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ID
3380431
Banca
FEPESE
Órgão
CELESC
Ano
2018
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Como as faces de Janus


Vivemos no mundo das redes, dos computadores portáteis, da telefonia móvel, na era da informação ubíqua, da notícia instantânea, global, planetária, que percorre – num átimo– as veias e artérias de fibra óptica do planeta. Nesse contexto, a cibercultura tem um papel ambiguamente universal: ela potencializa aquilo que somos, sem fazer exceções acerca de valores morais, políticos e ideológicos. Ela, como as demais projeções de nossa própria cognição, enfim, de nossa consciência e inteligência além de nossos próprios corpos biológicos, exprime com precisão aquilo que realmente somos. Na internet, por exemplo, encontra- -se absolutamente tudo, em termos de conteúdos. O que vai diferenciar a experiência é justamente o usuário e sua cognição particular, que se estende além dele através dessas redes informacionais. Num só termo, trata-se de extensões de nossa própria mente plasmadas nos objetos técnicos que concebemos e usamos. Se mergulho no ciberespaço para pesquisar algo importante, que diz respeito à minha pesquisa da crítica da tecnologia, e já tenho em mente o que procuro, minha experiência será uma, e dirá respeito a uma intenção que já trago comigo e que estendo aos tais objetos, mas se só intuo a minha busca, se saio a navegar de link em link, minha experiência será completamente diferente, e poderei chegar a lugares inimaginados, ou, também, a lugar algum, dependendo do que sejam as minhas próprias expectativas.

O que queremos dizer é que não há nada nas tecnologias que não seja absolutamente humano. Todos os conteúdos foram programados, postados e produzidos por seres humanos, e é por isso que a cibercultura e o ciberespaço servem também a terroristas fundamentalistas, pois são como espelhos límpidos da nossa própria face no mundo, de nossas ações e intenções, sejam elas pacifistas, terroristas, ecologistas, capitalistas e assim por diante. Como as duas faces de Janus, a cibercultura e o ciberespaço trazem para nós que os utilizamos potencializações e reciprocidades daquilo que de fato já somos, e se por um lado podem ser usados como ferramentas educacionais, pedagógicas, humanitárias, por exemplo, de pesquisa escolar, acadêmica e científica, objetivando uma sociedade melhor, mais esclarecida e igualitária, por outro podem, também, dar suporte a fins e intenções totalmente diversos, como ensinar a fazer bombas, espalhar pelo mundo ideologias extremistas e fundamentalistas infames, coordenar ataques terroristas aqui ou alhures e assim por diante. É como se Janus não tivesse apenas duas, mas sim infindáveis faces e expressões, assim como a humanidade tem, ou seja, não foi a internet que começou e provocou o terrorismo, mas sim o contrário: há terrorismo, intolerância e desumanidade no mundo, nas culturas, nas mentes e corações humanos, por isso também se refletem nesse grande espelho que a internet de fato é.

Nota: Janus é um deus romano cuja imagem está associada a mudanças e transições. No texto, a referência a Janus indica ambiguidade.

QUARESMA, A. Ruptura e tragédia social. Sociologia. ed. 72. 2017. p. 52; 55-57.[Adaptado]

Assinale a alternativa correta, de acordo com o texto.

Alternativas
Comentários
  • Resposta: alternativa E

    a) ERRADA - O autor apresenta uma visão dicotômica, já que apresenta os dois lados do ciberespaço e cibercultura, porém não apresenta visão monológica, pois ele não se utiliza de um modo restritivo de pensar.

    b) ERRADA - Efetivamente o autor lança mão da linguagem modalizada, no entanto ele não relativiza o papel dos seres humanos, ao contrário, reforça que o que há na tecnologia é absolutamente humano, como no treco: "não há nada nas tecnologias que não seja absolutamente humano".

    c) ERRADA - O autor não coloca a relação do homem com as tecnologias como conflituosa.

    d) ERRADA - O autor não utiliza a figura mitológica para contrapor a cibercultura e o ciberespaço, ao contrário ele utiliza esta figura para explicar as duas faces que elas apresentam para nós: "podem ser usados como ferramentas educacionais, pedagógicas, humanitárias, por exemplo, de pesquisa escolar, acadêmica e científica, objetivando uma sociedade melhor, mais esclarecida e igualitária, por outro podem, também, dar suporte a fins e intenções totalmente diversos, como ensinar a fazer bombas, espalhar pelo mundo ideologias extremistas e fundamentalistas infames, coordenar ataques terroristas aqui ou alhures e assim por diante."