verbo), curiosas (Predicativo do Sujeito), o que passa no mundo do autor (Objeto Direto) no/por meio do buraco da fechadura (Adjunto Adverbial - Fiquei na dúvida se seria de lugar ou instrumento. De qualquer forma, é um adjunto adverbial)

    II. Embora de uso costumeiro, a gramática tradicional condena seu uso em contextos como esse -> Errado. Aqui ele está se referindo a situações as quais se usam o "onde" como um pronome relativo que não esteja retomando um lugar físico. Não é esse caso, portanto, II errado.

    III. Nesse contexto, não admite flexão. -> Correto. Pois se trata de um adjunto adverbial que por sua natureza é invariável.

    Gabarito: Letra B