SóProvas


ID
333775
Banca
FCC
Órgão
TRT - 23ª REGIÃO (MT)
Ano
2011
Provas
Disciplina
Português
Assuntos


Do homicídio*

Cabe a vós, senhores, examinar em que caso é justo pri-
var da vida o vosso semelhante, vida que lhe foi dada por Deus.
Há quem diga que a guerra sempre tornou esses
homicídios não só legítimos como também gloriosos. Todavia,
como explicar que a guerra sempre tenha sido vista com horror
pelos brâmanes, tanto quanto o porco era execrado pelos ára-
bes e pelos egípcios? Os primitivos aos quais foi dado o nome
ridículo de quakers** fugiram da guerra e a detestaram por
mais de um século, até o dia em que foram forçados por seus
irmãos cristãos de Londres a renunciar a essa prerrogativa, que
os distinguia de quase todo o restante do mundo. Portanto,
apesar de tudo, é possível abster-se de matar homens.
Mas há cidadãos que vos bradam: um malvado furou-me
um olho; um bárbaro matou meu irmão; queremos vingança;
quero um olho do agressor que me cegou; quero todo o sangue
do assassino que apunhalou meu irmão; queremos que seja
cumprida a antiga e universal lei de talião.
Não podereis acaso responder-lhes: “Quando aquele
que vos cegou tiver um olho a menos, vós tereis um olho a
mais? Quando eu mandar supliciar aquele que matou vosso
irmão, esse irmão será ressuscitado? Esperai alguns dias;
então vossa justa dor terá perdido intensidade; não vos
aborrecerá ver com o olho que vos resta a vultosa soma de
dinheiro que obrigarei o mutilador a vos dar; com ela vivereis
vida agradável, e além disso ele será vosso escravo durante
alguns anos, desde que lhe seja permitido conservar seus dois
olhos para melhor vos servir durante esse tempo. Quanto ao
assassino do seu irmão, será vosso escravo enquanto viver. Eu
o tornarei útil para sempre a vós, ao público e a si mesmo”.
É assim que se faz na Rússia há quarenta anos. Os
criminosos que ultrajaram a pátria são forçados a servir à pátria
para sempre; seu suplício é uma lição contínua, e foi a partir de
então que aquela vasta região do mundo deixou de ser bárbara.

(Voltaire - O preço da justiça. São Paulo: Martins Fontes,
2001, pp. 15/16. Trad. de Ivone Castilho Benedetti)

* Excerto de texto escrito em 1777, pelo filósofo iluminista
francês Voltaire (1694-1778).

** Quaker = associação religiosa inglesa do séc. XVI, defen-
sora do pacifismo.


Está adequado o emprego de ambos os elementos sublinhados na frase:

Alternativas
Comentários
  • LEtra d.
    Corrigindo as erradas:

    a)Os argumentos aos quais devemos nos agarrar devem se pautar nos limites da racionalidade e da justiça;

    b) Os casos históricos a que Voltaire recorre em seu texto ajudam-no a demonstrar que a pena de morte é ineficaz;

    c) A pena de talião é um recurso  cuja eficácia muitos defendem, ninguém se abale ao  tentar de- monstrá-la;

    e) As ideias liberais, a cuja  propagação Voltaire se lançou, estimulam legisladores a quem não falte o senso de justiça
  • Atendendo a pedidos...

    a)Os argumentos aos quais devemos nos agarrar devem se pautar nos limites da racionalidade e da justiça;

    Devemos nos agarrar AOS  (quem se agarra, agarra-se A alguma coisa
    A + os argumentos = aos argumentos

    b) Os casos históricos a que Voltaire recorre em seu texto ajudam-no a demonstrar que a pena de morte é ineficaz;
    quem recorre, recorre A
    A + os = Voltaire recorre AOS casos históricos

    Demonstrar isso...
    quem demonstra, demonstra alguma coisa

    c) A pena de talião é um recurso  cuja eficácia muitos defendem, ninguém se abale ao tentar demonstrá-la;
    Eficácia do recurso (usa-se cuja qdo tiver idéia de posse)

    nnguém se abale AO tentar isso

    d) Os castigos a que se submetem os criminosos devem corresponder à gravidade de que se reveste o crime.
    Submeter AOS castigos

    o crime se reveste DA gravidade

    e) As ideias liberais, a cuja  propagação Voltaire se lançou, estimulam legisladores a quem não falte o senso de justiça
    1)propagação das idéias liberais (cuja é usada com idéia de posse)

    2) O pronome relativo quem se refere a uma pessoa ou a uma coisa personificada.
    Não falte A "eles" o senso de justiça (eles= legisladores)

    Lembre-se: Pronome relativo é uma classe de pronomes que substituem um termo da oração anterior e estabelece relação entre duas orações.

    Espero ter ajudado.