SóProvas


ID
3378889
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
UFOB
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

PROJEÇÃO PSICOLÓGICA e INGRATIDÃO:
a incongruência na falta de consciência dos
próprios problemas
Adilson Cabral

    Não se pode analisar o ser humano dentro de critérios lógicos e totalmente racionais. Por esta razão, a ingratidão humana, quando analisada sob a ótica da projeção psicológica, em vez de denotar uma falta de caráter, torna-se uma carência de desenvolvimento egoico, quase que uma infantilidade (que por infelicidade da humanidade, ainda é muito recorrente, independentemente da idade, classe social ou formação educacional dos indivíduos). Não há correlação direta entre um maior nível educacional e um menor nível de projeção nas relações pessoais do indivíduo (mesmo que às vezes tenho a impressão que quanto mais instruídas algumas pessoas, mais insensíveis à sua própria carência egoica elas são... e mais necessitadas de um bom e longo tratamento psicoterápico também... chego a pensar que pessoas mais simples são mais saudáveis em termos psicológicos... mas isto é tema para futuras postagens). Mas o que é projeção, então? O que ela tem a ver com a ingratidão? Comecemos por aí, então...
      Projeção é nossa capacidade de negar em nós mesmos algo que nos incomoda, 'projetando' este mal em quem está mais próximo de nós. Melhor dizendo: nossa incapacidade de aceitar nossos defeitos, nossos PIORES DEFEITOS, diga-se de passagem. Somos capazes de admitir pequenas falhas, mas grandes defeitos... só os grandes seres humanos é que são capazes de admitir.
     A projeção existe desde nosso nascimento, e é extremamente necessária para nossa rápida adaptação ao ambiente: ferramenta essencial de formação do Ego. Ego que é quem somos (ou pelo menos quem achamos que somos), é a separação entre o Eu e o Outro, entre você e sua mãe (principalmente). Sem o Ego, você não pensaria sozinho, não iria querer nada (quereria o que os outros quisessem por você), não teria opinião, não seria ninguém. Pense em um fantoche: seria alguém sem ego.
    Com a Projeção, o Ego se fortifica enquanto você forma sua personalidade: a criança é capaz então de se ver como 'boazinha', e acreditar em si própria, negando seus próprios defeitos. Até este ponto, isto é saudável. A criança naturalmente projeta quando, por exemplo, diz que quem quebrou o vaso foi a 'bola', e não quem a chutou... que quem comeu o bolo foi o 'gatinho', e não ela que era a única capaz de abrir a porta da geladeira naquele momento e local.
      A coisa começa a tomar outra figura quando crescemos, ganhamos a capacidade de saber bem quem somos, conhecemos nossos defeitos mas passamos a justificá-los... esta 'racionalização' de nossos próprios defeitos (comum e diretamente proporcional à capacidade intelectual do indivíduo) é capaz de fazer grandes estragos, principalmente na vida das pessoas que estão em volta do 'projetor'. Dona da verdade, para esta pessoa tudo se justifica porque ela 'está certa', e qualquer um que discorde ou tenha outra opinião estará errado. Os demais passam, então, a receber toda a carga de projeção deste indivíduo, pela sua incapacidade de evoluir reconhecendo suas próprias carências e defeitos.
      Vamos ser mais claros citando exemplos: imagine alguém que passe boa parte de seu tempo de trabalho no computador fazendo outra coisa que não trabalhar (navegando na internet, no facebook, fazendo atividades alheias ao seu trabalho), enquanto seus colegas de trabalho simplesmente se esgotam com enorme quantidade de serviço. É impossível que o inconsciente desta pessoa não a cobre, não transmita-lhe culpa de sua atitude incorreta... mas a reação do ego infantil deste indivíduo será a contrária da que realmente se esperaria de um verdadeiro adulto: ela adotará um discurso e uma atitude de que trabalha mais do que os outros, que estes deveriam receber mais carga de trabalho pois sua situação, em sua visão, seria injusta... um contrassenso, não é? Sim, mas é isto que ocorrerá: a pessoa que projeta o faz lançando nos outros suas próprias falhas...e não para por aí.
       Pense em alguém que ajude esta pessoa com carência egoica... este(a) será uma tela de projeção para os piores defeitos do projetor. E é aí que chegamos ao tema da ingratidão: pessoas altamente projetivas (portadoras de um ego mal formado, infantil) agem com o que seria caracterizado como 'ingratidão': ao mesmo tempo em que você age com profissionalismo, seriedade e honestidade, esta pessoa tentará lhe identificar como preguiçoso, desonesto, mentiroso, infantil... exatamente as próprias características que lhe pertencem.
      A culpa, a vergonha, a inferioridade, a incapacidade, e todos os demais maus sentimentos que elas sentem são insuportáveis para seu pequeno e mal formado ego, sendo, portanto, lançados no inconsciente. Lá, esses conteúdos só tem duas alternativas: atacar a si próprio(a) (o pior caminho, transformar-se em uma doença ao somatizar-se, em uma neurose profunda ou em uma psicose nos piores casos) ou lançá-los na direção de quem estiver mais próximo e suscetível (geralmente pessoas com características contrárias aos seus defeitos, e às quais, no fundo, invejam, ou no mínimo desejariam ser iguais). O último é o caminho mais fácil, mais natural, o mais seguido pelas pessoas.
     É aí que nascem as grandes injustiças nos ambientes de trabalho, nas salas escolares, na vida social no geral. Quanto maior o cargo do projetor, maior sua capacidade de fazer besteira e cometer grandes injustiças na vida das demais pessoas, por conta de sua própria inferioridade de maturidade psicológica, sua falha no desenvolvimento egoico. E infelizmente, ainda não temos muitos meios para nos defendermos deste tipo de 'doente'.
     O máximo que podemos fazer, quando somos obrigados a estar em ambientes assim, é ficarmos calados e nos afastarmos (quando for possível). Qualquer coisa que tentar dialogar com alguém projetando sobre você seus próprios defeitos é conseguir fornecer mais material para queimar no 'fogo' de sua projeção. Lembre-se: o que ela está vendo em você está na cabeça dela, não em você; você não conseguirá mudar a imagem que este tipo de pessoa tem de você até que ela procure um profissional de psicologia para tratar sua falha de desenvolvimento psicológico.
   É lamentável quando vemos pessoas altamente instruídas e incapazes de reconhecer suas próprias falhas, seus próprios deslizes. Costumamos vê-las apresentando um discurso totalmente alheio às suas próprias ações, e se você tentar confrontá-la com suas próprias ações, provavelmente ela se tornará irascível e despejará contra você toda uma série de insultos e ironias, se não passar para um ataque físico: a pior coisa que um 'projetor' quer à sua frente é ser confrontado com a realidade: sua própria realidade (a de uma criança fragilizada e birrenta, no corpo de um adulto). (...)

Texto adaptado: http://www.psicologia.med.br/2015/04/projecaopsicologica-e-ingratidao_1.html


Em relação ao texto, julgue, como VERDADEIRO ou FALSO, o item a seguir

Por se tratar de uma crônica, predomina na estrutura do gênero jornalístico, a tipologia dissertativa/argumentativa. Nela, o autor do texto expõe sua opinião crítica de acordo com fatos reais do cotidiano. Além de procurar estabelecer proximidade dialogando com o interlocutor. Também faz uso da ironia e do sarcasmo, recursos frequentemente usados como instrumento nesse tipo de gênero.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: ERRADO

    ? Não temos uma crônica (=texto narrativo) e sim um texto informativo, um texto dissertativo-argumentativo.

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • essência da crônica é:

  • @Arthur Carvalho,

    Não te entendi, pois no texto temos várias passagens sobre o cotidiano. Eu dei como errada por causa do "Também faz uso da ironia e do sarcasmo", já que não achei isso no texto.

    abs

  • Você não precisa nem ler o texto o próprio enunciado da questão já a torna incorreta.

    Primeiro que cronica são textos de curta extensão que relata o cotidiano, segundo que a tipologia dissertativa/argumentativa objetiva persuadir e convencer o leitor a concordar com a ideia defendida, e nesse tipo de texto apresentado não faz uso da  ironia e do sarcasmo e sim defender uma tese.

  • A questão é sobre gêneros textuais e quer que analisemos a seguinte afirmação em relação ao texto: "por se tratar de uma crônica, predomina na estrutura do gênero jornalístico, a tipologia dissertativa/argumentativa. Nela, o autor do texto expõe sua opinião crítica de acordo com fatos reais do cotidiano. Além de procurar estabelecer proximidade dialogando com o interlocutor. Também faz uso da ironia e do sarcasmo, recursos frequentemente usados como instrumento nesse tipo de gênero."  Vejamos:

    A questão traz o conceito de crônica, um tipo de texto narrativo curto e de fácil compreensão, que possui uma linguagem despojada e simples, com humor crítico, irônico e sarcástico e que narra situações do cotidiano. No entanto, o texto apresentado na questão não é uma crônica, mas, sim, um texto dissertativo/argumentativo, um tipo textual que consiste em defender uma ideia por meio de argumentos e explicações.

    Gabarito: ERRADO

  • Por se tratar de uma crônica, predomina na estrutura do gênero jornalístico, a tipologia dissertativa/argumentativa....

    ERRO DA QUESTÃO: o que predomina a estrutura do gênero jornalistico é a EXPOSITIVA!!

  • Parei de ler o enunciado em "crônica"... O texto é, claramente, dissertativo.

  • . O texto dissertativo se divide em:

    - Dissertativo Argumentativo: Nessa modalidade, a intenção é persuadir o leitor, convencê-lo de sua tese (ideia central) a partir de coerente argumentação, exemplos, fatos.

     - Dissertativo Expositivo: É a exposição de ideias, teorias, conceitos sem necessariamente tentar convencer o leitor. No texto expositivo, o objetivo central do locutor (emissor) é explanar sobre determinado assunto, a partir de recursos como a conceituação, a definição, a descrição, a comparação, a informação e enumeração.

    . Crônica: É um gênero textual curto escrito em prosa, geralmente produzido para meios de comunicação, por exemplo, jornais, revistas, etc. A crônica dissertativa pode ser escrita em primeira ou terceira pessoa do plural. Ela traz à tona o ponto de vista do autor sobre o assunto em foco.

    -> A questão misturou crônica com dissertativo-argumentativo. Há, na questão, um texto dissertativo-argumentativo.

    Gab. Errado.

  • . Crônica: É um gênero textual curto escrito em prosa, geralmente produzido para meios de comunicação, por exemplo, jornais, revistas, etc. A crônica dissertativa pode ser escrita em primeira ou terceira pessoa do plural. Ela traz à tona o ponto de vista do autor sobre o assunto em foco.