SóProvas


ID
3333163
Banca
IDECAN
Órgão
Prefeitura de Conquista - MG
Ano
2016
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                    Nossa cultura conferiu valor absoluto ao espírito científico


       A nossa cultura, a partir do chamado Século das Luzes (1715-1789), aplicou de forma rigorosa a compreensão de René Descartes (1596-1650) de que o ser humano é “senhor e mestre” da natureza, podendo dispor dela ao seu bel-prazer. Conferiu um valor absoluto à razão e ao espírito científico.

      Com isso, se fecharam muitas janelas do espírito que permitem também um conhecimento, sem necessariamente passar pelos cânones racionais. O que mais foi marginalizado e até difamado foi o coração, órgão da sensibilidade e do universo das emoções, sob o pretexto de que ele atrapalharia “as ideias claras e distintas” (Descartes) do olhar científico. Assim surgiu um saber sem coração, mas funcional ao projeto da modernidade, que era – e continua sendo – o de fazer do saber um poder como forma de dominação da natureza, dos povos e das culturas.

      Curiosamente, toda a epistemologia moderna, que incorpora a mecânica quântica, a nova antropologia, a filosofia fenomenológica e a psicologia analítica, tem mostrado que todo conhecimento vem impregnado das emoções do sujeito e que sujeito e objeto estão indissoluvelmente vinculados, às vezes por interesses escusos (J. Habermas).

      Foi a partir de tais constatações e com a experiência desapiedada das guerras modernas que se pensou no resgate do coração. Finalmente, é nele que reside o amor, a simpatia, a compaixão, o sentido de respeito, base da dignidade humana e dos direitos inalienáveis.

      Isso que nos parece novo e uma conquista – os direitos do coração – era o eixo da grandiosa cultura maia na América Central, particularmente na Guatemala. Como não passaram pela circuncisão da razão moderna, guardaram fielmente suas tradições, que provêm dos avós, ao largo das gerações.

      Participei várias vezes de celebrações maias, sempre ao redor do fogo. Começam invocando o coração dos ventos, das montanhas, das águas, das árvores e dos ancestrais. Fazem suas invocações no meio de um incenso nativo perfumado e produtor de muita fumaça.

      Ouvindo-os falar das energias da natureza e do universo, parecia-me que sua cosmovisão era muito afim, guardadas as diferenças de linguagem, da física quântica. Tudo para eles é energia e movimento entre a formação e a desintegração que conferem dinamismo ao universo. Eram exímios matemáticos e haviam inventado o número zero. Seus cálculos do curso das estrelas se aproximam em muito aos que alcançamos com os modernos telescópios.

      Dizem que tudo o que existe nasceu do encontro amoroso de dois corações, o do céu e o da Terra, que é um ser vivo que sente, intui, vibra e inspira os seres humanos. Estes são os “filhos ilustres, indagadores e buscadores da existência”, afirmações que nos lembram Martin Heidegger.

      A essência do ser humano é o coração, que deve ser cuidado para ser afável, compreensivo e amoroso. Toda a educação que se prolonga ao largo da vida é para cultivar a dimensão do coração. Os irmãos de La Salle mantêm, na capital guatemalteca, um imenso colégio, onde jovens maias vivem na forma de internato bilíngue, no qual se recupera e sistematiza a cosmovisão maia, ao mesmo tempo em que assimilam e combinam saberes ancestrais com os modernos saberes, especialmente os ligados à agricultura e a relações respeitosas com a natureza.

      Apraz-me concluir com um texto que uma mulher sábia me repassou no fim de um encontro com indígenas maias. “Quando tens que escolher entre dois caminhos, pergunta-te qual deles tem coração. Quem escolhe o caminho do coração, jamais se equivocará.” (Popol Vuh)

(Leonardo Boff. Disponível em: http://www.otempo.com.br/opini%C3%A3o/leonardo-boff/nossa-cultura-conferiu-valor-absoluto-aoesp%C3%ADrito-cient%C3%ADfico-1.1238115. Acesso em: 19/05/2016.)

Eram exímios matemáticos e haviam inventado o número zero.” (7º§) No trecho em destaque, o verbo haver foi corretamente empregado. Assinale a alternativa correta em relação ao uso do verbo haver.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA D

    A) Nas cerimônias maias haviam muito respeito ? verbo "haver" com sentido de "existir" é impessoal e não deve ser flexionado, o correto é "havia".

    B) Houveram prosperidades para a civilização maia na era cristã ? verbo "haver" com sentido de "ocorrer" é impessoal e não deve ser flexionado, o correto é "houve".

    C) Houveram muitas celebrações entre os maias que residiam na Guatemala ? mesmo caso anterior.

    D) Por volta do ano 200 da era cristã, os maias haviam criado um sistema de escrita próprio ? correto, verbo "haver" sendo um verbo auxiliar e flexionado corretamente para concordar com o núcleo do sujeito simples "maias".

    Baixe a Planilha de Gestão Completa nos Estudos Grátis: http://3f1c129.contato.site/plangestaoestudost3

    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • O verbo haver só é pessoal quando numa locução verbal está na posição de Verbo Auxiliar. Assim como na alternativa D, concordando em número com o sujeito.

  • A questão quer saber qual assertiva o verbo "haver" é impessoal, dessa forma, marcaremos a assertiva que fez a conjugação de forma correta. Vejamos:

    a) Incorreta.

    "Nas cerimônias maias haviam muito respeito."

    O verbo "haver" dessa oração está com sentido de existir e, por isso, é impessoal. O erro foi ter flexionado esse verbo para o plural.

    b) Incorreta.

    "Houveram prosperidades para a civilização maia na era cristã."

    O verbo "haver" dessa oração está com sentido de existir e, por isso, é impessoal. O erro foi ter flexionado esse verbo para o plural

    c) Incorreta.

    "Houveram muitas celebrações entre os maias que residiam na Guatemala."

    O verbo "haver" dessa oração está com sentido de existir e, por isso, é impessoal. O erro foi ter flexionado esse verbo para o plural

    d) correta.

    Por volta do ano 200 da era cristã, os maias haviam criado um sistema de escrita próprio.

    O verbo "haver" formando locução verbal com verbo pessoal, também ficará pessoal, ou seja, vai para o plural se precisar. No caso em tela, o verbo pessoal é o verbo "criar", basta notar que o sujeito é o "os maias".

    Gabarito do monitor: D

  • Verbo "haver" com sentido de existir é invariável e não flexiona!