SóProvas


ID
3368734
Banca
FCC
Órgão
METRÔ-SP
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

        Para ele, o fim do ano era sempre uma época dura, difícil de suportar. Sofria daquele tipo de tristeza mórbida que acomete algumas pessoas nos festejos de Natal e de Ano-Novo. No seu caso havia uma razão óbvia para isso: aos setenta anos, solteirão, sem parentes, sem amigos, não tinha com quem celebrar, ninguém o convidava para festa alguma. O jeito era tomar um porre, e era o que fazia, mas o resultado era melancólico: além da solidão, tinha de suportar a ressaca.
          No passado, convivera muito tempo com a mãe. Filho único, sentia-se obrigado a cuidar da velhinha que cedo enviuvara. Não se tratava de tarefa fácil: como ele, a mãe era uma mulher amargurada. Contra a sua vontade, tinha casado, em 31 de dezembro de 1914 (o ano em que começou a Grande Guerra, como ela fazia questão de lembrar) com um homem de quem não gostava, mas que pais e familiares achavam um bom partido. Resultado desse matrimônio: um filho e longos anos de sofrimento e frustração. O filho tinha de ouvir suas constantes e ressentidas queixas. Coisa que suportava estoicamente; não deixou, contudo, de sentir certo alívio quando de seu falecimento, em 1984. Este alívio resultou em culpa, uma culpa que retornava a cada Natal. Porque a mãe falecera exatamente na noite de Natal. Na véspera, no hospital, ela lhe fizera uma confissão surpreendente: muito jovem, apaixonara-se por um primo, que acabou se transformando no grande amor de sua vida. Mas a família do primo mudara-se, e ela nunca mais tivera notícias dele. Nunca recebera uma carta, uma mensagem, nada. Nem ao menos um cartão de Natal.
       No dia 24 pela manhã ele encontrou um envelope na carta do correio. Como em geral não recebia correspondência alguma, foi com alguma estranheza que abriu o envelope.
       Era um cartão de Natal, e tinha a falecida mãe como destinatária. Um velhíssimo cartão, uma coisa muito antiga, amarelada pelo tempo. De um lado, um desenho do Papai Noel sorrindo para uma menina. Do outro lado, a data: 23 de dezembro de 1914. E uma única frase: “Eu te amo.”
        A assinatura era ilegível, mas ele sabia quem era o remetente: o primo, claro. O primo por quem a mãe se apaixonara, e que, por meio daquele cartão, quisera associar o Natal a uma mensagem de amor. Uma nova vida, era o que estava prometendo. Esta mensagem e esta promessa jamais tinham chegado a seu destino. Mas de algum modo o recado chegara a ele. Por quê? Que secreto desígnio haveria atrás daquilo?
      Cartão na mão, aproximou-se da janela. Ali, parada sob o poste de iluminação, estava uma mulher já madura, modestamente vestida, uma mulher ainda bonita. Uma desconhecida, claro, mas o que importava? Seguramente o destino a trouxera ali, assim como trouxera o cartão de Natal. Num impulso, abriu a porta do apartamento e, sempre segurando o cartão, correu para fora. Tinha uma mensagem para entregar àquela mulher. Uma mensagem que poderia transformar a vida de ambos, e que era, por isso, um verdadeiro presente de Natal.  

(SCLIAR, Moacyr. Mensagem de Natal. Porto Alegre: L&PM, 2018, p. 26-28) 

O substantivo está posposto ao termo que o qualifica na expressão sublinhada em:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA C

    ? A questão pede uma alternativa que o substantivo está posposto ao adjetivo (=esteja após o adjetivo):

    A) Sofria daquele tipo de tristeza mórbida ? substantivo + adjetivo.

    B) Para ele, o fim do ano era sempre uma época dura ? substantivo + adjetivo.

    C) Que secreto desígnio haveria atrás daquilo ? adjetivo e substantivo após o adjetivo (=posposto).

    D) No seu caso havia uma razão óbvia para isso ? substantivo + adjetivo.

    E) como ele, a mãe era uma mulher amargurada ? substantivo + adjetivo.

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Gabarito C: secreto é o adjetivo de desígnio. Em todas as outras opções o adjetivo está depois do substantivo.

  • Eu utilizei o seguinte pensamento: o substantivo é a parte principal, sem ele a frase não sentido. Se você tirar todas palavras que estão posposta a única que faz sentido é a letra C.

  • Ganhando tempo...

    Perceba que em todos os itens temos adjetivos..

    para identificá-los coloque um "tão" antes do termo..

    como ele quer um substantivo posposto = teremos que achar um que venha após o adjetivo..

    A)  tristeza (TÃO) mórbida = Substantivo antepostos

    B) época (TÃO) dura = Mesma coisa.

    D) uma razão (TÃO) óbvia

    E) uma mulher (TÃO) amargurada

    Sucesso, Bons estudos, Nãodesista!

  • GABARITO: LETRA C

    VAMOS LÁ...

    Para quem não entendeu a questão é simples! A questão pede que o substantivo esteja posposto ao termo que o qualifica na expressão. aqui meio confuso de entender, mas é só saber interpretar.

    #Ele quer o substantivo esteja posposto, ou seja, posto depois ao termo que ira qualificar (aqui a gente tem que lembrar que o termo que qualifica o substantivo é o adjetivo - sendo que caracteriza ...)

    OBS: em locução - o adjetivo é o que vai modificar o substantivo.

    -

    Agora da para responder!

    -

    Sendo assim:

    a)Sofria daquele tipo de tristeza mórbida (1º parágrafo)(ERRADO), pois, tristeza (substantivo) esta antes e mórbida esta depois que é um adjetivo (caracteriza tristeza).

    b)Para ele, o fim do ano era sempre uma época dura (1º parágrafo) (ERRADO),pois, época (substantivo período de tempo) esta antes e dura esta depois que é um adjetivo (caracteriza difícil).

    c)Que secreto desígnio haveria atrás daquilo (5º parágrafo) (CORRETO), pois, secreto (adjetivo caracteriza sigilo) esta antes e desígnio (substantivo) que esta depois (posposto) - CONFORME A QUESTÃO PEDE!

    d)No seu caso havia uma razão óbvia para isso (1º parágrafo)(ERRADO)pois, razão (substantivo) esta antes e óbvia esta depois que é um adjetivo.

    e)como ele, a mãe era uma mulher amargurada (2º parágrafo)(ERRADO)pois, mulher (substantivo) esta antes e amargurada esta depois que é um adjetivo (caracteriza estado).